quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

DUQUES E CENAS - Pelo Prof. João Luís Nabo

                              Hospitais públicos? Sim, obrigado
Os tempos estão diferentes, sem dúvida. Tenho uma relação de amizade com uma jovem enfermeira, amiga cá de casa, com quem falamos sobre as suas práticas profissionais. Quando pensava que as suas narrativas poderiam não ser bem assim quando vividas no local de trabalho e que ainda poderia ali haver muito humanismo aprendido nos livros e não na prática, os deuses decidiram que eu teria de ir ver por mim o que aquela jovem, recém-licenciada, a fazer uns trabalhos antes de abraçar definitivamente a carreira, me tinha transmitido.
Ao seu encaminhado para uma urgência do Hospital de Évora, pensei o que é hábito pensar-se e o que a grande maioria pensa nestas circunstâncias: "Estou feito!”
Mas uma equipa de jovens médicas, de ainda mais jovens enfermeiras e de auxiliares cuidaram do seu paciente com um gigantesco profissionalismo e um desvelo que eu julgava fora do comum. Mas não. Numa troca de impressões com pessoas amigas que viveram situações do mesmo tipo, concluímos que esta nova geração de profissionais começou a ver o doente com outros olhos. Não é por acaso que também o Juramento de Hipócrates foi alterado. Uma coisa levou a outra ou...vice-versa.
Regressado a casa, quase restabelecido, continuo a acreditar que não terei sido a honrosa excepção a essa assustadora regra, produto do senso comum, e que dizia, até há bem pouco tempo: “O doente que entrar num hospital público em Portugal... está feito ao bife.”

João Luís Nabo, in "O Montemorense", Novembro 2017

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