“O Azedo
para todos os Gostos”
i)
O Azedo, um patrão
de si mesmo
Começamos por dizer, sorridentes, que a alcunha de
“Azedo” posta ao José Manuel S.B. Madeira, é muito própria das amizades de
infâncias alentejanas e das grandes amizades de uma mesma geração. Todos temos
uma, não é?...
Um amigo de quem sempre gostámos muito e do qual
resolvemos, hoje, traçar-lhe, no Al tejo, “um breve retrato” enquanto for este
o nosso tempo, de viver e de rir, ou de nos (re) encontrarmos na nossa terra,
ainda envolvidos numa fraterna e já longa amizade.
Pois é. Vou lembrar-te que por dentro e por fora e
entre o que é visto, dás a ver-nos e o que se vê, à distância, foste sempre um
homem sem medo de ninguém. Muito menos da M.H./EDLS.
Com uns genes especiais para “os negócios puros e
duros”, à Pablo Escobar, e para a arte de vender e comprar o que quer que seja
e onde quer que fosse, de preferência, em voz alta, bem podíamos aplicar-te
aquela distinção válida também em ti: “para o Azedo, nem tudo tem um preço mas
tudo tem o seu valor e o que mais valor tem é precisamente aquilo que não tem
preço”.
Ora bem.
Como a tarefa de saber vender e comprar na hora não é
fácil, o Azedo, teve sempre, uma maneira muito própria de fazer comércio: nunca
engana o parceiro de negócios completamente; engana-os apenas o necessário para
voltarem a ser amigos. Assim era o pai Amílcar.
Quem já o viu como eu vi, na Feira semanal da
Malveira, a vender e a comprar tudo o que está à mão, saberá do que estou a
falar. Garanto-vos que é um espetáculo: a rapidez, o ar aberto e despachado com
que começava a vender pintos e galinhas e acabava a comprar sucata para, no
momento imediato, já estar a vender novamente patos e melões… era um espanto.
É por isso que confirmamos que é “um patrão de si
mesmo com a sua arte de vender”. Sem pausas, sem preconceitos, sem superstições
desnecessárias e sobretudo sem percas de tempo. É um “regalo social” senti-lo
como patrão de si mesmo.
ii)
O Azedo, 1
Vendedor Ilimitado sem tempo a perder
Ver o Azedo a vender é, como já avisei, um gozo do
caraças. Sinceramente aqui o descrevo: grita para um lado, levanta a voz para o
outro, desafia o vendedor do lado ora a vender mais barato ora mais caro
consoante a cara do freguês desorientando facilmente… os compradores O que
pretende é vender sempre mais sem contudo se mostrar aborrecido se as coisas e
o dia não lhe estava a correr bem.
Engana com matreira sinceridade, tem um certo carisma,
é experiente e topa à distância quem julga que o quer enganar. Normalmente era
o que acabava enganado!
E mais. Enquanto vendedor sem tempo a perder, tem a
ousadia dos preços certos nos momentos de venda incertos, inspira uma humildade
e, entretanto, vai fazendo da sua vocação de comerciante especial um exercício
de simplicidade útil que é um prazer ver em acção.
Na Malveira, cada vez que o ouvia chamar-me por “Oh
Dr. Quinze” (de resto, eu tremia com esta bela síntese, porque ficavam a olhar
para mim…) eu sabia que uma ou duas horas depois acabada a refrega dura das
vendas e compras do dia, ficava banzado com o cacau que fazia.
Banzado ficava também com o lugar que os outros
vendedores lhe reservavam na Feira da Malveira. Um lugar próprio de desatinadas
e infinitas aldrabices onde o Azedo tinha, aliás, guardado um posto de
excelência. Agora se duvidam destes elogios e do que estou aqui a dizer-vos, reparem
só que o Zé Manel era admirado e visto
como um vendedor especial. Daqueles que podem ser vendedores em qualquer parte
do mundo: em Marrocos, na Líbia ou em qualquer das três Américas.
Sim, é uma verdade pura e internacionalizado isto que
estou a afirmar-vos dele!
iii)
O Azedo, 1
Cidadão em qualquer parte do mundo
Por estranho que possa parecer-vos, vou aqui deixar
escrito o testemunho seguinte: - embora avesso aos estudos e em especial ao
“politicamente correcto”, o Zé Manel, reuniu sempre condições de inteligência prática
e de muita esperteza sadia bastante genuínas e motivadoras.
Dou um exemplo: era capaz de “negociar comigo” a
protecção fisica que me dispensava em troca de eu lhe fazer e passar “as
traduções de francês” no Colégio onde andámos e fomos companheiros de carteira.
Além disso, na sua postura de cidadão contestatário,
não conheci nem conheço até hoje um cidadão com ideias tão claras e frases
curtas tão enérgicas sobre as pessoas que não lhe agradavam ou sobre as
situações incómodas que lhe desagradavam.
Ía e vai directo aos Palavrões, usa-os e qualifica
certos factos sem pejo nenhum, sem remorsos falsos, e por vezes sem nenhuma
piedade. Manso é que não é!
Para ele os políticos são o que são: (a) uns
aldrabões; (b) a Segurança Social nem chega a ser uma insegurança, é antes uma
merd@ que o P.P.Coelho decidiu agora roubar e infantilizar; (c) votar não vota;
(d) ver televisão não vê; (e) perder tempo com a bola nem pensar; e, por fim,
jamais gastou tempo com grandes ou pequenas divagações, etc.
Digamos que é “um ser deste e de outros mundos” a quem
fazer certas perguntas se torna um exercício deveras arriscado e de resposta imprevisível.
Exemplo: Zé
Manel leste algum livro do Eça e do Camilo e acreditas em Deus, pergunto-lhe eu?
Não, nunca na vida; Oh Azedo, costumas ler jornais? Não perco tempo com esses
pantomineiros. E assim sucessivamente. Que eu saiba apenas condescendeu com o
uso dos telemóveis, carros velhos e carripanas todas a darem para o ilegal em
termos de inspecção e impostos, claro.
E, no entanto, se dizemos que o Zé Manel é um inteiro
cidadão do mundo fazemo-lo nós, porquê?...
Fazemo-lo porque o Azedo não precisa de dizer que é
português do Landroal para se perceber que venderia bem em Marrocos; fazemo-lo
porque o Azedo não precisa de ter os impostos em dia para ser um cidadão que é
livre de não os pagar e vai usando essa mesma liberdade.
Em síntese, já nasceu livre e livre se sente do« lixo
civilizado» que, de facto, só faz daqueles que, por vezes, se julgam mais cidadãos do que ele, meros objectos de uso
das sociedades e dos governos actuais. O Azedo, diria eu, é um cidadão arejado,
desafogado, despoluído, Ambientalista!
Neste sentido, podemos dizer que o Azedo é «um cidadão
do mundo» em muito bom estado de conservação. Esteja no Alandroal, esteja onde
estiver nas suas estradas da vida, é uma “ave de um bando de gaivotas sem poiso
certo ” onde não entra quem quer. E só voa assim quem sabe que com ele vai ter
muito gozo no voo.
Ao procurar viver a vida da maneira que o faz e sempre
fez: sem fantasmas, sem visões inúteis, sem paixões assombradas, com tantas
diabruras à mistura, dá-nos conta dos seu valor e muita curiosidade por aquilo
que sabe que é. Nunca deixando de o ser.
Chega a dar a impressão que é assim, a modos que, “um
quase fora de lei” com a pistola à cinta, tapada das caraças arriba.
Assim seja Azedo. E se, por acaso leres isto, Zé
Manel, acredita que há, no Alandroal, quem te admira muito. Toma aí nota,
caraças, que eu sou um deles. Mas há mais gente a pensar o mesmo!
Melhores Saudações
António Neves Berbem
(11/3/2015)
4 comentários:
O Azedo é amigo do seu amigo.è capaz de despir a camisa para dar ao amigo.
Já comi e dormi na sua casa,tal como ele na minha.De quando em quando telefona se eu o não fizer só para saber da saúde dos de cá.Claro que à mistura vem uma série de desabafos dos que lhe fazem,ou tentam fazer,mal.
Temos peripécias juntos que não lembram ao diabo.Desde o irmos para Andorra num carro que tinha sido expulso de Portugal e que não podia entrar em França por ter matricula desse pais,mas não ter o seguro pago.De irmos para Portalegre para as festas dos aventais,etc,etc.
Se neste mundo houvesse mais pessoas como o Azedo seria muito melhor
A mim chama-me o "Plínio", vá lá saber-se porquê.
Na nossa juventude íamos muitas vezes armar ao tordos. Cada loisa seu tordo.
Uma vez armei-as à tarde na tapada do Neris e de manhã quando fui por elas nem uma. O Frade (que já não está entre nós) levantou-se mais cedo e limpou-as todas. Quando me vinha embora dou com uma data delas, na tapada do Zé Cuco. Foi a minha vez de as limpar todas, ainda por cima com os pássaros.
Á tarde no poial da Fonte oiço o Azedo a queixar-se: "Se eu sei quem foi o cabrão que me limpou as armadilhas, nem a alma se lhe aproveita!».
Só passados muitos anos e que o Azedo , soube que fui eu...
Um abraço para ele
Chico Manel
Como neto mais velho (éramos três somos dois) de José Ferandes Salgado, o velho Azedo, alcunha que o José Manuel Salgado B Madeira dele herdou, forçozamente teria que deixar aqui um pequeno apontamento.
Quando comecei a ter algum préstimo e a confiança dos meus pais, ia todas as segundas-feiras a Vila Viçosa, à Sofal carregar farinha para a padaria. Partia à tardinha de Terena e ia dormir ao monte dos meus avós. ao Alandroal
O meu primo lá aparecia e lã jantava, vindo comigo, que não perdia um cinema, para casa.
Desenfiava-se da casa dos pais, nada dizia e quando chegávamos o meu tio Amilcar com a anuência da minha tia Elisa descarregava-lhe uma tareia de tábua de caixote de sabão. Sucedeu isto algumas vezes.
Eu devia ter catorze, quinze anos e este ato serviu-me de reflexão.
Ora
se o rapaz, aqui o Azedo, estava em casa dos avós, no monte, se ia comigo, apenas por não ter pedido aos pais, haveria razão para aqueles maus tratos?
Deixem-me lembrar o saudoso Rato, Antonio J Salgado, que mais tarde já no tempo de colégio, também aparecia no monte para irmos ao cinema.
Um abraço de agradecimento ao Tozé por esta oportunidade recordativa. Outro ao F. Manuel por a ter permitido.
Helder
Parabéns ao nosso amigo ANB pelo retrato feito ao "Azedo". Apeteceu-me acrescentar que era o único rapaz na época que entrava e saía em todas as casas onde havia miúdas. Sempre visitas muito rápidas e faço questão de salientar que as mães não se opunham.
Vá lá saber-se o porquê ...
Enviar um comentário