segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

MEMÓRIAS DO CARNAVAL - Por Chico Manuel

Sempre gostei do Carnaval.
Não porque fosse um danado brincalhão, mas sim por ver que nesses dias as pessoas se tornavam mais  felizes e divertidas, atirando as tristezas para detrás das costas, e com a mesa mais farta porque com mais ou menos sacrifícios nunca faltavam “os fritos” (azevias, filhós, nógados, borrachos) e o imprescindível  arroz doce.
No meu tempo de menino minha mãe fazia sempre questão de arranjar uma fatiota para eu me mascarar. Emprestada, claro. Confesso que era “coisa” que não me agradava (não só pelo desconforto, como pelo cheiro a naftalina que se entranhava nas narinas e comentários que sempre surgiam em termos comparativos.
Adorava isso sim, andar atrás da Banda tocando coisas alegres, apropriadas à quadra (felizmente hábito que ainda hoje se mantém), assistir ás contradanças vindas das Freguesias e à noite ir aos bailaricos, em especial a casa da Teonila, onde o Carnaval sempre se comemorava.
Guardo na memória a saída dos foliões sempre da oficina do Mestre Manuel Luís com o “Forma das Caraças” a comandar a troupe. Era lá que também se iniciava na quarta-feira de Cinzas o Enterro do Entrudo, que percorrendo as Ruas da Vila era acompanhado por elementos da Banda.
 Contava-se, que numa dessas folias, foram todos presos, porque tiveram a ousadia de acompanhar o morto Entrudo, tocando a Marcha Fúnebre, ensaiada para ser estreada  na Procissão do Senhor Morto, que se irias efetuar sexta feira de cinzas.
Já na mocidade relembro os bailes nas respectivas Sociedades: Artística, e Musica. Iniciavam-se Sábado de Carnaval e prolongavam–se pelos quatro dias, com ambas sempre a abarrotar de gente. As matines, mais na Sociedade da Musica,  duravam  até à hora de começar o baile.
Os tempos entretanto mudaram. As Sociedades desapareceram e com elas os bailes tradicionais.
Com a fundação da Associação dos Bombeiros Voluntários e no intuito de se angariar algum capital os bailaricos de Carnaval voltaram a ser uma realidade no Alandroal.
No casão que servia para albergar as viaturas, foram na altura realizados grandes bailes. Com a casa sempre à cunha, e a preços de entrada simbólicos a função tornava-se divertida, por vezes até em excesso, pelo hábito de usar farinha para esfregar na cara de cada um (enfarinhar).
Felizmente, e nas noites de Sábado e Segunda-feira, com bailes, e Domingos com Matine a tradição continua a cumprir-se.
Recordo no entanto outros Carnavais passados noutras localidades e que me permitiram muitas horas de alegria e francas gargalhadas.
Na Póvoa de Santa Iria, onde vivi os 18/19 anos não esqueço o Enterro do Chouriço, onde a multidão acompanhava o funeral do Entrudo com padre e sacristão (mascarados) que faziam declamação de versos alusivos aos “escândalos locais” parando à porta dos visados, que ainda por cima os obsequiavam.
Também em Reguengos os bailes das Sociedades eram grandiosos, com muitos mascarados e onde num certo Carnaval me vi a contas com a Justiça, pois à falta de melhor serviu-me de máscara a Bandeira Nacional, ao que a G-N.R. não achou muita graça,
Mais recentemente já aqui em Montemor era hábito organizar a chamada “Serração da Velha” que em jeito de teatro parodiava situações políticas, quer locais quer nacionais, programas televisivos, ou situações vividas pela população, e que conseguiam arrancar fortes gargalhadas da assistência que esgotavam quer o Curvo Semedo, quer a Carlista. Também os Bombeiros Voluntários contribuíam e muito para proporcionar tardes agradáveis durante o Carnaval parodiando os sucessos musicais da altura.
De há uns anos atrás a Junta de Freguesia em colaboração com outras entidades locais meteram mãos à obra e organizam um desfile Carnavalesco que tem vindo a crescer de ano para ano, alem dos tradicionais bailes nas Sociedades com especial destaque para o baile de máscaras que se realiza na Sociedade Carlista
Tenham então um bom Carnaval e divirtam-se. Vamos pelo menos por três dias esquecer as tristezas desta vida, os IVAS e os IRSsss, os Salgados e as Isabelinhas, o Ventura e a  Joacine o Porto e o Benfica e que a paródia prevaleça!
Chico Manuel


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