festejou a atribuição de dois forais
Os
forais foram concedidos entre o século XII e o Século XV. Eram a base do
estabelecimento do município e, desse modo, o evento mais importante da
história da vila ou da cidade.
Em
15 de Março de 1230 D. Sancho I concedeu a Montemor-o-Novo o seu primeiro
foral. Este documento real, concedeu terras baldias para uso colectivo da
comunidade montemorense, regulava impostos, portagens, taxas e multas, e ainda,
estabelecia direitos de protecção e obrigações militares para o serviço real.
Um
pelourinho estava directamente associada à existência de um foral. Era erguido
na praça principal da vila ou cidade quando o foral era concedido, e simboliza
o poder e autoridade municipais, uma vez que era junto ao pelourinho que se
executavam sentenças judiciais de crimes públicos que consistissem em castigos
físicos.
Os
forais entraram em decadência no inicio do século XVI, tendo sido exigida pelos
procuradores dos concelhos a sua reforma, o que viria a acontecer no reinado de
D. Manuel I. Fruto dessa reestruturação, o Venturoso, concedeu em 15 de Agosto
de 1503 um novo foral a Montemor-o-Novo.
Com
o advento do liberalismo foram promulgadas várias leis tendentes à supressão
dos forais, até por fim serem abolidos pelo Decreto de 13 de Agosto de 1832.
O
primeiro foral, atribuído a Montemor-o-Novo em 1203, encontra-se no Arquivo
Histórico Municipal. Pior sorte, teve o segundo foral, furtado dos Paços do
Concelho, e posteriormente adquirido pela Casa de Bragança a um alfarrabista em
Lisboa...
O
ano de 2003, vai permanecer na memória como o ano em que o Município de
Montemor-o-Novo comemorou, através de uma intensa e diversificada programação,
a passagem dos 800 e 500 anos, dos forais atribuídos pelos monarcas D. Sancho I
e D. Manuel I.
A
denominação deste programa de dinamização e promoção do concelho foi “Montemor
2003 – 800/500 Anos de História”, e decorreu de 8 de Março a 20 de Dezembro.
A
abertura do “Montemor 2003” foi feita com um programa marcante em torno do 8 de
Março – Dia do Município, de S. João de Deus e Internacional da Mulher.
Pelas
10,30 horas, procedeu-se ao hastear das bandeiras no Hospital Infantil de S.
João de Deus; pelas 11,00 horas, realizou-se a Abertura Oficial, com uma Sessão
Solene no Salão Nobre da Câmara Municipal. A mesa que presidiu à sessão solene
de abertura do “Montemor 2003”, foi composta pelo Irmão Luís, Superior do
Hospital Infantil de S. João de Deus, José Vicente Grulha, Presidente da Assembleia
Municipal, Luís Capoulas, Governador Civil do Distrito de Évora e Carlos Pinto
de Sá, Presidente da Câmara Municipal.
Às
15,00 horas, no Auditório da Biblioteca Almeida Faria, decorreu a Conferência
denominada “O Foral de Montemor-o-Novo 1203”, pela Professora Doutora Angela
Beirante da Universidade Nova de Lisboa.
Pelas
16,00 horas, saída da Procissão da Igreja Matriz para o Hospital Infantil de S.
João de Deus.
Às
17,30 horas, Missa Comemorativa do 50.º Aniversário da Igreja do Hospital
Infantil de S. João de Deus, presidida por Sua Ex. Reverendíssima o Senhor
Arcebispo de Évora.
Para
encerramento das actividades neste primeiro dia, realizou-se no Cine Teatro
Curvo Semedo pelas 21,00 horas o musical “121 em 1503”, protagonizado por 121
crianças integradas na Oficina do Canto.
Pelo
facto de muitos interessados não terem acesso ao Curvo Semedo que ultrapassou
em muito a sua lotação (havia inúmeros espectadores de pé), no dia seguinte
pelas 17,00 horas, repetiu-se a representação do musical.
Festival
Internacional de Folclore, Feira Medieval, Teatro, Música Sinfónica, Encontro
Internacional de Coros, Escultura Cerâmica, Feira do Idoso, Recriação de
Quadros Históricos baseados no Foral de D. Sancho I, Jogos Florais, Concertos,
Arruadas, Animação Musical, Palestras, Edições de Livros e Eventos Desportivos, preencheram a
comemoração dos forais atribuídos por D. Sancho I e D. Manuel I, que se
prolongou por dez meses.
A
Feira Medieval, que esteve a cargo do Grupo de Teatro VIV'ARTE, transportou Montemor-o-Novo
nos dias 21 e 22 de Março, para os séculos XIII e XVI, e como tal, merece um
lugar de relevo. Animação e almoço nas tavernas, cortejo pelas ruas da cidade,
torneio de armas e escaramuças, animação e ceia nas tavernas, poesia e teatro
medieval, cortejo do juízo eclesiástico seguido de castigo de Heréditos e
espectáculo de fogo, preencheram estes dois dias.
Os
montemorenses, e muitos forasteiros, deslocaram-se a pé até ao Castelo (não era
permitida a deslocação em veículos motorizados), para assistirem ao evento. A
aquisição dos produtos à venda no certame, era efectuada através do morabitino,
a moeda existente no reinado de D. Sancho I
Jorge Sampaio presidiu à
cerimónia de encerramento do “Montemor 2003”.
A
convite da Câmara Municipal, para encerramento do programa “Montemor 2003”,
deslocou-se à nossa cidade, em 20 de Dezembro de 2003, o Presidente da
República, Dr. Jorge Sampaio, que, de uma forma informal mas de fraterno
convívio com quase um milhar de participantes, que esgotaram a lotação do Cine
Teatro Curvo Semedo, o mais alto representante da nação presidiu à cerimónia de
encerramento do programa comemorativo dos 800 anos da atribuição do foral de D.
Sancho I e dos 500 anos do foral de D. Manuel I.
As
plateias, os camarotes e o balcão estavam completamente cheios. O presidente da
República, o Governador Civil, o Presidente da Câmara, o representante do
Comando da Região Militar, Tenente Coronel Salgueiro, as associações e as diversas instituições do Concelho, o autarcas
e diversas autoridades, os membros do conselho executivo do programa “Montemor
2003”, todos tomaram lugar no palco, onde o Dr. Carlos Pinto de Sá, Presidente
da Câmara proferiu o discurso de boas vindas ao ilustre visitante. Agradeceu a
presença do Senhor Presidente da República, Governador Civil e restantes
autoridades, naquele acto solene, congratulou-se pela forma elevada como
decorreu a realização do Programa, salientando o entusiasmo e empenhamento das
entidades, instituições e associações, todas contribuindo para o sucesso
alcançado, dignificando Montemor e a sua população. Assegurou que aqui “em
Montemor, não nos limitamos a sonhar: aprendemos a lutar para que o mundo pule
e avance”. O autarca, na sua intervenção, quis enaltecer o papel do povo. “Sem
o povo anónimo que sustentou a integração na nacionalidade nascente, não
haveria foral”. Dando exemplos como o do cidadão João Cidade. Para Carlos Pinto
de Sá, justifica-se “não apenas comemorar os Forais, havia que colectivamente
celebrar o percurso de um Povo que, tendo marcado presença nos principais
momentos da Históra do País, se caracteriza antes de mais por uma dimensão
humanista e colectiva de inconformismo social, de transformação sociática com
mais justiça e maior felicidade”.
O
“Montemor 2003” iniciou-se “com uma programação demonstrativa das capacidades e
dinâmicas locais”. O espectáculo de encerramento do “Montemor 2003”, é “a
afirmação de que a nível local, onde nos orgulhamos de mergulhar as nossas
raízes e identidade, ligamos as dimensões nacional e global onde teimamos na
busca de sociedades mais justas e onde um dia, como sonhamos, a linguagem
universal da cultura e do humanismo se sobreponha à mesquinhez do dinheiro e da
guerra”.
Dirigindo-se
a Jorge Sampaio, Carlos Pinto de Sá aproveitou a presença do Presidente da
República para “dar voz às dificuldades que aqui sentimos e que penalizam
vastas camadas dos nossos cidadãos”. Carlos Pinto de Sá findou a sua
intervenção dizendo que “no coração do Alentejo, o nosso concelho colhe a alma
incomensurável da paisagem ampla e livre, sofre as vicissitudes duma terra
sacrificada, mas continuará a afirmar a dignidade própria da sua identidade
ímpar”.
Na
sua intervenção, o Presidente da República demonstrou a sua grande satisfação
em estar presente no encerramento do “Montemor 2003” e enalteceu o facto da
cerimónia ter como contexto um Cine Teatro de grande valia. O Presidente da
República sublinhou também o seu desejo de que em breve haja dinheiro para que
este magnífico exemplar da nossa arquietectura, possa ter capacidade de
resistir e ampliar as suas capacidades, simultaneamente, que possa ser um polo
irradiador, como tem sido até agora, com a deslocalização do Rui Horta e seus
colegas, para se transformar numa das avenidas culturais, que nos conduz à capital
e que, de certo modo, a influencia.
Jorge
Sampaio afirmou estar contente por saber que em 2003 o concelho de
Montemor-o-Novo reivindicou, estudou e projectou. Enfim, Montemor demonstrou a
sua dinâmica, até porque para o Presidente da República “não há futuro para
nenhuma terra portuguesa se os próprios filhos não assumirem uma quota parte
das responsabilidades”. Aliás, os alentejanos e montemorenses, pela sua
personalidade e capacidade, têm demonstrado sempre que, mesmo enfrentando
difíceis vicissitudes, têm sabido resistir, projectar-se e reivindicar.
Embora
estando a viver momentos difíceis, são iniciativas como o “Montemor 2003”, que
se prolongam durante um ano e sublinham a existência de uma terra no mapa, que
fazem da sua identidade histórica uma dimensão cultural incontornável, disse
Jorge Sampaio.
Segundo
o Presidente da República, o mundo não está fácil, a paz é algo difícil e o
desenvolvimento também, no entanto, é preciso ter-mos a noção de que com o
nosso rigor e iniciativa podemos chegar onde aspiramos, não havendo nenhuma
razão para desistirmos.
De
acordo com Jorge Sampaio, quando celebramos 800 e 500 anos de dois forais,
temos o dever mínimo de perceber que neste tempo muitas crises se ultrapassaram
e, todavia, Montemor aqui está, mais pujante e mais bonito. É nesta esperança
que se renova que temos que acreditar.
A
finalizar, o Presidente da República deixou o desejo para que 2004 seja um ano
melhor do que em 2003, afirmando: “Quero acreditar que vai ser melhor com o
nosso esforço, rigor, elevação, escolas e famílias que vamos chegar onde
queremos”.
Seguiu-se
um concerto pelos pianistas Pedro Burmester e o russo Alexei Eremine, e ainda
para encerrar com muito brilho a cerimónia, a assistência assistiu ao bailado
“Nest” pela Companhia de Dança Sueca “Norr Dans”, com coreografia de Rui Horta.
Após
o espectáculo, foi servido um lauto beberete no Salão Nobre do Teatro e nos
corredores do 2.º piso, aberto a todos os presentes, onde as altas entidades se
misturaram e conviviam com a população ali presente.
O
Restaurante “Ao Pôr do Sol” do Senhor Ernesto Cara Linda, primou pela excelente
qualidade do serviço, destacando-se os pratos e as bebidas regionais, muito do
agrado de todos os presentes, entre os quais o mais alto magistrado da Nação.
Augusto Mesquita
Março/2018
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