quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

António Berbem, «Pedro Nunes, Cientista de Maior Tamanho» in ANAIS, Revista da Universidade Autónoma de Lisboa.

“Pedro Nunes

               Cientista de Maior Tamanho”
Ilações Finais
1)    – Não temos dúvidas em afirmar que Pedro Nunes se tornou uma das presenças notáveis do mundo mental do Renascimento. Construtor e inovador por excelência das ciências ditas puras do século XVI em diante, prolongando-se o impacto das suas pesquisas e descobertas cientificas pelos séculos seguintes, até à actualidade.
2)   - Se existiram e persistem, por outro lado imagens excessivamente negativas da história científica portuguesa, uma coisa é certa: a análise e estudo das obras de Pedro Nunes mostra-nos que as suas investigações foram tão importantes quanto o foram as obras de Ptolomeu e de Copérnico, de Garcia da Orta ou de um D. João de Castro, seguidor de Pedro Nunes e praticante de uma espécie nova de linguagem, visível nos Roteiros, e um adepto de novas estruturas culturais para o seu tempo. Diga-se, em desapreço visível dos métodos escolásticos e humanistas.
3)   – Sem gravuras da época que o representassem mas com vários artistas recriando-lhe um rosto,por exemplo, em selos, notas, moedas e estátuas, aceitemos pois as imagens de marca do “génio organizado” de Pedro Nunes quando para alem de concluir que, com os portugueses, “novas terras, novos mares e o que mais é, novo céu e novas estrelas” foram descobertas, foi-lhe também claramente manifesto “é que estes descobrimentos de costas, ilhas e terras firmes não se fizeram indo a acertar, mas partiram os nossos mercantes mui ensinados e providos de instrumentos e regras de astrologia e geometria”(Tratado em Defesam da Carta de Marear)
4)   – Finalmente vamos dizer que, se podemos atribuir ao cientista português a qualidade da escrita, a seriedade e o arrojo nas suas investigações metódicas e a criação principal do Nónio, foi também intérprete constante das dificuldades e desafios colocados ao Humanismo Universal dos Portugueses por comparação, em superação e aprofundamento do modelo e métodos da Antiguidade Classica.

Em aberta oposição,diga-se, à escolástica medieval e professando a libertação de qualquer transcendência. Seja, tal como apontou Jaime Cortesão, devido ao desenvolvimento da investigação e do espirito critico e à valorização do humano e do terreno.
Seja ainda defendendo a idéia de que o pensamento pode e devia poder  desenvolver-se fora da religião. Seja também porque, segundo afirmou o mesmo autor, na pista das experiências portuguesas os «livros de Pedro Nunes ou de Garcia da Orta representam o esforço duma inteligência superior, tentando resolver problemas novos».
Os quais,  acrescentamos, envolviam diálogo permanente com os diversos viajantes portugueses construtores da saga histórica dos Descobrimentos nos campos e problemas mais imprevisíveis e dificultosos da navegação.

Repete-se, enfim, que se passou deste mundo terreno, em Coimbra, à luz eterna do dia derradeiro de 11 de Agosto do ano de 1578.

António Neves Berbem
  (Universidade Autónoma de Lisboa/ Comunicação também apresentada no Pólo da UAL das Caldas da Rainha e em várias conferências conjuntas com o Professor Fernando Campos,autor da Casa do Pó).

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