segunda-feira, 8 de abril de 2019

COLABORAÇÃO DO TIAGO SALGUEIRO


                                       QUINTA DO GENERAL
Foi contruída por D. João Diogo de Ataíde, 1º Conde de Alva, governador da província entre 1724-1727, por compra a Brites Coelho, em 1724, do colmeal do sítio do Misaral e da folha da coutada da Cruz do Tojal, integrada nas courelas dos bens foreiros da Câmara, para fins de vilegiatura[1].
O 1º Conde de Alva foi filho segundo do 6º Conde de Atalaia, D. João Manuel de Noronha e de D. Francisca Leonor de Mendonça, filha dos 1ºs Condes da Ribeira Grande. Foi um ilustre militar e conselheiro de Guerra do Rei D. João V, alcançando, com distinção, o posto de tenente-general, convertendo-se num dos mais competentes oficiais da Guerra da Sucessão em Espanha, onde acompanhou o marquês de Minas na tomada de Madrid em 1706.
Foi casado com D. Constança Luísa Monteiro Paim[2]. Diziam os antigos no século XIX que o casal tivera um filho, que morrera afogado no lago da quinta. D. João possuiu ainda o morgado e senhorio dos Reguengos da Maia e de Agrela e a Comenda de Santa Maria de Campanhã. Morreu a 11 de Abril de 1750.
Destacam-se alguns acontecimentos ligados a este espaço.
No dia 17 de Maio de 1727, é convocado o povo calipolense para se deferir uma petição do proprietário D. João Diogo, para se lhe aforar uma quarta parte da courela na coutada da Cruz do Tojal, que partia com colmeal do suplicante e herdades. Por ficar de ponta nesse pedaço de terra, anuem a que se defira, pondo-lhe o foro anual de 500 réis. Daqui resultou a constituição da Quinta do General, que está na coutada perto da Ribeira de Borba[3].
Em 1794, a Quinta do General foi adquirida por Estevão Duarte Cordeiro[4] a Tomé Antunes Moreira. Em 1882, segundo o recenseamento efetuado, viviam na Quinta do General três pessoas, provavelmente da mesma família[5]. Esta zona, apesar de insalubre, era conhecida pelas excelentes laranjas que produzia.
Está situada na meia encosta do aprazível vale que bordeja ao norte a estrada para São Romão, na distância aproximada de 3 quilómetros de Vila Viçosa.
Possui um excelente pomar e vestígios de um jardim de flores de espinho. A casa rural tem uma silhueta interessante pelos seus telhados e empenas assimétricas, terraço eirado e ruas de latadas. Possui ainda um tanque de lavagem e fonte de pórtico de alvenaria artística, escaiolada, com frontão recortado de tabela axial cega e arcada de pilastras e meia cúpula enconchada, obra característica de arquitetura civil do reinado de D. João V. Conserva bancos de repouso, pilaretes para as latadas e pavimento lajeado de xisto.
Nos terrenos da quinta, que até meados dos anos 80 pertenceu ao lavrador Inácio Pombeiro, recolhida da profanada igreja do Convento de São Paulo e da capela privativa da banda do Evangelho, consagrada à Santíssima Trindade, encontra-se, já bastante danificada por ter sido utilizada em qualquer engenho, a lauda sepulcral do tesoureiro-mor da Capela Ducal de Bragança, P. Dr. Manuel Pessoa, com a seguinte legenda de cronograma truncado:
S.ªE CAPELLA DO D.tor P.e M.el
PESSOA THEZOUR.º MOR Q
FOI DA CAPELLA DO ESTADO
DE BRAG.ca FAL.º EM 25 DE IAN.º16.S
No ano de 1992/3, a propriedade foi adquirida pela D. Filipa Lobato e pelo Pintor/Escultor Espiga Pinto, artista plástico natural de Vila Viçosa, que promoveram uma requalificação do espaço edificado e das estruturas anexas.
Em 1997 Dick e Elisabeth Bleyerveld adquirem a Quinta, que passa a designar-se Quinta do Colmeal, adaptando-a a unidade de turismo rural. Nessa data, o imóvel estava bastante degradado e passou por uma renovação profunda, mantendo as suas formas originais, mas não esquecendo o conforto exigido nos tempos atuais.
[1] Espaço utilizado para descanso, sobretudo no campo
[2] Filha herdeira de Rui Monteiro Paim, Secretário de El-Rei D. Pedro II
[3] ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
[4] Nasceu em Vila Viçosa em 1734. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, tendo exercido advocacia em Vila Viçosa, onde sempre viveu. Foi recebedor do Almoxarifado e posteriormente, foi Administrador do Almoxarifado desta localidade em 1793.
[5] ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
 Bibliografia Consultada:
ESPANCA, Padre Joaquim José da Rocha, Memórias de Vila Viçosa, 36 cads., Câmara Municipal de Vila Viçosa, Vila Viçosa, 1983 – 1992.
ESPANCA, Túlio, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.


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