Os
argumentos utilizados tem a ver com o facto de, em Portugal, muitas pessoas
passarem, desde algum tempo a esta parte, por privações e dificuldades. Não há
dúvida de que a situação é difícil, complexa e inquietante. As recentes
alterações na conjuntura económica têm tido como consequência a acumulação de
obstáculos para a generalidade dos portugueses.
Mas,
falando da realidade que conheço, penso que a gravidade da situação em nada se
assemelha ao que se está a verificar no Médio Oriente e no continente americano.
Se bem que os níveis de pobreza sejam elevados, fenómenos como os que temos
assistido nos meios de comunicação, nomeadamente a fuga massiva de populações,
não se verificam no território nacional.
Muitos
de nós têm procurado noutros países uma vida melhor, o que é compreensível,
dadas as dificuldades a que temos assistido. Mas, felizmente, os portugueses
não têm que fugir da guerra, fome, da opressão, da perseguição e da
brutalidade.
Respeitando
a opinião de todos, não consigo compreender como se pode defender a ideia de
que estes refugiados não precisam de ajuda. Terão ficado os mais críticos
indiferentes à imagem da criança que morreu na praia da Turquia?! Ou às
fotografias que nos chegam da Síria?! O que dizer sobre aqueles que cruzam
agora o continente americano?
Penso
que a tradição portuguesa (e europeia), vai no sentido de prestar apoio aos
mais necessitados. E, numa situação de emergência, como é o caso, considero que
é de todo legítimo que haja uma ação altruísta no sentido de ajudar a aliviar a
dor destas famílias.
Pensar
que todos são terroristas que se dirigem para o espaço europeu, nomeadamente
para Portugal, com o sonho utópico de fazer renascer o Al-Andaluz, parece-me
uma ideia um pouco ousada. Muitos haverá com más intenções. Não nego isso. Cabe
às autoridades europeias, dentro das possibilidades, fazer a identificação e o
controlo desses potenciais transgressores. Não será tarefa fácil, mas também é
essa a nossa obrigação. Claro que terá que haver critérios de admissão no
espaço europeu, à semelhança do que está a ser feito por outros países.
Com
cidadão, não fico indiferente a este triste fenómeno, pois nem sequer sou capaz
de imaginar o sofrimento dos pais que muitas vezes assistem, impotentes, à
morte dos seus filhos. Não posso, de acordo com a minha consciência, permanecer
imune a esta situação, sem pelo menos, tentar aliviar, ainda que de forma quase
insignificante, a dor dos que precisam de um pouco de caridade. Não me revejo
nos discursos fundamentalistas, quer de um lado, quer de outro. Nem defendo o
espírito de “Guerra Santa”, ou cruzada contra os infiéis. Nem me parece que
todos os refugiados venham com más intenções para a Europa.
A
tradição histórica de tolerância, compreensão e respeito pela diferença deve
continuar a ser uma virtude do povo português. Não me parece correto impor
limites à causa de ajuda ao próximo.
Penso
que cada vez mais será necessário desenvolver esforços, juntamente com todas as
instituições e com a sociedade civil, para acolher algumas destas famílias. Considero
que seria uma atitude digna se conseguíssemos criar condições para receber e
integrar algumas destas pessoas que, apesar de serem de uma religião diferente,
partilham connosco algo intrínseco: a humanidade. Parte dela inevitavelmente
perdida neste longo caminho, à procura de uma vida melhor…
Sejamos
solidários, com os de dentro e com os que procuram o nosso auxílio. Ouçamos as
palavras que apelam à elevação de valores no que aos refugiados diz respeito.
Não fiquemos indiferentes a estes tristes episódios, onde se conjugam o medo,
intolerância e o sofrimento.
Tiago Salgueiro
In: Tribuna do Alentejo
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