segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A IMPORTÂNCIA DA FORTALEZA DE JUROMENHA NA VIDA DE GERALDO «O SEM PAVOR»

Da publicação “Estorias de Portugal de Fernando – António Almeida – Edição Circulo de Leitores 2020.
                                         «AS DUAS TRAIÇÕES DE GERALDO
(Geraldo Geraldes, o “Sem Pavor”
É esta então a história de Geraldo, o cristão que, á frente do seu grupo de salteadores, conquistou muitas povoações que estavam em poder dos muçulmanos e mantinha os muçulmanos aterrorizados com as suas investidas. Mas, antes de mais, fique-se a saber como Geraldo actuava com seus homens. Ele escolhia sempre as noites frias e chuvosas, caminhando debaixo da chuva e da neve para atacar as cidades de surpresa.
Era assim que, carregando altas escadas de madeira, o seu grupo de salteadores se aproximava das muralhas da cidade sem ser apercebido. Encostavam então as escadas aos muros e Geraldo era o primeiro a subir e a surpreender o vigia muçulmano que, confiado, estava mergulhado no sono. E Geraldo, que falava perfeitamente a língua árabe, dominava o vigia e, sob a ameaça da morte, obrigava-o a repetir as palavras de vela, como se tudo estivesse tranquilo e não ocorresse nenhuma novidade que pudesse alertar a guarnição do castelo.
E quando todos repousavam confiados, os homens do bando de Geraldo, a que por sua temeridade alcunhavam de “Sem Pavor”, encostavam silenciosamente as escadas aos muros e por elas subiam sem serem ouvidos e uma vez que chegavam ao cimo da muralha davam uma terrível grita de terror e entravam na cidade, apanhando de surpresa os moradores, chacinando todos que encontravam e uma vez dominados os defensores saqueavam o que podiam arrastando consigo presas e cativos.
E foi assim também que Afonso Henriques, o Senhor de Coimbra, operou para conquistar a rica cidade de Santarém, no ano de 1147, quando, depois que a entrou com os seus, fez grande mortandade entre homens, mulheres e moços e o sangue era tanto pelas ruas que parecia um rio, o que aconteceu em 1147. E  foi assim que, duas dezenas de anos depois, Geraldo tomou a opulenta cidade de Évora e Cáceres e Trjillo. E tomou Montánchez e Serpa e Juromenha, castelo em que se instalou.
 E ainda no ano de 1168, o galego Geraldes atacou Badajoz que pretendia tomar e obrigou as tropas do governador Abu Ali Omaribne Temecelite a buscarem refugio na alcáçova. E Geraldo depois chamou em seu auxílio o Senhor de Coimbra, mas este acabou por ser aprisionado por Fernando, o Baboso, rei de Leão. E Geraldo foi feito também prisioneiro pelos Castelhanos, mas foi libertado dando em troco alguns castelos que tinha conquistado aos Almoádas.
E dizem que o galego Geraldo, tendo estabelecido o seu poder em Juromenha, continuou a tentar apossar-se da cidade de Badajoz, tendo travado muitas batalhas e combatido os socorros que chegavam de Sevilha, ajudado de moçárabes e dos habitantes da cidade de Santarém que agora estava em poder dos cristãos. E assim continuou Geraldo  a atacar o poder almoáda, até que, dizem por grandes desavenças com Ibne Arrinc, o senhor galego de Coimbra, Geraldo Sem Pavor, se foi por ao serviço do califa Iuçufe, que então governava em Sevilha.
Geraldo em Sevilha, com os seus homens, submeteu-se a Iuçofe, renegando dos cristãos e de Ibne Arrinc, coisa de que este teve muito pesar. Depois o príncipe dos crentes partiu para Marraquexe, levando consigo estes cristãos, mandando-os instalar no Suz, junto à costa do mar. Mas dizem que daí Geraldo se começou a cartear com o senhor galego que estava em Lisboa, mas o correio foi interceptado.
E depois que isto soube, o califa mandou chamar Geraldes a Marraquexe e depois mandou-o para Drá, escrevendo-lhe: «Quando te enviar Geraldo e os seus companheiros, reparte os seus homens pelas tribos. E quanto a Geraldo mata-o porque está provada que me fazia traição.» Chegando ele a Drá, Muça, o governador, mandou cortar a cabeça a Geraldo, como lhe tinha ordenado o príncipe dos crentes. E dizem que isto sucedeu no ano de 1174.»

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