Segunda, 16 Dezembro 2013 11:07
Participei na semana passada num encontro promovido pela
APPACDM de Évora que teve como objectivo a reflexão sobre as melhores formas de
abolir algumas barreiras com as quais as pessoas com deficiência se deparam na
nossa cidade.
Neste encontro participaram vários intervenientes, sendo
de destacar a presença de várias pessoas com deficiência, Associações de Apoio,
Câmara Municipal, Segurança Social, IEFP, PSP, Associação Comercial e Bombeiros
Voluntários de Évora.
Não posso deixar de felicitar publicamente a APPACDM pela
iniciativa que tem tudo para correr bem, apresentando resultados objectivos.
No que respeita às barreiras arquitectónicas, aquelas que
imediatamente vêm à mente das pessoas, julgo ser importante refletir um pouco
sobre a acessibilidade e por contraposição sobre as barreiras. Torna-se, pois,
óbvio que não existe acessibilidade com barreiras.
A inclusão social depende muito mais do que apenas da
eliminação das barreiras arquitetónicas, embora estas se revelem de extrema
importância.
A este nível, existe um longo caminho a percorrer na
adaptação dos meios físicos em Évora, em especial no Centro Histórico, ainda
que se tenham feito algumas intervenções meritórias nos últimos anos.
Quando eliminamos barreiras arquitetónicas fazemo-lo para
facilitar o livre acesso a todas as pessoas (incluindo as pessoas com
deficiência), mas também dessa forma estamos a quebrar as fronteiras do
preconceito. Uma qualquer intervenção no sentido da abolição das barreiras
físicas deverá servir também para consciencializar a sociedade e fazê-la refletir
sobre a temática.
Mas se queremos falar da inclusão das pessoas com
deficiência, incidir apenas sobre barreiras arquitetónicas é sempre parcelar.
Até porque podemos ter cidades completamente adaptadas do ponto de vista físico
e não constituírem, por si só, espaços inclusivos, assim como podemos ter
cidades com poucas adaptações físicas, e a comunidade se organizar e se tornar
mais inclusiva. A inclusão tem de ser vista de uma forma global, olhando as
pessoas com deficiência e famílias como um todo, analisando as suas
necessidades, e procurando intervir sempre sobre aqueles que não têm
deficiência.
Em Portugal, quase 10% da população tem algum tipo de
deficiência. É um número expressivo e que por si só justificaria que existisse
uma sociedade inclusiva. Devo dizer, que já estivemos muito mais longe, e que
em Portugal nos últimos anos tem-se feito um longo processo que tem conduzido a
uma melhor inclusão destas pessoas. Ainda assim, muito existe a fazer no
futuro.
A grande dificuldade que ainda existe na sociedade em
geral é que quando olhamos ou pensamos numa pessoa com deficiência temos a
tendência a olhar para a deficiência e não para a pessoa. Por isso, tendemos a
chamar as pessoas com deficiência de deficientes, o que à partida constitui um
erro. A pessoa não é deficiente, tem uma deficiência... Esse é o primeiro
preconceito que tem de se abolido. Se partirmos deste ponto de vista, será mais
fácil fazer aquilo que é mais saudável, que passa por reconhecer às pessoas com
deficiência as suas capacidades. Aliás, atrevo-me a dizer que tudo seria bem
diferente se olhássemos para as estas pessoas como cidadãos com imensas
potencialidades, à parte das suas dificuldades. Afinal de contas, não é assim
que olhamos os cidadãos sem deficiências?
Neste percurso inclusivo que é a vida da pessoa com
deficiência, e nos diferentes papéis que experimenta (filho, estudante, amigo,
trabalhador, cidadão) importa analisar as diferentes barreiras que vão
aparecendo, e procurar sobre elas intervir, mas também procurar em cada um dos
espaços os sistemas de apoio existentes e maximizá-los. Um espaço pode
constituir-se como barreira ou sistema de apoio e isso será fulcral na
adaptação das pessoas com deficiência. Desta forma, a escola pode ser uma
barreira, mas também pode ser um sistema de apoio. Assim como uma cidade pode
ser uma barreira ou um sistema de apoio.
A vida é feita de escolhas: queremos uma cidade de Évora
mais acessível?
Eu quero! A inclusão e não a integração… Integração é
integrar passivamente um indivíduo num local, coisa que já acontece normalmente
(as pessoas com deficiência vão às escolas, frequentam serviços públicos, têm
acesso à formação profissional especializada, etc.). Inclusão é um pouco mais…
é tornar estes cidadãos e cidadãs participantes na vida social, cultural,
económica e política. Todos os avanços legislativos que têm existido nos
últimos anos têm sido importantes, mas não há mudança ao nível da inclusão por
decreto, esta faz-se através da consciencialização cidadã.
Uma sociedade inclusiva não revela esforço na inclusão das
pessoas com deficiência, mas reconhece o seu valor e a sua mais-valia. Uma
sociedade inclusiva percebe que a participação ativa das pessoas com
deficiência é para o benefício de todos e não só destas.
Mas tenho a certeza que a mudança será mais eficiente
quando as pessoas com deficiência e suas famílias se conseguirem associar e
fazer uma pressão social e política efectiva. Deixo este desafio!
Até para a semana!
Sem comentários:
Enviar um comentário