terça-feira, 1 de setembro de 2009

MEMÓRIAS DO RUFINO CASABLANCA - A GERAÇÃO SEGUINTE



A Geração Seguinte
Evita e Rufino Casablanca
(gente nascida entre 1940 e 1960)


(Continuação do dia anterior)


---------- I I ----------

" Já passa das quatro horas, Meritíssimo. Tem que deixar-me à porta do hotel. "
" A meio da madrugada? Pensei que podíamos tomar o pequeno-almoço juntos. "
" Não posso. Tenho que estar no hotel quando os meus filhos acordarem. "
" Vemo-nos mais logo? Podemos jantar juntos? "
" Não pense nisso. O que aconteceu foi um caso de uma noite. Sou uma mulher casada. "
" Depois de conhecê-la desta maneira não pode abandonar-me assim. "
" Não se queixe. Duas vezes em três horas... com a sua idade... foi muito bom... não acha? "
" Não foram duas vezes, foram três. O broxe também conta. " " Para mim foram duas. No broxe... como diz... eu... apenas tive uma participação passiva."
"Participação passiva!?.. Você parecia uma glutona "
" Num acto dessa natureza só gozam os dois quando há amor envolvido. O que não é o caso. "
" Voltando atrás. Explique melhor essa questão da idade, querida doutora. "
" Ora... Meritíssimo... deixe-se de fitas. Para os seus quarenta e seis anos, até foi muito bom "
" Por acaso são quarenta e sete. Somos da mesma geração, ou não!?.. "
" Não somos não. Eu tenho trinta e seis. Já vê que há uma grande diferença entre nós. "
" Até parece ter menos... mas eu também estou bem conservado. É o que me dizem. "
" Não ganhe complexos. Esteve muito bem... Um autêntico garanhão "
" A doutora parece ter uma opinião muito segura sobre o assunto. "
" Bem vê... Sou casada há dezassete anos. Casei aos dezanove. "
" E sua experiência baseia-se apenas no seu casamento? "
" Está a ser inconveniente, Meritíssimo. Esta noite não lhe dá o direito de falar assim. "
" Tem razão... Peço desculpa. "
" Desculpas aceites. "
" Simplesmente o seu marido não me parece capaz de grandes proezas sexuais. "
" Pois está muito enganado. Nem lhe passa pela cabeça do que ele é capaz nessa matéria. "
" Se assim é... porque está hoje aqui comigo? "
" Levaria muito tempo a explicar e tempo é aquilo que menos temos agora. "
" Estou pronto. De qualquer forma, para mim foram três vezes e não duas, como você dizem "
" Como quiser... mas sexo oral apenas é um acto comum, quando as pessoas se amam. "
" Mas eu amo-a, querida doutora. ... "
" Está a ser tonto. Esta foi uma noite de sexo casual, simplesmente. "
" Pode ter sido para si, mas para mim foi muito mais do que isso. E quero repetir. "
" Pode ir tirando o cavalinho da chuva meu caro Meritíssimo. "
" Até porque, apesar das três vezes, ainda me faltou dar uma volta pelo seu bonito rabo. "
" Por favor não seja ordinário. Ainda vou zangar-me consigo."
" Não se zangue, até porque pela sua experiência... isso não deve ser novidade para si. "
" Não vou responder a essa provocação. Pensa que tem alguns direitos sobre mim? "
" Sei que não tenho direitos, mas depois desta noite posso ter expectativas, ou não? "


Eram quase cinco horas da manhã quando ele a deixou junto ao hotel e passava pouco das cinco quando ela se deitou, depois de ter espreitado para o quarto dos filhos que dormiam nas suas camas.

---------- III ----------

No dia seguinte, quarta-feira, quando os filhos se levantaram, cerca das nove horas da manhã, ainda Evita estava deitada, contra todos os hábitos, pois era sempre a primeira a sair da cama. Mandou-os tomar o pequeno-almoço sozinhos e disse-lhes que naquele dia não iria à praia, estava a sentir-se mal e ficaria um pouco mais na cama. Que fossem eles, que tivessem cuidado e que estivessem de volta a tempo de almoçarem todos. O filho mais novo disse que teria que confirmar, nessa quinta-feira, se ia ou não à festa do amigo no próximo sábado. O que tinha a mãe decidido sobre o regresso antecipado a Lisboa? Que sim, que ficariam mais uns dias. Assim, Evita ficou sozinha para tentar pensar à vontade sobre o que se tinha passado no dia anterior. Estava sob uma grande carga emocional que lhe provocava aceleração cardíaca e respiratória. Nas poucas horas que estivera na cama quase não dormira, tivera um sono intermitente e agitado. Sentia-se incapaz de pensar, parecia ter todas as suas capacidades intelectuais bloqueadas. Estava a entrar em depressão. Nas suas emoções misturavam-se a alegria, a dor, a cólera o medo e o pânico. Alegria, porque sentia que o passo que na véspera tinha dado ao ir para a cama com outro homem, poderia ser a libertação daquela forma de viver que ela e o Rufino mantinham há mais de cinco anos. Dor, porque não queria manter uma situação clandestina em que, vivendo com o marido, simultaneamente tivesse um amante. Cólera, em relação a si mesma, porque se sentia culpada por não ter tido coragem de falar francamente com o marido, e, em conjunto, tentarem resolver os problemas. Medo, porque não sabia qual seria a reacção do Rufino em relação a toda esta situação se ele viesse a descobrir o que se passara. Pânico, porque, com filhos daquela idade, receava que não entendessem o problema da mãe e se afastassem dela. Pouco a pouco estava a ficar mais calma e começou a reduzir o que se tinha passado à sua verdadeira dimensão: Uma noite de sexo casual, que não envolvia sentimentos, que tinha servido, sobretudo, para acalmar os sentidos e obrigá-la a pensar muito seriamente na forma de resolver os seus problemas familiares. Até porque não era a primeira vez que acontecia. Lembrou-se daquela vez, em que acompanhada duma colega do escritório de advogados de que era sócia, tinha ido a Barcelona tratar da legalização de residência de uma família catalã que vivia em Portugal havia muito tempo. A questão era simples, mas as burocracias, aliadas a um feriado catalão, obrigaram-nas a permanecer naquela cidade mais três dias do que pensavam inicialmente. Foi quando as duas se envolveram com nada menos que três catalães. Todos ao mesmo tempo. Sexo em grupo. O que pode chamar-se a uma coisa destas? " Ménage à cinq ? " " Orgia ? ". Talvez se possa chamar falta de juízo, porque eles acabaram por roubar-lhes as carteiras e os cartões de crédito. E ali estavam elas em Barcelona sem dinheiro e com uma humilhação sem limite. Valeu-lhes uma transferência de última hora efectuada pelo escritório de Lisboa. Nunca considerara essa loucura um autentica traição ao seu marido, fora antes uma fuga, mal sucedida, é verdade, mas nunca uma traição. É claro que foi bom naquela noite, uma fuga dos sentidos, mas teve consequências terríveis. Dias depois, já em Lisboa, a sua colega disse-lhe que tinha uma doença venérea e que já a tinha passado ao marido. Sem saber o que fazer, a colega acabara por confessar tudo. O marido tinha saído de casa, dissera aos amigos porquê, e pelo meio profissional que frequentavam já corria a conversa de que ambas estavam infectadas. Apressara-se a fazer análises, repetira-as vezes sem conta, sendo os resultados sempre negativos. O resultado das análises, juntamente com o facto de não sentir nenhum sintoma ou mal-estar, convenceram-na que tudo estaria bem. Quando começava a ficar descansada, o Rufino mostrou-lhe uma carta anónima que recebera a contar tudo o que se tinha passado. Negou tudo. Como poderia ela estar infectada se eles já tinham tido relações e ele não estar infectado também? Aquilo não passava de ciúmes profissionais, alguém que lhe queria mal por causa do sucesso que ela estava a ter na carreira. Ou então alguém que queria acabar com o casamento deles. O Rufino aceitou esta explicação, mas passou a ter um comportamento diferente. Começou a ficar mais distante. Passou a dormir algumas noites da semana no estúdio de gravação que os " Trovattore " tinham montado em Cascais e começou a andar por fora mais tempo. Em determinada altura apenas vinha a casa para ver os filhos. A sua colega, companheira da aventura de Barcelona, desaparecera da circulação, e mais tarde veio a saber que estava em França, casada de novo. Ela aguentara a situação e com o tempo tudo caíra no esquecimento, embora às vezes, ainda se murmurasse quando ela passava nos corredores dos tribunais. Tudo isto acontecera há seis ou sete anos. O que nunca se recompusera fora o seu casamento. A partir desse data, a relação com o marido, caíra para níveis incrivelmente baixos, ao ponto de ele estar semanas sem lhe falar. Ainda houve outro acontecimento que veio complicar o estado do casamento. Quando ela foi a Bruxelas tratar da situação dum cargueiro que estava apreendido em Lisboa, trouxera consigo, na mala de mão, os preservativos que alguns hotéis disponibilizam aos hóspedes, nas gavetas da mesa-de-cabeceira do quarto. Não deu nenhuma importância a esse gesto, mas passados uns dias os preservativos apareceram na mesa do seu próprio quarto. Primeiro, tentou explicar ao marido porque os preservativos estavam na mala, pois sem dúvida fora ele que os descobrira e colocara sobre a mesa, depois, como ele não lhe prestava atenção, furiosa, disse-lhe que não permitia que a sua mala fosse rebuscada. Isso acontecera há poucos meses. Desde esse dia mal se falavam. Ela sabia que muitos casamentos se mantêm apenas porque existe uma grande dose de tolerância, que o casal deixa passar pequenos deslizes, que o amor que em tempos sentiram se transforma em algo porventura mais sólido, um afecto que desculpa os sentidos quando estes falam mais alto que a razão. Simplesmente ela continuava a sentir uns ciúmes muito grandes quando pensava que o Rufino dormia com outras mulheres, era uma dor que lhe apertava o peito, que lhe causava dificuldades respiratórias, um mal-estar insustentável. Por outro lado não compreendia como o marido atribuía tanta importância ao que se passara em Barcelona e ao facto de ter encontrado os preservativos na sua mala. A única vez que voltaram a falar sobre a carta anónima recebida pelo Rufino, fora ela quem puxara a conversa, continuando a negar tudo aquilo que era já evidente. O Rufino ouvira-a com muita calma e por fim disse-lhe que ele próprio tinha falado com a colega dela, que sabia tudo o que se tinha passado, e que também sabia que as malas com o dinheiro e os cartões de crédito tinham sido roubadas pelos acompanhantes, sabia do seu receio de estar infectada pela doença venérea e até sabia quais os laboratórios em que tinha feito as análises e quantas vezes as tinha repetido. Depois, ainda com toda a calma, Disse: " Minha querida, apenas me mantenho em casa por causa dos nossos filhos. " Esta conversa passara-se há um mês. Quando viera de férias com os rapazes sabia que o casamento tinha chegado ao fim. Assim, não hesitara muito em acompanhar o colega quando este a convidou para beber um último copo no seu apartamento na noite anterior. Em relação a satisfação sexual, para ela, foi uma noite desastrosa. Não chegaram a beber copo algum, foram directos para a cama, e na primeira vez que tiveram relações, ainda não tinham tirado a roupa, apenas tinham desviado as calcinhas dela. Quando acabaram, melhor, quando ele acabou, ficaram encostados na cama, olhando um para o outro, ele com um ar muito satisfeito, ela tentando também dar esse ar. Sabia que uma mulher que tivesse passado pela cama do Rufino dificilmente ficaria satisfeita na cama doutro homem. Era isso que lhe provocava uns ciúmes danados, imaginar outras a tirar partido do que eles tinham aprendido juntos. Quando, passado algum tempo, olhou para o seu companheiro, decidiu dar-lhe uma amostra do que era uma noite de sexo. Levantou-se, baixou as alças do vestido e deixou-o cair aos pés. Apareceu, então, esplendorosa, com as peças de lingerie, de renda muito fina, que tinha comprado uns dias antes. O soutien, que mal lhe tapava os seios, caiu-lhe também aos pés, deixando á vontade dois seios pequenos que exibiam uma cor mais clara marcando os limites do biquíni. Das calcinhas, muito reduzidas, saíam pêlos por todos os lados. As coxas, ginasticadas, musculosas mesmo, também exibiam a marca do biquíni. Aproximou-se dele, que ainda se encontrava recostado na cama e foi então que resolveu obrigá-lo a dar um mergulho com a mulher tubarão. Abriu o fecho-éclair, puxou-lhe as calças para baixo, meteu a barbatana por entre as boxers e verificou que o companheiro estava a meia haste, estava maleável, quase frouxo, estava ainda cansado da arremetida inicial. Quando lhe tocou ainda ficou mais pequeno. Vamos lá operar aqui um milagre. Sentiu-o crescer na boca, estava a tomar forma, e finalmente inchou. E foi então que a mulher tubarão, com muito cuidado, para não morder, para não ferir, para não magoar, aplicou os dentes na operação. Rodeou-o todo com o marfim duma dentadura alvíssima, deu umas dentadinhas muito suaves, e desviou-se a tempo de não ser atingida pela explosão que se seguiu. Na trégua seguinte, pausa para os cigarros, e então sim, beberam o copo que a levara até aquela cama. A trégua também serviu para ela ficar a saber que o companheiro vinha duma família em que todos os homens, há mais de cem anos, eram juízes ou embaixadores, tendo havido também um ou dois generais. Os últimos descendentes eram ele e uma irmã que estava casada com um lord inglês. Por sinal toda a família se ia reunir no próximo sábado na Quinta do Lago, onde também tinham casa, para comemorar o aniversário do pai. Desde já ela estava convidada para o acompanhar se assim o entendesse. Ele teria que estar com a família na véspera porque havia um jantar íntimo, mas mandaria buscá-la ao hotel no domingo ás dez horas. Finda a pausa, ajudou-o a recuperar utilizando mais alguns truques do seu conhecimento, e dispôs-se para nova batalha. Desta vez, já com os dois completamente nus, ficou ela por cima, porque nas vezes anteriores, não tinha tirado nenhum proveito da festa. Recordou assim, com humor, ou tristeza, não sabia bem, a noite anterior.

(Continua) -

Para que não se perca a sequência desta "Geração Seguinte", vamos publicar amanhã e depois, o restante em substituição da habitual "Peças Soltas no Interior da Circunferência).

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