MARIA HELENA FIGUEIREDO
Diz-me com quem
votas, dir-te-ei quem és
A indigitação de Francisco Assis para o conselho de concertação
social apanhou de surpresa muita gente.
Assis, não é um
mero crítico da actual direcção do Partido Socialista, é um defensor do bloco
central e manifestou-se sempre contra alianças à esquerda. Nomeá-lo para o CES
é uma clara cedência do Partido Socialista às confederações patronais e à
direita.
Também a nomeação
de António Costa Silva, um gestor do petróleo que publicamente se manifestou
contra os acordos à Esquerda, numa trapalhada em que foi apresentado como
coordenador dos ministros e depois apenas como consultor para elaboração do
Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030, mostra bem como o Partido
Socialista está cada vez mais capturado pelos grandes interesses e pela visão
de direita.
Cedências à
direita que não auguram nada de bom nem para os trabalhadores nem sequer para o
Partido Socialista, mas que sobretudo violam o sentimento popular expresso nas
últimas eleições.
Por isso é bom
revisitar as afirmações e compromissos de Costa, para melhor se ver o percurso
pelo qual, afinal, o Partido Socialista está a enveredar.
Como todos nos
lembramos, ainda não há um ano que se realizaram as eleições legislativas de
onde saiu um parlamento maioritariamente de esquerda.
Os quatro
partidos que celebraram os acordos e puseram termo à governação desastrosa do
PSD/CDS, e devolveram ao Parlamento o papel decisivo na vida política, somaram
mais de 52% dos votos populares, com o Partido Socialista a beneficiar
claramente do percurso de recuperação dos salários e das pensões, conseguido
com o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e os Verdes.
Foi a chamada
Geringonça que permitiu aprovar medidas, ainda que tímidas, e que a economia
começasse a respirar e foi nessa perspectiva que muitos e muitas votaram.
No rescaldo das
eleições de 6 de Outubro, António Costa afirmou “os portugueses gostaram da
geringonça e desejam a continuidade da actual solução política”.
Apesar dos
resultados, Costa sabia que sem a maioria absoluta, precisaria dos parceiros de
esquerda para fazer passar o programa de governo e o orçamento.
Mas ainda assim
fugiu de celebrar novo acordo com o Bloco de Esquerda e afastou qualquer
compromisso que o amarrasse.
E ao contrário do
que continua a afirmar quando diz que quer prosseguir na linha traçada em 2015
com os parceiros de esquerda, ou quando em declarações públicas, como a que fez
este passado sábado na Comissão Nacional, rejeita qualquer possibilidade de
bloco central, na prática Costa tem ensaiado agora uma aproximação às políticas
de direita. E isso vê-se não apenas nas nomeações de Costa Silva ou de Assis,
mas no chumbo, em conjugação com o PSD, de muitas propostas para defender o
país e quem trabalha, apresentadas pelos partidos à esquerda.
A pandemia lançou
grandes desafios e mostrou-nos que nestes momentos mais difíceis é o Serviço
Nacional de Saúde, é a Escola Pública, são os serviços públicos fortes e bem
organizados que nos podem salvar. E mostrou-nos que o país continuou a
funcionar graças aos muitos milhares de trabalhadores que nunca pararam.
É preciso, pois,
que o Partido Socialista não embarque agora em agendas liberais nem em
aproximações à direita, que não nos ajudarão a relançar a economia, a criar
emprego e a manter rendimentos e aposte antes no reforço do Estado Social e no
reconhecimento dos direitos de quem trabalha e, de facto, cria riqueza.
Veremos se o PS
consegue resistir à pressão dos interesses económicos e à tentação do bloco
central ou se sacrificará o mandato que recebeu aos interesses de alguns.
Até para a
semana.
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