quarta-feira, 27 de abril de 2011

NOTAS SOLTAS - POR SEAN

Notas Soltas (27abril 2011)

Os Amores dos Meus Amigos

« .... e quem diria que os nossos sentidos
- apesar das vidas porque passámos -
continuariam despertos e alerta
para os olhares que de novo trocámos .... »

do fado " Desta Água Beberei " = letra de Rufino Casablanca e cadência musical do fado Mouraria.

No Alandroal, como em tantas outras povoações do interior do país, durante muitos anos, os casamentos fizeram-se entre raparigas e rapazes da terra.
Foi assim antes dos anos sessenta, antes das raparigas, de forma mais constante, começarem a ir para as universidades, antes dos rapazes começarem a ir para a guerra colonial e antes das migrações que por essa altura se verificaram. É claro que existem excepções. É verdade que houve quem fosse correr mundo e voltasse para se casar com o amor de infância. E essa verdade, tanto vale para eles , como para elas.
Mas o caso presente, embora não seja único, é invulgar
Ora vejam :
No fim dos anos cinquenta, princípio dos anos sessenta, aquele rapaz alto, educado e bem falante, um pouco introvertido, olhava amiúde para uma moça que, sendo bonita, nem por isso dava nas vistas, tal a discrição com que se comportava.
Os olhares dele eram correspondidos ... é aqui que quero chegar !
Portanto, o namorico, se assim podemos chamar-lhe, tinha pés para andar. Andariam ambos pelos quinze, dezasseis anos, mas como, nem um nem outro, eram frequentadores de bailes nem de quaisquer outras tertúlias, o namoro tardava em arrancar.
Arrancou, finalmente.
Depois de muitos " escritinhos " para cá e para lá, acabaram por namorar. Foi um daqueles namoros à antiga; com muitas passeatas dele em frente da casa dela; muitos olhares ansiosos.
Ela, à janela, olhando; ele, passando na rua, olhando também.
( Parece-me, até - isto é um aparte - que o Vitorino se inspirou num caso similar quando escreveu aquela magnífica canção que é a " Menina Estás à Janela " )
Mas a vida está cheia de amores contrariados, todos sabemos.
As famílias de ambos, primeiro uma, depois a outra, por motivos que nada têm a ver com o namorico, decidiram deixar o Alandroal.
Ponto final.
Parecia o fim dum amor que estava em crescendo.
Mas não foi.
Reparem como o destino pode tecer filigranas na vida das pessoas.
Passaram cerca de trinta anos.
Nunca mais se encontraram.
Cada um deles tinha vivido esses trinta anos por paragens diferentes.
E eis que, repentinamente, se viram frente a frente na Festa dos Prazeres.
Ambos desimpedidos.
Voltaram a olhar-se.
E a faísca continuava lá.
Jantaram um frango assado numa daquelas barracas que costumam assentar a jusante da igreja.
Trocaram telefones e combinaram um encontro em Lisboa para uns dias depois.
Na capital, retomaram o namoro, se assim pode dizer-se.
Já ambos tinham quase cinquenta anos.
Passados que foram uns meses após o encontro em Terena, casaram; não tinham tempo a perder.
Têm casa no Alandroal, e por aqui estão com frequência.
E apaixonados; como se fossem putos
E eu, com este descaramento que por vezes me assalta, atrevo-me a contar a história d'amor deles.
Sean O'Flaherty D. Rivera Kerrigan
Alandroal

6 comentários:

Anónimo disse...

E quem é o bem-aventurado casalinho ?
Com este autor nunca se sabe aonde acaba a realidade e começa a ficção !

Anónimo disse...

parece-me que está tudo misturado e já nem ele próprio distingue.

Anónimo disse...

Parece-me que um deles é médico e não digo mais!

Anónimo disse...

Esta realidade e ficção tem um meio.

A seu tempo se saberá "do casalinho".

E...a história iniciou-se numa segunda-feira de Prazeres.

Efeméride a comemorar no próximo dia 02 de Maio "pelo casalinho"

Hoje não assino

Anónimo disse...

Bonita história.
Parabéns aos noivos.

Anónimo disse...

Solta-se-me a vontade com de comer com a história do frango comido...é de ir às lágrimas!
No fundo é o verbo vigiado para se cumprir o ritual! tsssss....
Pode-se escrever por exemplo sobre a história amorosa do sino e do badalo ou do pólen gostoso e da abelha singela, vibra em nós e faz-nos ler! que bom e obrigado!