RUI MENDES
No ciclo das presidenciais
A
recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Belém está lançada.
Aconteceu
na semana passada numa visita conjunta do presidente da República e do
primeiro-ministro a uma fábrica de produção de automóveis. O lançamento deu-se
pela mão de António Costa num contexto inabitual.
Não
sabemos se aconteceu com o aval do próprio Marcelo Rebelo de Sousa ou não.
Provavelmente não. Talvez nunca o saibamos. Mas isso pouco importará para o
caso.
O
certo é que António Costa, numa visita oficial, deu público apoio à
recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa.
Seguramente
que Marcelo Rebelo de Sousa quereria que as presidenciais só fossem faladas bem
mais tarde, pela simples razão que assim agirá sempre como Presidente da
República e não como eventual candidato a Presidente. Uma e outra coisa fazem
toda a diferença para quem sabe que a reeleição estará praticamente assegurada,
mas que não estará o facto de poder ser o presidente da república eleito com a
maior votação de sempre. Algo que será um objetivo de Marcelo.
Este
apoio público de António Costa, na qualidade de primeiro-ministro, será também
o apoio do governo e, certamente, o apoio dos socialistas.
Costa
quis antes de mais marcar já a sua posição sobre as presidenciais, forçando
também a do seu partido.
Fê-lo
quando menos se esperaria.
Fê-lo
para retirar espaço a uma eventual candidatura no seu espaço político que lhe
pudesse tirar protagonismo, poupando o seu partido a uma derrota eleitoral e
associando-se, em primeiro lugar, a uma candidatura vencedora.
Fê-lo
para retribuir o apoio que o atual presidente da República tem dada à
governação. Sempre que foi necessário Marcelo Rebelo de Sousa esteve presente a
ajudar o governo. E quando não foi necessário também lá esteve.
Talvez
por este apoio ter sido demasiado terá, naturalmente, perdido a simpatia de
algum eleitorado da direita que o apoiou, e que o fez eleger em 2016.
Não
se pretende um presidente da república que seja um permanente entrave à
governação. Nada disso. O país precisa de cooperação entre as instituições. Mas
em muitos momentos, temos de confessar, víamos mais o PR como um “membro” da
governação do que como PR, mais como um
apoiante
inquestionável da governação do que como PR, mais como um porta voz do governo
do que como PR.
Muitas
metas ficaram há muito por atingir, objetivos por cumprir, uma divida pública a
crescer, um país que se contenta com pouco e que lhe falta ambição, nada disto
tendo acontecido pela crise do novo coronavírus que tem apenas uns três meses,
mas nada disto foi alguma vez abordado pelo presidente da República. Para o PR
tudo está bem e bem está tudo, são afetos e mais afetos, elogios e mais elogios
a tudo e a todos, e por aqui ficamos. Bem sabemos que é disto que o povo gosta.
MRS sabe isso muito bem. Por isso teve uma especial atenção na gestão do
mandato.
Esquecendo-se
de quem o apoiou, esquecendo-se das suas origens, esquecendo-se de que havia
metas a cumprir, aceitando permanentemente o discurso governativo de que está
sempre tudo bem, quer quando está, quer quando não está.
Lamentavelmente
conhecemos outros que também se “deslocaram” politicamente para campos que lhes
permitem maior segurança eleitoral. É um dos males da política e com isso temos
de viver.
A
forma e o momento como aconteceu o lançamento da recandidatura de MRS apanhou a
direita de surpresa, a qual terá ficado porventura sem candidato, e fez estalar
o verniz nos socialistas, alguns ainda não terão esquecido 2016 e jamais
pensariam apoiar (formalmente), em 2021, Marcelo Rebelo de Sousa para a
presidência da república.
Daqui
para a frente haverá muito a repensar para as presidenciais. Contudo, o tempo
começa a escassear.
Até
para a semana
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