EDUARDO LUCIANO
A luta continua
Era uma vez um homem que a avida
empurrou para o lado dos explorados e oprimidos e que aos 18 anos, em plena
ditadura dos exploradores e opressores, decidiu aderir ao Partido que o regime
tinha a ambição ridícula de eliminar.
Num
Verão que supomos quente como todos, deixou de ter existência legal e mergulhou
na clandestinidade e em 1962 participou na direcção da luta pela jornada de
oito horas nos campos, desde o seu início até conquista do objectivo.
A
sua coragem foi, como a de muitos outros, premiada com a prisão e a tortura. Os
esbirros do fascismo pensavam que o podiam vergar com a violência e
sujeitaram-no a brutais espancamentos impedindo-o de dormir durante 18 dias e
18 noites consecutivas.
Num
dos seus julgamentos em de Maio de 1961, foi espancado em pleno Tribunal da
Boa-Hora.
Participou
na histórica fuga de Caxias para regressar à luta contra o fascismo e voltar a
ser preso em 1971.
Foi
libertado do Forte de Peniche nos dias que se seguiram à Revolução de Abril e
continuou a olhar o futuro por conquistar, nas mais diversas tarefas que foram
necessárias realizar.
Foi
deputado, eleito municipal e dirigente do seu Partido de sempre, assumindo um
papel determinante na construção de todo o processo da Reforma Agrária.
Homens
como este não se retiram, não descansam, não fazem avaliações sobre o que deram
da sua vida, pela liberdade e pela construção de uma sociedade mais justa.
Nos
últimos anos foram muitas as vezes que contou aos mais novos as suas
experiências, as condições de vida miseráveis do proletariado rural do Alentejo
e como o colectivo partidário organizava a luta.
Muitos
dos que com ele contactaram ficaram para sempre marcados pelo seu testemunho
desprendido, sereno, sem tiques de valorização individual que seriam tão
fáceis. Para este homem apenas fez o que tinha de ser feito, integrado no único
colectivo onde era possível fazê-lo.
Morreu
aos 92 anos, em Montemor-o-Novo, certamente de consciência tranquila.
Chamava-se
António Gervásio e dele ficamos com o exemplo de quem nunca deixa de fazer o
que tem de ser feito neste tempos sombrios onde a ameaça do fascismo volta a
pairar sobre as nossas cabeças.
Os
tempos são outros, as formas de opressão são outras, as formas de luta são
outras, mas é com homens como António Gervásio que aprendemos a nunca desistir.
Até
para a semana
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