Será por certo um sucesso e motivo de muito orgulho para nós.
AQUI LHES DEIXO OS DOIS ÚLTIMOS "APERITIVOS" DOS "CONTOS DE VILA NOVA"
O BEIJO
"(...)" D. Maria Júlia Benevides, candidata a viúva desde as 10 da manhã, levantou os olhos do terço, que rezava com fervor permanente, não se sabe se a pedir pela alma do marido, se a agradecer alguma graça concedida, olhou e viu aquilo que já esperava: uma fila de mulheres de várias idades e tamanhos que seguiam lentamente, com os filhos pelas mãos, até à urna onde jazia o aparente defunto. E, enquanto cada uma ia, à vez, espreitando a face de Januário, numa despedida derradeira, este reparou que todas tinham olhos de choro, embora ali mantivessem a compostura exigida. Os filhos e as filhas, também de vários tamanhos e idades, seguiam em silêncio, uns distraídos, outras nervosas, quase todos espantados com as velas, os véus, os cheiros, as flores e… a urna de mogno onde Januário Benevides, ouvindo e percebendo tudo o que estava a acontecer, se sentia cada vez mais impotente para exibir ao mundo a sua verdadeira condição."(...)"
"(...)" Quando o grupo liderado pelo intrépido Baltazar entrou, com passo decidido, no Largo dos Paços do Concelho, só aos empurrões se conseguia penetrar naquele tecido humano, apertado e consistente, que enchia o espaço àquela hora da manhã. Afinal, não tinha sido ele o único a dar pela falta do monumento. Mais de mil pessoas. Mil não. Duas mil. Mais de duas mil pessoas ali amontoadas, encostadas à sua irritação e impaciência, prestes a exigirem em alta voz e em coro, à boa maneira das manifestações de outrora, a presença do presidente na varanda central do salão nobre. Entretanto (...) as conversas cruzavam-se fortes, nervosas de ansiedade, à espera de uma palavra de Duarte Calabás, presidente eleito pela terceira vez e candidato a um quarto e último mandato e que tinha agora o problema mais grave de todos os problemas graves de todos os seus anos de mandato à frente da autarquia vilanovense.
Trancado no salão nobre, transformado em gabinete de crise, o experiente autarca manifestava, quer pelos traços histriónicos, quer pela voz trémula, uma apoquentação nunca antes vista. Nem quando estivera a meia dúzia de votos de perder o seu lugar para o Bastos Xavier, candidato do maior partido da oposição. "(...)"A TROCA, in Outros Contos de Vila Nova (Editorial Tágide, 2010)
NOTA DE IMPRENSA C.M.M.N.
1 comentário:
LITERATURA
Muitos Parabéns a João Luís Nabo, um livro é sempre grande motivo de orgulho e a literatura agradece o aparecimento de "Outros Contos de VILA NOVA".
Felicidades para o escritor e que tudo corra bem no lançamento de "Contos"!
Obs- Estou curioso por saber o que aconteceu à Torre, espero que o livro desvende o mistério que envolve esse segredo ficcionário.
Um abraço
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