terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

CRONICAS DE CINEMA

            Homenagem do Al Tejo a Domingos Maria Peças
                       ( hoje a cargo do Rufino Casablanca)

                                                                                   “LAURA”
Um filme de Otto Preminger, produzido pela 20th Century Fox em 1944.
Gene Tierney, principal intérprete feminina deste filme, foi uma das actrizes mais belas e talentosas do cinema – da América ou de qualquer outro país e de todos os tempos – e até dizem que ainda era mais bela pessoalmente do que na tela. A propósito da beleza desta mulher, contava-se em Hollywood, lá pelo final dos anos trinta, que o chefão dos estúdios da 20th Century Fox, Darryl F. Zanuck, chamou um dos seus agentes e encarregou-o de contratar a actriz, custasse o que custasse, pois nunca tinha visto uma mulher tão bela em toda a sua vida, e que era dela exactamente que ele precisava para interpretar uma personagem especial num filme que estava ainda na fase de preparação. Passados dias voltou a chamar o agente e disse-lhe que ficava sem efeito o que lhe tinha pedido antes, pois encontrara outra actriz ainda mais bela e mais talentosa, actriz essa que nesse preciso momento o esperava na saleta que dava acesso ao escritório. Um pouco gaguejando as palavras e pouco à vontade, o agente, que já tinha passado pela referida saleta, disse: “Chefe, a rapariga que está à espera na saleta, é precisamente Gene Tierney. Parece mais bela porque não está maquilhada.”
Esta espécie de anedota que corria por aquelas bandas apenas se destinava a exaltar a beleza natural e o talento desta actriz. E o filme a que Darryl F. Zanuck se referia era este mesmo, “Laura.”
Título Original: “Laura”
Título Português: “Laura”
Ano de Produção: 1944
Argumento: J. Dratler, S. Hoffenstein, R. Lardner – baseado num romance de Vera Caspary
Fotografia: J. La Shelle (ganhou um Óscar pela seu trabalho neste filme)
Música: David Raksin
Elenco: Gene Tierney, Dana Andrews, Clifton Webb, Vincent Price…
O argumento e o estilo de filmagem, é uma mistura que se situa entre o “film noir”, o filme policial, o drama psicológico e emocional e o melodrama. No início parece-nos um labirinto demasiado complexo para o qual será muito difícil encontrar saída. E no entanto, às tantas, tudo começa a parecer lógico e racional. Tudo nos parece natural à medida que o detective, interpretado por Dana Andrews, ele próprio também vítima da atracção obsessiva que todos os personagens vão sentindo pela assassinada, Laura, magnificamente interpretada por Gene Tierney.
Este tipo de filmes, que nos habituámos a ver realizados, sobretudo por Alfred Hitchcock, sempre nos surpreendem porque também nos habituámos a considerá-los de qualidade menor. Ora esse é um dos grandes erros em que qualquer um pode cair, até lhe sair na rifa um filme destes. Quando a história tem qualidade, quando o realizador sabe o que quer e como o atingir os fins a que se propõe, e quando os intérpretes têm a categoria destes de que estamos falando, com facilidade se chega à obra-prima. Não esquecendo, obviamente, todos os que na parte técnica cumpriram a sua obrigação e até a excederam, como foi o caso do homem da fotografia.
O filme policial, o filme de “suspense”, o filme de terror, gótico ou não, são géneros de cinema que todos identificamos facilmente. Pois em nossa opinião o “film noir” é um subgénero de todos esses géneros, no singular ou de todos simultaneamente. E no filme, objecto deste escrito, existe uma mistura de todos estes géneros.
Pois bem, contrariando opiniões de pessoas muito mais qualificadas do que nós nestas coisas do cinema, até críticos reputados, consideramos que este filme, Laura, não deve ser incluído no subgénero chamado de “cinema noir”, e, já agora, explicamos o nosso conceito desse género de cinema.
Assim:           
A fotografia será sempre a preto e branco. O orçamento de um “film noir” será sempre reduzido. Será sempre considerado um filme de classe B, e os argumentistas deste tipo de filmes normalmente assinam os seus trabalhos com pseudónimos porque se consideram acima destas fitas. Os actores e actrizes são sempre de segunda linha. E realizadores consagrados não executam estes trabalhos.
Ora com excepção da fotografia a preto e branco, tudo neste filme contraria o que acabámos de escrever: O orçamento foi, na época, considerado excessivo; o filme não pode ser considerado de classe B porque teve cinco nomeações para os Óscares, acabando Joseph La Shelle por receber a estatueta pela qualidade da fotografia; os argumentistas assinaram o trabalho com os seus próprios nomes; O elenco é primeira linha e o realizador é um nome consagrado.
Em resumo: Este filme não tem género outro que não seja o de um grande filme
Rufino CasablancaTerena – Monte do Meio – Dezembro de 1994

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