MARIA HELENA FIGUEIREDO
Superintensivas à
porta: não obrigada!
Abrir a janela ou vir ao quintal respirar
o ar fresco, são gestos simples do quotidiano para muitos de nós, mas podem ter
os dias contados para os moradores de Veiros, no concelho de Estremoz.
Passo
a explicar. Se nada for feito, muitos dos habitantes de Veiros terão em breve
literalmente à sua porta um olival intensivo.
Tudo
começou com a água. Com a construção da barragem de Veiros, em meados de 2015,
uma aspiração antiga da terra e um investimento público de 25 milhões de Euros,
a água tornou-se acessível à agricultura.
Mas
ao contrário do que seria uma vantagem para a localidade, com a água vieram os
projectos de agricultura intensiva e superintensiva, e com eles um pesadelo
para muitos dos que lá vivem.
Junto
à Eira da Pedra Alçada, estão a decorrer os trabalhos para instalação de um
olival intensivo ou superintensivo, que chega às casas das pessoas que lá
vivem. Cerca de 10 metros, nalguns casos 15, separam as habitações ali
existentes dos terrenos que estão já a ser preparados.
As
terras estão a ser profundamente mobilizadas e vêem-se grandes montes de terra
retirada nas operações de aplanamento dos terrenos e despedrega que estão a ser
levadas a cabo. Uma destruição do solo, a que as entidades publicas também vão
fechando os olhos.
A
plantação essa vai chegar junto dos muros dos quintais e a população está
preocupada. E pergunta-se: Que lhes vai acontecer? Como poderão continuar a
comer das suas hortas, a respirar um ar cheio de químicos das pulverizações,
como estará a água dos poços e furos após a infiltração dos adubos e
fitofármacos?
Estas
são preocupações reais que me foram transmitidas há dias, quando fui a Veiros,
a convite de quem lá vive, para ver directamente o que custa a acreditar esteja
a ser feito, perante a indiferença e até cumplicidade das entidades públicas.
Não, não era exagero, o olival intensivo vai chegar a poucos metros das casas.
E
de facto as preocupações dos moradores têm toda a razão de ser. Mesmo nos casos
em que a produção é desenvolvida em modo integrado, ou seja, seguindo regras
menos danosas para o ambiente, a instalação de um olival intensivo implica
sempre a aplicação adubos, de fungicidas e pesticidas e a pulverizações
regulares, sujeitando a população a respirar o ar contaminado com estes
produtos.
Muitos
destes produtos são glifosatos, muito perigosos para a saúde humana e vão ser
aplicados junto às habitações.
Também
a utilização de fertilizantes e pesticidas vai poluir as águas superficiais e
subterrâneas, águas de poços que muita desta população utiliza.
Aliás,
não deixa de ser de salientar que nenhuma das precauções que se exige à
aplicação de produtos desta natureza em zonas urbanas se exigirá aqui, apesar
de as casas estarem a escassos 10 ou 15 metros.
Alguns
moradores mais despertos para os perigos de ter à porta de casa um olival
intensivo estão a questionar as entidades públicas, mas as respostas ou não
chegam ou quando chegam pouco adiantam, como foi o caso da Junta de Freguesia,
que se limitou a aceitar e transmitir o que os promotores do olival lhe
disseram concluindo que não haverá prejuízo, incómodo ou perigo para os
moradores.
Mas
o que está em causa já não é apenas o impacto ambiental destas culturas
superintensivas. É no imediato a saúde pública que está em causa e nenhum
argumento tornará admissível que se instalem culturas intensivas a 10 ou 20
metros das habitações, seja em Veiros seja noutro qualquer local.
Como
não é admissível que os poderes públicos fechem os olhos e sejam até coniventes
com situações destas, omitindo a sua obrigação primeira que é a protecção das
populações.
Os
Municípios nos seus planos directores de ordenamento e o Parlamento, através da
lei, têm de pôr travão a que o lucro de uns poucos seja, de facto, um passivo
de todos nós.
Até
para a semana!
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