quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

A CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM


                                                                                                  EDUARDO LUCIANO
                                                    A luta continua
Era uma vez um homem que a avida empurrou para o lado dos explorados e oprimidos e que aos 18 anos, em plena ditadura dos exploradores e opressores, decidiu aderir ao Partido que o regime tinha a ambição ridícula de eliminar.
Num Verão que supomos quente como todos, deixou de ter existência legal e mergulhou na clandestinidade e em 1962 participou na direcção da luta pela jornada de oito horas nos campos, desde o seu início até conquista do objectivo.
A sua coragem foi, como a de muitos outros, premiada com a prisão e a tortura. Os esbirros do fascismo pensavam que o podiam vergar com a violência e sujeitaram-no a brutais espancamentos impedindo-o de dormir durante 18 dias e 18 noites consecutivas.
Num dos seus julgamentos em de Maio de 1961, foi espancado em pleno Tribunal da Boa-Hora.
Participou na histórica fuga de Caxias para regressar à luta contra o fascismo e voltar a ser preso em 1971.
Foi libertado do Forte de Peniche nos dias que se seguiram à Revolução de Abril e continuou a olhar o futuro por conquistar, nas mais diversas tarefas que foram necessárias realizar.
Foi deputado, eleito municipal e dirigente do seu Partido de sempre, assumindo um papel determinante na construção de todo o processo da Reforma Agrária.
Homens como este não se retiram, não descansam, não fazem avaliações sobre o que deram da sua vida, pela liberdade e pela construção de uma sociedade mais justa.
Nos últimos anos foram muitas as vezes que contou aos mais novos as suas experiências, as condições de vida miseráveis do proletariado rural do Alentejo e como o colectivo partidário organizava a luta.
Muitos dos que com ele contactaram ficaram para sempre marcados pelo seu testemunho desprendido, sereno, sem tiques de valorização individual que seriam tão fáceis. Para este homem apenas fez o que tinha de ser feito, integrado no único colectivo onde era possível fazê-lo.
Morreu aos 92 anos, em Montemor-o-Novo, certamente de consciência tranquila.
Chamava-se António Gervásio e dele ficamos com o exemplo de quem nunca deixa de fazer o que tem de ser feito neste tempos sombrios onde a ameaça do fascismo volta a pairar sobre as nossas cabeças.
Os tempos são outros, as formas de opressão são outras, as formas de luta são outras, mas é com homens como António Gervásio que aprendemos a nunca desistir.
Até para a semana


Sem comentários: