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Eduardo Luciano - Número redondo e números de circo
Quinta, 28 Outubro 2010 08:19
Com esta, são duzentas as crónicas paridas para a DIANAFM. Duzentas semanas, que começaram por ser motivo de preocupação, e se foram transformando num prazer.
Desde Fevereiro de 2006 que tenho a oportunidade de, uma vez por semana, dizer o que entendo sobre a realidade que vou percepcionando.
Nem sempre gosto do resultado, nem sempre escrevo sobre o que me daria prazer no momento, nem sempre me apetece ser eficaz na comunicação.
Num tempo de censuras veladas e autocensuras, de manipulação grosseira da informação, de grotescas omissões de posições políticas, posso aqui afirmar que disse sempre tudo o que quis, mesmo quando o alvo era quem me punha o microfone à frente.
Nestes mais de quatro anos foram aprovados outros tantos Orçamentos de Estado. Este tema é quase irresistível para quem opina sobre a espuma dos dias.
Foram certamente orçamentos diferentes, embora com características muito parecidas, nos objectivos, na distribuição das fatias de bolo e no pedido de sacrifícios aos de sempre.
Em todos eles houve simulacro de guerra da família da social-democracia, com PS e PSD numa atitude muito parecida com aqueles lutadores que fingem a luta e dividem o cachet.
Este ano não está a fugir à regra, mas com algumas particularidades.
Desde logo nunca um governo foi tão longe no ataque aos salários, às prestações sociais, aos apoios a quem mais precisa.
Depois nunca tivemos um coro tão afinado de comentadores a exigir que se vá mais longe e a explicar-nos a inevitabilidade das medidas que, se fossem eles a mandar, seriam ainda mais duras.
Que me lembre, nunca o simulacro de desavença entre os partidos da crise foi tão bem representado.
É o agarrem-me se não eu bato-lhe, de Passos Coelho, é o socorro que eles querem acabar com o Estado Social, de Sócrates. Bem sabemos que nem Passos Coelho se quer atirar a Sócrates, nem Sócrates está preocupado com o Estado Social, que, aliás, tem vindo paulatinamente a desmantelar.
O requinte foi ao ponto de se reunirem para chegar a acordo sobre o Orçamento, com delegações dirigidas por Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga.
Claro está que para a fita ser perfeita tinham que se desentender e abandonar o que chamaram de negociações. Qualquer Hitchcock de trazer por casa teria escrito o guião desta forma.
Este é o Orçamento que não resolve os problemas mas que os agrava. É o Orçamento que o FMI, o Conselho Europeu, as associações patronais, os banqueiros (esses intrépidos defensores do interesse público) querem ver aprovado.
Não serve, penaliza de forma brutal os trabalhadores e será o motor da recessão económica e do desemprego.
Tudo isto em nome da acalmia dos mercados financeiros, eufemismo com que são tratados agora os agiotas dos mega bancos, que levam dinheiro do BCE a 1% e vendem esse mesmo dinheiro aos Estados a taxas de juro 8 vezes mais altas.
Podem ficar tranquilos os que acham que este orçamento tem que passar. O mandador do baile há-de fazer com que os bailadores do centrão o aprovem, ainda que entre gritos de agarra que é ladrão.
Nem que para isso Ricardo Salgado tenha que voltar a lembrar a PS e a PSD quem manda de facto nos destinos do país.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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