A voz do Povo
Carlos Sezões
Quarta, 27 Abril 2011 08:46
Na sociedade democrática em que vivo, sempre tive como máxima que o povo tem sempre razão. Sempre! Quer quando brinda o meu lado da barricada com vitórias retumbantes como quando inflige dolorosas derrotas. Como tal, os resultados obtidos, por muito injustos que por vezes possam parecer, são sempre merecidos, fruto de algo – seja da substância (candidatos, programas), seja da forma (campanhas e formas de comunicação).
Nas muitas campanhas eleitorais que já acompanhei, ouvi dezenas ou (ou mesmo centenas) de desabafos, comentários, aplausos ou críticas aos muitos protagonistas políticos que desfilaram no palco mediático. Tenho-os em muita consideração! Representam a voz do povo, muitas vezes pequenas impressões avulsas que significam mais que longas dissertações. Tentei sintetizar algumas que representam, para mim, a sabedoria popular que ninguém na actividade política deverá esquecer. E espero que sejam tidas em conta nas semanas que se aproximam.
Primeiro, as pessoas querem clareza, não gostam de tabus artificiais. As pessoas querem ouvir e saber se determinado candidato “quer ou não quer maioria”, “o que vai fazer com os votos”, “que alianças poderá fazer”, “que postura terá na oposição”. Como opinião pessoal, acrescento que qualquer candidato a primeiro-ministro só teria a ganhar se decidisse apresentar a priori a sua equipa (pelo menos, nos lugares-chave do governo) – demonstraria confiança, capacidade e coragem.
Em segundo lugar, as pessoas querem ouvir falar de problemas concretos. Esperam políticos serenos mas acutilantes, focados em temas concretos que, realmente, estão nas preocupações do dia-a-dia (segurança, desemprego, sobrevivência das PME’s). Depois, as pessoas querem saber “como” e “porquê”. Os eleitores estão mais exigentes na forma como interpretam as propostas. Tantas vezes que eu ouvi frases “isso é o que todos dizem” ou “isso é o que todos querem, mas como é que ele vai fazer isso?”…sinal que a preparação política e o real conhecimento dos “dossiers” é hoje essencial. Como já é evidente, as pessoas querem responsabilidade e consensos mínimos. Quantas vezes não ouvimos já o desabafo “eles não se entendem!”. Por muito que respeitem a luta política, as pessoas não apreciam ódios de estimação e elevados níveis de conflitualidade que afectam, não raras vezes, os limites do respeito. Quem não tem cabeça fria e vai por esta via, paga sempre por isso.
Por último, as pessoas querem políticos com sentido de compromisso. Os políticos que estão sempre prontos para qualquer lugar e vêm os cargos apenas como trampolim não vão longe. Até podem ter sucesso na primeira vez mas, com o tempo, a sua falta de ética e compromisso virá ao de cima.
Como tal, parece-me que quem procura receitas para êxitos ou fracassos não necessita, na minha óptica, de procurar exaustivamente onerosos gurus de comunicação política. Basta ouvir (sem preconceitos) a voz do povo.
Carlos Sezões
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