terça-feira, 3 de março de 2020

UMA REFERÊNCIA AO ALANDROAL

Existe uma profunda ligação entre o  Luís Guerra (Editor e Revisor da Editora Assírio e Alvim) e o nosso colaborador António Berbem.
Ambos nutrem pelo Alandroal uma assinalável admiração, aliás bem patente em várias cronicas com assinatura deste último.
Num dos últimos trabalhos levados a efeito pelo L.Guerra, revisão dos livros de Ruben A. (que escreveu « que, em Portugal, o difícil era ver o obvio», ( Vide, o caso dos sítios e sucessivos nomes de Aeroportos por construir). ), teve L. Guerra a amabilidade de enviar ao A. Berbem a seguinte passagem, que como se pode verificar  o Alandroal anda pelas mais diversas partes. E até por onde não se espera.
Acrescente-se ainda que Ruben A. teve uma grande ligação a Estremoz através do seu Monte dos Pensamentos, assim se chamava.

Confirme:
«O meu desejo de emigrar dilatava dia a dia os instintos. 
A guerra aproximara a geografia. 
Tudo estava mais perto, os lugares conheciam-se de acumular drama — Dachau, Hiroxima, Auschwitz, lugares à mão, no útero da tragédia, centros universais do mistério que o Homem é um mistério, o mapa trazia nomes que passaram a ser triviais, nomes traiçoeiros — Pearl Harbour, Estalinegrado, Tobruque, El-Alamein, pão com manteiga. 
A guerra esquecera Portugal, onde ficava o Soajo, Alandroal, Belmonte, Murça, Quiaios, Montalegre? Um país que os portugueses não conheciam, um país de que os portugueses gostam apenas, causa engulhos palmilhar o tu cá tu lá do que é nosso. O remoto aliava-se a um instinto primitivo, as nossas mortes eram os mortos de anúncio nos jornais, com cruz e a família toda ungida de Santíssimos Sacramentos, uma morte com missa do sétimo dia, caudal de convidados, cortejo a sair do templo, morte sem significado do que foi a vida, efémero de pedra, sinónimo sem perguntar, cala a boca urso. Matava-se no Sabugal por uma questão de águas que um vizinho entrara a pedir um balde sem licença, matava-se por um desaguisado de velha rixa entre dois irmãos, e o fatal poço da vida portuguesa ia escondendo os cadáveres atirados lá para dentro depois das carótidas deixarem o flagrante delito. Em Unhais da Serra, na Amareleja, perto de Vila Pouca de Aguiar, assassinava-se da mesma maneira, um feitor puxara da navalha para abrir os bofes de um jornaleiro que comera um cacho de uvas de um patrão que não visitava as terras há mais de vinte anos, e não sabia que a quinta ficava tão longe do Porto. Fora lá uma vez e nem saíra do carro, tal o nojo que a paisagem lhe fazia. […]»  

1 comentário:

Anónimo disse...




OBS.


Tenho de acrescentar, no Al tejo, que um escritor da envergadura de Ruben

A. se tenha aqui lembrado o Alandroal, é mais do que um Sinal que outros

escritores também o fizeram. Lembro,por exemplo, Miguel Torga, com

Juromenha. Dito assim e como dizia J. SAramago " se puderes vê, Vê e se

pudermos ir reparando reparemos". Isto,antes que o deserto nos afogue e

nos deixe ao desprazer das nossas inclemências locais.

Assim venha a ser.


Saudações


ANBerbem