segunda-feira, 6 de julho de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM



MARIA HELENA FIGUEIREDO

                                      Diz-me com quem votas, dir-te-ei quem és
A indigitação de Francisco Assis para o conselho de concertação social apanhou de surpresa muita gente.
Assis, não é um mero crítico da actual direcção do Partido Socialista, é um defensor do bloco central e manifestou-se sempre contra alianças à esquerda. Nomeá-lo para o CES é uma clara cedência do Partido Socialista às confederações patronais e à direita.
Também a nomeação de António Costa Silva, um gestor do petróleo que publicamente se manifestou contra os acordos à Esquerda, numa trapalhada em que foi apresentado como coordenador dos ministros e depois apenas como consultor para elaboração do Programa de Recuperação Económica e Social 2020-2030, mostra bem como o Partido Socialista está cada vez mais capturado pelos grandes interesses e pela visão de direita.
Cedências à direita que não auguram nada de bom nem para os trabalhadores nem sequer para o Partido Socialista, mas que sobretudo violam o sentimento popular expresso nas últimas eleições.
Por isso é bom revisitar as afirmações e compromissos de Costa, para melhor se ver o percurso pelo qual, afinal, o Partido Socialista está a enveredar.
Como todos nos lembramos, ainda não há um ano que se realizaram as eleições legislativas de onde saiu um parlamento maioritariamente de esquerda.
Os quatro partidos que celebraram os acordos e puseram termo à governação desastrosa do PSD/CDS, e devolveram ao Parlamento o papel decisivo na vida política, somaram mais de 52% dos votos populares, com o Partido Socialista a beneficiar claramente do percurso de recuperação dos salários e das pensões, conseguido com o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista e os Verdes.
Foi a chamada Geringonça que permitiu aprovar medidas, ainda que tímidas, e que a economia começasse a respirar e foi nessa perspectiva que muitos e muitas votaram.
No rescaldo das eleições de 6 de Outubro, António Costa afirmou “os portugueses gostaram da geringonça e desejam a continuidade da actual solução política”.
Apesar dos resultados, Costa sabia que sem a maioria absoluta, precisaria dos parceiros de esquerda para fazer passar o programa de governo e o orçamento.
Mas ainda assim fugiu de celebrar novo acordo com o Bloco de Esquerda e afastou qualquer compromisso que o amarrasse.
E ao contrário do que continua a afirmar quando diz que quer prosseguir na linha traçada em 2015 com os parceiros de esquerda, ou quando em declarações públicas, como a que fez este passado sábado na Comissão Nacional, rejeita qualquer possibilidade de bloco central, na prática Costa tem ensaiado agora uma aproximação às políticas de direita. E isso vê-se não apenas nas nomeações de Costa Silva ou de Assis, mas no chumbo, em conjugação com o PSD, de muitas propostas para defender o país e quem trabalha, apresentadas pelos partidos à esquerda.
A pandemia lançou grandes desafios e mostrou-nos que nestes momentos mais difíceis é o Serviço Nacional de Saúde, é a Escola Pública, são os serviços públicos fortes e bem organizados que nos podem salvar. E mostrou-nos que o país continuou a funcionar graças aos muitos milhares de trabalhadores que nunca pararam.
É preciso, pois, que o Partido Socialista não embarque agora em agendas liberais nem em aproximações à direita, que não nos ajudarão a relançar a economia, a criar emprego e a manter rendimentos e aposte antes no reforço do Estado Social e no reconhecimento dos direitos de quem trabalha e, de facto, cria riqueza.
Veremos se o PS consegue resistir à pressão dos interesses económicos e à tentação do bloco central ou se sacrificará o mandato que recebeu aos interesses de alguns.
Até para a semana.


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