terça-feira, 19 de abril de 2011

VASCULHAR O PASSADO - POR AUGUSTO MESQUITA

Nota do Editor: Conforme, desde o início em que nos foi autorizado pelo Autor a transcrição destas crónicas, alertámos para o facto das mesmas terem sempre um grau de comparação com factos, situações, iniciativas, organizações, que fizeram ou fazem parte do Alandroal.

Pretendemos que as memórias se avivem, que as iniciativas se concretizem…trazer às mentes dos menos jovens  o passado do Alandroal (e não só).
Já aqui o Augusto Mesquita deu a conhecer colectividades, fontes, fábricas, episódios da vida real, …enfim vasculhou o passado.
Se nos debruçar-mos sobre a crónica de hoje por certo acudirão à mente de muitos Alandroalenses (os mais velhose porque não os mais novos darem a conhecer aos pais) nomes de personalidades do Alandroal que em nada ficaram a dever à Irmã Sousa.
Eu lembro-me de muitos nomes, que pelo menos seria justo serem contemplados na toponímia do Alandroal.
Do que estás à espera “Tói da Dadinha”?. (há que dar a conhecer a história da nossa terra para os nossos netos)

O Lar dos Pequeninos comemora 70 anos

Fundado por iniciativa da popular e benemérita Irmã Sousa, nome por que se ocultava no Instituto Religioso “Irmãs de S. Vicente de Paulo”, uma das mais distintas Senhoras portuguesas – D. Maria Salomé de Sousa, destinou-se desde o início à “Protecção à Primeira Infância”, respondendo a uma necessidade patente em Montemor-o-Novo, e que nos é revelada, com as finalidades expressas nos respectivos estatutos, aprovados oficialmente mais tarde, em 18 de Abril de 1958 (Diário do Governo n.º 104, III Série:
a) Protecção pré-natal – assistência médica e medicamentosa às futuras mães;
b) Assistência e alimentação às crianças em idade pré-escolar;
c) Jardim-de-infância para crianças em perigo moral dos 2 aos 6 anos;
d) Idem, em necessidade verificada durante a ausência dos pais no trabalho;
e) Colónia de férias.
Nasceu esta obra junto ao Hospital de Santo André, onde trabalhava a referida Irmã Sousa.
No dia 27 de Abril de 1941 foi inaugurada oficialmente, com a presença de várias individualidades, a benemérita e simpática instituição montemorense que é o “Lar dos Pequeninos”.
Para assistir ao acto, a que se tinha pretendido dar ambiente de simplicidade, e que por motivo de chuva teve de se realizar não nos claustros do hospital, mas sim no Rádio Cine, vieram a Montemor-o-Novo Sua Exma. o Senhor Subsecretário de Estado da Assistência, o Senhor Governador Civil e o Senhor Conselheiro Fernando de Sousa, director do jornal “A Voz” e pai da desvelada protectora do Lar, que a morte prematura veio afastar da prática do bem, que em larga escala fazia sem alardes e sem exibicionismos.
Quem, conheceu as obras da excelsa senhora, que envergando o hábito das Irmãs de S. Vicente de Paulo, fez da caridade um verdadeiro sacerdócio, não pode deixar de sentir satisfação por ver consagrado um esforço em prol daqueles a quem a sorte não sorriu.
A Sessão Solene que, como atrás dissemos, se realizou no Rádio Cine, presidiu o Senhor Subsecretário de Estado da Assistência, secretariado pelos Senhores Governador Civil de Évora, Presidentes da Câmara Municipal e da União Nacional Distrital, Vigário da Vara e Conselheiro Fernando de Sousa. Noutros lugares encontravam-se ainda diversas entidades representativas do concelho, fazendo a guarda de honra um piquete dos Bombeiros Voluntários da Vila. Na sua qualidade de Presidente da Direcção do Lar, abriu a sessão o Senhor Dr. Vicente Pires da Silva, que, depois de ter agradecido a comparência dos presentes à sessão inaugural da obra de que era presidente, descreveu com a larga soma de conhecimentos que tem da assistência infantil, a obra já realizada neste período experimental, que disse ser muito.
Porque reputamos absolutamente para elucidação dos nossos leitores, vamos transcrever a descrição da assistência já prestada pelo Lar:

Escola Maternal(de 2 de Julho de 1940 a 31 de Março de 1941)

Refeições 16 380
Vestuário exterior (fatos e bibes) 100
Vestuário interior (mudas completas) 40
Calçado (pares de) 20
Instrução ministrada a crianças 20
Consultas médicas 2 340
Medicamentos distribuídos 2 000
Consultas externas e distribuição de medicamentos

(de 1 de Janeiro a 31 de Março de 1941)

A grávidas 24
A crianças 600
Subsídios alimentares a crianças (desde 19 de Março) Uma média diária de 160 refeições

Seguiu-se o Provedor da Santa Casa da Misericórdia, Senhor Dr. Alfredo Maria Praça Cunhal, que fez o elogio das altas virtudes e preclaros sentimentos que irradiavam da alma bem formada da Irmã Sousa.
Dirigindo-se ao Senhor Subsecretário de Estado da Assistência, fez-lhe ciente que Montemor-o-Novo era uma terra onde a benemerência não era palavra vã, pois há aqui várias casas de caridade que em grande parte são sustentadas pela assistência particular, com a necessária cooperação do Estado, doutrina esta que o Senhor Dr. Dinis da Fonseca pretende seja seguida. Terminou dizendo a toda a numerosa assistência que tivessem sempre presente no coração a grande benemérita Irmã Sousa.
O Senhor Conselheiro Fernando de Sousa, pediu a palavra para agradecer em nome de toda a sua família a homenagem sincera que era prestada a sua falecida filha, modelo de altas virtudes de mulher, talvez vitima dos extenuantes trabalhos a bem da humanidade. Descreveu ainda a vida da Irmã Sousa desde a sua saída de Montemor-o-Novo até ao momento da sua morte em Carnide.
A assistência demonstrou-lhe a sua simpatia.
A encerrar a sessão falou o Dr. Dinis da Fonseca, cujas apreciações elogiosas a Montemor-o-Novo foram escutadas debaixo de religioso silêncio. Sua Ex.ª demonstrou conhecer a fundo, na história pátria, factos importantes na vida da Nação, cujos alicerces se fizeram nesta terra.
Referiu-se seguidamente às várias instituições de caridade aqui fundadas, precisando as suas datas, tendo ainda dito que a Misericórdia de Montemor-o-Novo fora das primeiras a ser fundada no País.
Disse que conhecia muito bem a vida das casas de caridade da nossa terra, mantidas pela assistência particular, através de gerações.
Referiu-se, com conhecimento de causa, que a assistência se deve fazer primeiro com o espírito, do que com o dinheiro. Este aparecerá depois, graças à boa vontade dos indivíduos.
O grande erro, continuou dizendo o Senhor Subsecretário de Estado, é pretender fazer crer que só o dinheiro é necessário para estas obras de caridade. Elogiou depois a figura simpática da falecida Irmã Sousa, e formulou votos para que o Lar dos Pequeninos, ora inaugurado, continue sempre a prestar a sua útil missão.
As crianças internadas no Lar dos Pequeninos recitaram e cantaram algumas canções, no final da sessão, acompanhadas ao piano pela Professora D. Aurora Benvinda Rocha, que a assistência aplaudiu.
A seguir houve uma grande e espontânea manifestação de simpatia do público ao benemérito Dr. Vicente Pires da Silva, que agradeceu.
O Município de Montemor-o-Novo deliberou homenagear a Irmã da Caridade, dando o seu nome à rua onde se encontra o Lar dos Pequeninos.
Os anos foram passando, e as instalações tornaram-se exíguas. Para construir novas instalações, a Câmara Municipal, por deliberação de 13 de Janeiro de 1984, deliberou ceder ao Lar dos Pequeninos um terreno com 2 520 m2, em direito de superfície, pela importância de 490 contos. Deliberou ainda a Câmara, atribuir um subsídio ao Lar dos Pequeninos, no valor exacto do preço estipulado para o terreno.
Quatro décadas depois da inauguração das instalações sitas na Rua Irmã Sousa, o Lar dos Pequeninos transferiu-se para as modernas instalações sitas na Zona de Urbanização III, viradas para a rua que tem o nome do grande benemérito da instituição – Dr. Vicente Augusto Pires da Silva.
As actuais instalações foram inauguradas em 3 de Novembro de 1984, com a presença da então Secretária de Estado Dr.ª Leonor Beleza. Presentes nesta inauguração, o Senhor Governador Civil de Évora, Presidente do Centro Regional de Segurança Social, Presidente da Câmara Municipal, Santa Casa da Misericórdia de Cabrela e de Montemor-o-Novo, Hospital Infantil de S. João de Deus, diversas colectividades e autoridades civis, militares e religiosas, assim como a imprensa.
O Lar dos Pequeninos tem capacidade para receber 110 crianças entre os 6 meses e os 5 anos de idade. Vive à base da cotização dos seus associados e de subsídios da Segurança Social, e do Município de Montemor-o-Novo.
Augusto Mesquita

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