CLAUDIA
SOUSA PEREIRA
Vote Marega!
Claro
que o título que dei a esta crónica é uma brincadeira, mas, como toda a
brincadeira, parte da simulação de assunto sério. Neste caso, o de Marega,
criou-se uma confluência de assuntos sérios, sobre os quais muito mais já havia
a fazer. É que o mundo do futebol não serve de referência para o mundo da
Política séria, porque predispõe para certos comportamentos apaixonados que,
muitas vezes até, toldam a visão sobre o próprio desporto como um todo. Além de
que, quase sempre, o motivo para os jogadores e treinadores pertencerem a uma
equipa é profissional, contratual entre partes, e não para beneficiar a
modalidade. Quando muito, os valores de base do desporto em geral, e geralmente
desvirtuados, podem ser relembrados e usados como ferramenta de sensibilização
para comportamentos exemplares. O desespero de Marega parece ter feito mais do
que muitas campanhas sobre os comportamentos inapropriados dos adeptos. Ficava
mais contente ainda se o Marega, para além do combate ao racismo e à xenofobia,
defendesse, também exemplarmente, o fim de comportamentos sexistas e
homofóbicos.
Além disto, fico quase aliviada
pelas questões do racismo em Portugal terem deixado de ser monopólio da
deputada não-inscrita da Assembleia da República. E parece-me bem que uma data
de gente tenha passado a ter provas de que eram tidos como aceitáveis
comportamentos racistas a reboque do calor da emoção no futebol, mas que
ultrapassam o uso de linguagem de fino recorte vicentino e são, na verdade,
também inadmissíveis ofensas, em público e com testemunhas.
O outro motivo do meu “Viva” em
forma de “Vote” foi o faux-pas no tweet – depois cobardemente retirado, como é
próprio dos populistas – do deputado “Chaga! Besta!”, ou lá que interjeição é
que o define. Julgando que os anti-dragões se punham ao lado dos racistas
assanhados pela bola, resolveu chamar hipócritas aos que apoiaram Marega. Mediu
mal os Portugueses que ouvem quem tem responsabilidades e cuja opinião
influencia.
Posto isto, uma andorinha não faz
a Primavera e o caso Marega deveria ser só a primeira de mais iniciativas que
figuras públicas e populares podem fazer para contradizer, sem nada a perderem
individualmente, figuras que, para ganhos pessoais, assumem discursos
populistas para se tornarem populares. É que se os vermes começaram a sentir o
lodo ao seu dispor para aparecerem a chafurdar, todos os outros, sem se
agacharem ao nível do verme na esperança de um lugar de topo nesse lodo, podem
começar a caçá-los. E usá-los como isco para outros iguais a eles. Com astúcia
e, sobretudo, com muita elevação. Não será fácil, mas o ambiente melhorará,
conclusão a que a História e a Memória nos ajudarão também a chegar.
Até para a semana.
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