sexta-feira, 29 de abril de 2011

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

 Com Brio e com Garbo
Martim Borges de Freitas


Sexta, 29 Abril 2011 09:57
No dia 14 de Janeiro deste ano, referi-me, pela primeira e única vez aqui, na Rádio Diana, ao FMI. Disse, então, que o que nos deveria mobilizar era o que somos ou não capazes de fazer por Portugal, porque o problema do FMI estaria nas medidas que o FMI viesse a impor, por se prever que fossem frias, cegas, logo, despidas de qualquer tipo de sensibilidade social. Considerei, por isso, que seria melhor, mais rápido, mais eficaz e menos doloroso sermos nós mesmos a resolver o problema do nosso próprio país, do que convidarmos o FMI a fazê-lo. Mas que, para isso, precisaríamos de políticos descomprometidos com o sistema - livres, portanto – capazes de pensar e pôr em prática um novo modelo de desenvolvimento para o país. Com coragem, com verdade e com espírito de missão. E, ao mesmo tempo, com rapidez.
Tudo o que então disse é actual. A diferença é que o FMI já cá está! Tudo o resto, infelizmente, mantém-se na mesma. Isto é, todos os agentes políticos e, em particular, os partidos políticos, revelam não apenas o que têm sido, medíocres, mas também uma total ausência de rasgo e de vontade própria. Calculistas até à quinta casa, não conseguem sair do círculo vicioso em que voluntariamente se quiseram meter e querem permanecer. Numa palavra, falta-lhes alma. A que também nem o Presidente da República nem os antigos Presidentes da República escapam. Os discursos do 25 de Abril de 2011, com o inenarrável apelo ao esbatimento das diferenças entre partidos a que eu jamais tinha assistido depois do 25 de Abril de 1974, contituíram, per se, o maior apelo à abstenção para as eleições de 5 de Junho. Pois se as pessoas já detestam os partidos, se a mensagem é que são todos iguais, então, a conclusão será a de que o melhor mesmo é não ir votar. Se a esses discursos juntarmos o apelo que todos os partidos políticos estão a fazer aos outros partidos políticos para que pensem apenas no interesse nacional, mostrando, afinal, a razão pela qual os partidos são cada vez mais malquistos pelos cidadãos, então há-de ser bonito o valor da abstenção em 5 de Junho! Não deveriam os partidos políticos pensar sempre no interesse nacional? Não deveriam colocá-lo sempre em primeiro lugar? Então, só agora é que os partidos se lembraram de que o interesse nacional existe? Estarei eu enganado ao pensar que a razão de ser dos partidos é exactamente essa, a de pugnar, em permanência, sempre, pelo interesse nacional?!
A ideia que transparece é a de que Portugal claudicou. Por incompetência própria e desconfiança externa, o FMI já cá esteve, já colocou o país nos eixos e já se foi embora. E pesem todas as ajudas de que o país dispôs a seguir, Portugal voltou a descarrilar. Como se vê, o problema da vinda do FMI a Portugal não é apenas o da vinda do FMI a Portugal. É isto que não deveríamos ignorar. Portanto, para que, estes, possam deixar de ser tempos de fim de ciclo e passem a ser tempos de um novo ciclo, é preciso antecipar o futuro e definir um novo modelo de desenvolvimento para Portugal. Um modelo capaz de resolver os problemas estruturais do país, se não de forma definitiva, pelo menos duradoura. Um modelo que proporcione as necessárias rupturas, mas que saiba acautelar as suas respectivas consequências. Mas um modelo de desenvolvimento que parta de nós, que parta dos portugueses. Que em vez de aceitar passivamente o programa eleitoral e de governo que o FMI está a traçar para o país, vá mais longe e, usando o mesmíssimo método usado pela Troika – que nem partidos nem governo nem Presidente da República pensaram sequer em seguir – puxe pelo brio dos portugueses e, com garbo, mostre à Europa e ao Mundo que somos, afinal, donos do nosso próprio destino.
Lisboa, 27 de Abril de 2011
Martim Borges de Freitas

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