O novo Coronavírus e as lições
da História
E subitamente, a
vida fica em suspenso. A quantos de nós nos passaria pela cabeça que um
fenómeno ocorrido na tão distante China pudesse em tão pouco tempo alterar
completamente os hábitos de vida do mundo ocidental. O fenómeno da
globalização, em poucas semanas, fez alastrar de forma assustadora o
desconhecido e temível inimigo.
Temos escutado agora as mais
bizarras teorias da conspiração sobre eventuais motivações políticas ou
económicas associadas ao Coronavírus.
Confesso que nenhuma delas me
parece plausível. Na minha opinião, trata-se somente de uma resposta da
Natureza, que ciclicamente e ao longo da História, nos tem dado exemplos de
epidemias e pandemias de diferente tipologia.
Por outro lado, será justo
acusar a China da prática de hábitos alimentares, em termos de consumo de
animais selvagens, como a responsável por tudo o que estamos a viver?
Seguramente, no futuro, teremos uma resposta, assim como um julgamento em
relação a tudo o que foi feito, ou não, para combater esta catástrofe. Líderes
mundiais, governos e políticos dos diferentes países, OMS, FMI e União Europeia
serão seguramente escrutinados sobre tudo o que infelizmente está a acontecer.
Era sabido que, a dado momento,
uma nova pandemia iria surgir para colocar em risco a humanidade. A questão que
se irá colocar é a seguinte: será que tudo foi feito, em termos de prevenção?
Ou outros investimentos em distintos sectores se tornaram prioritários?
Deveriam as entidades com competência na matéria ter preparado os sistemas de
saúde para algo que iria seguramente ocorrer, mais tarde ou mais cedo?
Uma reflexão sobre o tema será
inevitável. Ainda é cedo para isso. Importa agora salvar vidas.
No que toca ao Alentejo, fomos
muitas vezes atingidos por pestes, cóleras, tifos, varíolas e, no início do
século XX, pela “Gripe Espanhola”, cujo primeiro caso foi registado em Vila
Viçosa em Maio de 1918. A Pneumónica, como também ficou conhecida, foi trazida
por um calipolense que trabalhava nos campos de Badajoz e de Olivença. A partir
daqui, espalhou-se por todo o país, com uma taxa de mortalidade bastante
significativa.
À semelhança do que acontece com
o Coronavírus, a ciência desconhecia a Gripe Espanhola. O sistema de saúde
pública não estava minimamente preparado para enfrentar esta ameaça. O impacto
foi devastador. Utilizaram-se as mais variadas e ineficazes mezinhas,
fizeram-se fogueiras públicas para purificar o ar e colocava-se o gado pelas
ruas das aldeias alentejanas para retemperar o ambiente empestado. Nada
resultou e a pandemia grassou sem controlo, até à descoberta da vacina, que só
ocorreu em 1944.
Ao consultar a documentação,
podemos constatar que muitas das medidas implementadas para enfrentar os
problemas em termos de prevenção foram muito semelhantes às recomendações hoje
defendidas pelos especialistas, apesar dos vírus serem diferentes: isolamento
social, cuidados higiénicos mais efetivos e a proteção aos mais idosos.
Para além desse facto, o que
mais se destacou no combate aos diferentes flagelos no caso de algumas
localidades alentejanas ao longo do tempo, foi a solidariedade e a união,
fundamentais para resolver os problemas. As crónicas revelam que as
instituições locais, os médicos, os políticos e as comunidades se envolveram
com uma dedicação total para apoiar os enfermos, os mais necessitados e os que
ficaram privados do seu trabalho. Talvez fosse este o exemplo a ser seguido por
alguns países que neste momento, esquecem os laços fraternais e a mensagem que
está na génese da União Europeia e olham somente para o seu próprio umbigo.
A ciência terá que percorrer um
caminho até encontrar um tratamento eficaz. Até lá, só a solidariedade nos
poderá salvar!
Vale a pena aprender com a
História.
In:
2 comentários:
OBS.
Diria em tom de brevíssimo aditamento " que quem desconhece a História
está condenado a repeti-la".
Importa ainda referir que, ao longo da nossa História, fomos tendo por cá
todos os Cataclismos que foram atingindo a Vida Humana. Uma das diferenças
esteve, contudo, nos que lideraram com coragem e competência os
destinos das Comunidades. Tivemos Homens assim. Temos que os ter agora
novamente. Grandes, com firmeza e clareza aos mais diversos níveis.
S.D.
ANBerbem
Passei parte da minha vida em Angola. Na Luanda dos anos sessenta e setenta.
E uma das minhas mais vivas recordações é o carro da "Tifa".
E o era o carro da "Tifa"?
Pois bem... era uma carrinha VW, tipo "pão de forma", de caixa aberta, que transportava uma complicada aparelhagem que ia espalhando, pulverizando as ruas com aquele fumo branco, espesso... calculem, com DDT.
Garoto inconsciente do mal que o DDT - hoje, como sabemos, proibido - me poderia causar, eu deixava-me envolver por aquela nuvem que matava toda a mosquitagem da febre amarela, da malária, tifóides de toda a espécie e até derrubava o "catalotolo", que era uma praga terrível.
Para certas doenças ainda era melhor, diziam os os copofónicos, que um bom e geladinho gin tónico.
Resguardem-se e não se fiem em conversas malucas por mais densas que sejam!
Cumprimentos
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