quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

CRÓNICA DE OPINIÃO DA RÁDIO DIANA/FM

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Crónica de Helder Rebocho

19-Dec-2007
Os recentes casos de violência na Cidade do Porto são, infelizmente, a versão mais recente de uma realidade em evolução no nosso país e que há muito se vinha anunciando num ou noutro episódio de consequências menos gravosas. A criminalidade em Portugal, sobretudo a criminalidade violenta e o crime organizado não nasceram no caso do Porto, há muito que dava sinais da sua existência. Por isso não acredito que as autoridades policiais e os próprios governantes não estivessem atentos a este fenómeno emergente.
Não estariam, porventura, á espera que os acontecimentos se precipitassem e assumissem os contornos e a gravidade que a luta de gangs rivais na cidade do Porto acabou por revelar. Por isso as suas intenções preventivas acabaram ultrapassadas pela velocidade dos acontecimentos. As autoridades policiais já não vão a tempo de evitar as mortes ocorridas nos últimos seis meses, mas ainda podem impedir que outros venham a morrer nas mesmas circunstâncias. Este tipo de crime não é exclusivo do Porto, existe também em Lisboa, no Algarve, em todo o país e não fosse a sucessão de mortes por assassínio num curto espaço de tempo, determinada pela luta no controlo de negócios ilícitos, à boa maneira de Al Capone e de Chicago dos anos 30, talvez o assunto nem sequer fosse motivo de preocupação ou de intervenção policial. Há muito que estes gangs vinham actuando impunemente, disseminando as suas teias, construindo os seus negócios á margem da lei, sem que nada nem ninguém os impedisse, ou fizesse sequer vacilar, ao ponto de sentirem segurança suficiente para matarem sem receio das consequências, porventura confiantes na solidez do mundo à parte que vinham construindo, onde as únicas leis que existem são aquelas que eles próprios criam entre si. É precisamente aqui que reside o motivo de maior apreensão para os cidadãos e para as autoridades, porque a criminalidade organizada tem o dom da multiplicação. Começa em regra nos pequenos negócios e degrau a degrau vai trepando na hierarquia social até atingir ligações a posições de topo onde encontra a imunidade que lhe garante protecção e prosperidade. Basta atentarmos nos exemplos de países como a Itália, Colômbia ou E.U.A. para constatarmos esta linha evolutiva. Portugal ainda não atingiu esse patamar no que respeita ao crime organizado, mas para lá caminha, por isso, o caso do Porto deverá, sobretudo, servir de alerta para travar, enquanto é tempo, o enraizamento de organizações criminosas na sociedade Portuguesa. Mais do que encontrar os culpados dos homicídios ocorridos nos últimos seis meses e investigar as ligações dos grupos da Ribeira e de Miragaia a negócios ilícitos, é necessário encarar a criminalidade organizada como um problema de âmbito Nacional, onde o caso do Porto é apenas mais um episódio marcado pela morte violenta de alguns protagonistas. Por enquanto as vitimas faziam parte da guerra, mas no futuro os efeitos colaterais da actuação deste tipo de grupos criminosos poderá atingir os inocentes, não só aqueles que por infortúnio sejam alvejados por uma bala errante, mas todos os outros que sejam vitimas da sua acção directa. O grande perigo do crime organizado reside na impunidade, seja ela consequência da incapacidade, da incompetência ou da conivência. Em Portugal os órgãos de polícia criminal não são coniventes nem incompetentes, mas em certas situações não dispõem de meios que os tornem capazes de dar a resposta adequada. A ofensiva da Judiciária foi importante, no imediato, mas é urgente que o crime organizado entre nas contas da segurança, por forma a que as forças policiais estejam dotadas de meios e preparação técnica que lhes permitam actuar eficazmente ao nível da prevenção e repressão deste tipo de criminalidade. Em matéria de segurança, como em tantas outras, mais vale prevenir que remediar, até porque há males que não sendo aniquilados logo à nascença, jamais têm remédio.
Hélder Rebocho 19.12.2007

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