Não porque fosse um danado brincalhão, mas sim por ver que nesses dias as
pessoas se tornavam mais felizes e
divertidas, atirando as tristezas para detrás das costas, e com a mesa mais
farta porque com mais ou menos sacrifícios nunca faltavam “os fritos” (azevias,
filhós, nógados, borrachos) e o imprescindível arroz doce.
No meu tempo de menino minha mãe fazia sempre questão de arranjar uma
fatiota para eu me mascarar. Emprestada, claro. Confesso que era “coisa” que
não me agradava (não só pelo desconforto, como pelo cheiro a naftalina que se
entranhava nas narinas e comentários que sempre surgiam em termos comparativos.
Adorava isso sim, andar atrás da Banda tocando coisas alegres, apropriadas
à quadra (felizmente hábito que ainda hoje se mantém), assistir ás contradanças
vindas das Freguesias e à noite ir aos bailaricos, em especial a casa da
Teonila, onde o Carnaval sempre se comemorava.
Guardo na memória a saída dos foliões sempre da oficina do Mestre Manuel
Luís com o “Forma das Caraças” a comandar a troupe. Era lá que também se
iniciava na quarta-feira de Cinzas o Enterro do Entrudo, que percorrendo as
Ruas da Vila era acompanhado por elementos da Banda.
Contava-se, que numa dessas folias, foram todos presos, porque
tiveram a ousadia de acompanhar o morto Entrudo, tocando a Marcha Fúnebre,
ensaiada para ser estreada na Procissão do Senhor Morto, que se
irias efetuar sexta feira de cinzas.
Já na mocidade relembro os bailes nas respectivas Sociedades: Artística, e
Musica. Iniciavam-se Sábado de Carnaval e prolongavam–se pelos quatro dias, com
ambas sempre a abarrotar de gente. As matines, mais na Sociedade da Musica,
duravam até à hora de começar o baile.
Os tempos entretanto mudaram. As Sociedades desapareceram e com elas os
bailes tradicionais.
Com a fundação da Associação dos Bombeiros Voluntários e no intuito de se
angariar algum capital os bailaricos de Carnaval voltaram a ser uma realidade
no Alandroal.
No casão que servia para albergar as viaturas, foram na altura realizados
grandes bailes. Com a casa sempre à cunha, e a preços de entrada simbólicos a
função tornava-se divertida, por vezes até em excesso, pelo hábito de usar
farinha para esfregar na cara de cada um (enfarinhar).
Felizmente, e nas noites de Sábado e Segunda-feira, com bailes, e Domingos
com Matine a tradição continua a cumprir-se.
Recordo no entanto outros Carnavais passados noutras localidades e que me
permitiram muitas horas de alegria e francas gargalhadas.
Na Póvoa de Santa Iria, onde vivi os 18/19 anos não esqueço o Enterro do
Chouriço, onde a multidão acompanhava o funeral do Entrudo com padre e
sacristão (mascarados) que faziam declamação de versos alusivos aos “escândalos
locais” parando à porta dos visados, que ainda por cima os obsequiavam.
Também em Reguengos os bailes das Sociedades eram grandiosos, com muitos
mascarados e onde num certo Carnaval me vi a contas com a Justiça, pois à falta
de melhor serviu-me de máscara a Bandeira Nacional, ao que a G-N.R. não achou
muita graça,
Mais recentemente já aqui em Montemor era hábito organizar a chamada
“Serração da Velha” que em jeito de teatro parodiava situações políticas, quer
locais quer nacionais, programas televisivos, ou situações vividas pela
população, e que conseguiam arrancar fortes gargalhadas da assistência que
esgotavam quer o Curvo Semedo, quer a Carlista. Também os Bombeiros Voluntários
contribuíam e muito para proporcionar tardes agradáveis durante o Carnaval
parodiando os sucessos musicais da altura.
De há uns anos atrás a Junta de Freguesia em colaboração com outras
entidades locais meteram mãos à obra e organizam um desfile Carnavalesco que
tem vindo a crescer de ano para ano, alem dos tradicionais bailes nas
Sociedades com especial destaque para o baile de máscaras que se realiza na
Sociedade Carlista
Tenham então um bom Carnaval e divirtam-se. Vamos pelo menos por três dias
esquecer as tristezas desta vida, os IVAS e os IRSsss, os Salgados e as
Isabelinhas, o Ventura e a Joacine o
Porto e o Benfica e que a paródia prevaleça!
Chico Manuel
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