LÁ MESMO DO FUNDO DO BAÚ

Numa altura de tremendas dificuldades, em que mais cedo ou mais tarde a pobreza, a miséria, talvez mesmo a fome, não deixarão de nos bater à porta, achei interessante recordar este acto que rebusquei bem lá no fundo do baú e que em tempos me foi enviado por mão amiga

            SOCORRER OS POBRES É ALICERÇAR A PAZ

                                                                PROGRAMA

 Ás 11 horas chegará S Exª o Governador Civil, Srº José Félix de Mira ao limite do Concelho, onde será recebido pela Comissão de Recepção.

 À entrada da Vila estará a Banda Municipal Alandroalense com a sua Direcção, exortando-se toda a população que se associe jubilosamente com a sua presença á recepção de S. Exª, que transportará um vistoso arco triunfal, deslisando seguidamente pela Rua da Estrada e pela de Teófilo Braga, que se encontrarão engalanadas, e se tomará a Direcção da Misericórdia, recebendo a´S. Exª os cumprimentos do Provedor e do Presidente da Comissão Municipal de Assistência.

 Após estes cumprimentos, o Srº Governador, acompanhado pelas autoridades civis e militares, tomará assento numa tribuna adrede preparada, e ante a qual desfilarão as crianças das Escolas do Concelho, Legião Portuguesa e os carros de lavoura pela letra alfabética das Freguesias que constituem o Concelho; indo a vila, sua sede, na retaguarda. Este cortejo postar-se-há, inicialmente, em toda a Rua Mestre de Aviz, para ir desfilando depois, a seu tempo, pela Rua João de Deus, Travessa do Coelho, Arquis, Largo da Matriz, Rua Teófilo Braga e Combatentes da Grande Guerra. Todos os carros que conduzem cereais. Tomarão a direita desta última Rua para se dirigirem ao Largo 19 de Julho, para uma casa a isso destinada deixarem as suas oferendas; dirigindo-se para a esquerda os restantes que tomarão a Rua Drº António José de Almeida e irão à Misericórdia deixar igualmente as suas oferendas.

Um Alandroalense, pobre de haveres materiais, mas rico de amor por todos os necessitados, compôs os quadros que se seguem e decorarão em cartazes os primeiros carros do Cortejo de cada freguesia:

Aqui vai, na sua altura,

Alheio a paixões ruins,

O ALANDROAL co´a a fartura

Dos seus campos e jardins!

O ROSÁRIO vem cumprir

Preceito do Evangelho:

Pois seu pão vem repartir

Com os pobres do Concelho!

Desfila agora, S. TIAGO

De coração compassivo:

Traz aos pobres um afago

Em gesto nobre e altivo!

Reparai: TERENA passa

Toda garbosa e louça!

Para ajudar a desgraça

Trabalho com muito afã!

Complacente, JUROMENHA

Vem dar o que pode e tem,

Para que mais brilho tenha

Esta Cruzada do Bem!

Desfila S.BRAZ DOS MATOS

De Deus sob o santo olhar!

Traz as esmolas dos sensatos,

Nada mais tem que ofertar!

Atenção! Vem CAPELINS

Revestida de bondade.

Não traz rosas de jardins,

Traz as flores da Caridade!

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EVOCAÇÃO

Ó´ gente da minha Terra!

O´Terra da minha gente!

Ouve o que o meu peito encerra,

Eis o que a minha alma sente.

VOTOS

Suavíssima harmonia

Se esparja deste cortejo!

Almas  plenas de alegria,

A vibrar no mesmo arpejo!

Possa este festival,

- Obra do rico e do pobre -

Erguer ao Alandroal,

Alto nome e fama nobre!

REALIDADES

Diga o mundo o que disser,

A esmola é acto amoroso;

Se é dada como Deus quer,

Dá à consciência gozo!

A esmola não envergonha,

Quando sai do coração,

Mas, humilha, quando ponha

Mau intento ou condição!

Desherdados pobrezinhos,

Família de todos nós!

Quem nos nega os seus carinhos,

É mais pobre do que vós.

Alandroal, 25-12-946

Pº Afonso José Alferes

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Notas do Editor:

 Um agradecimento muito grande ao amigo Colaborador que fez o favor de enviar o Programa.

Gostei de transcrever que todo o Concelho do Alandroal sempre foi solidário nos momentos difíceis.

Na altura da primeira publicação em conversa com o meu Pai sobre este acontecimento relatou-me: que o mesmo ficou para sempre na sua memória. Pois recordava-se perfeitamente de Ele e o Manecas (carreiros do Lavrador Chico Garcias) terem vindo do Monte das Águas Frias com dois carros de parelha, ornamentados com Alandros da Ribeira e carregados com sacos de trigo para contribuir para o Cortejo (Afinal poderiam ser fascistas…mas eram solidários e acudiam aos mais desfavorecidos. Será que os grandes capitalistas do presente serão capazes de tais actos? ).

Reparem nos versos compostos por “UM ALANDROALENSE POBRE” poderiam ser facilmente adaptados para um Hino ao Concelho do Alandroal. Haja quem componha a musica e seria por certo uma grande honra para os Cantadores dos Reis e Confraria dos Xixaros,  entre outros, incluírem-no no seu reportório .

Enfim… pode este assunto ser de somenos importância para os mais jovens. No entanto estou confiante que muitos dos nossos leitores já com uma certa idade não vão deixar de recordar  o que aqui lhe damos a conhecer.  Os netos que lhe deem alguma ajuda!

Um abraço (Virtual por ora)

Chico Manuel