MARIA HELENA FIGUEIREDO
O povo é quem mais ordena
Para falar do que se passa na Catalunha podia começar hoje esta crónica por
lembrar o artº 1º da Carta da Nações Unidas e o reconhecimento do direito à
autodeterminação dos povos.
Mas prefiro as palavras de Zeca Afonso que foram a senha para a revolução
de Abril e que são mais inspiradoras:
O povo é quem mais ordena!
É esta a questão fundamental que se põe na Catalunha e que os Governos da
Espanha se têm sistematicamente recusado a aceitar, tornando as ruas de
Barcelona e de outras cidades catalãs verdadeiros campos de batalha.
A Constituição espanhola reconhece a Catalunha como uma nação, mas os
sucessivos governos não querem reconhecer o direito de o povo catalão se
pronunciar sobre o seu futuro colectivo.
Depois da realização há 2 anos de um referendo que decorreu sob forte e
violenta intervenção policial e que fez quase mil feridos, o Estado Espanhol
promoveu a prisão dos líderes independentistas catalães eleitos
democraticamente para o parlamento e rejeitou, desde então, qualquer via para o
diálogo.
Abriu com esta actuação um período de confronto sistemático com os
catalães, com perseguição de activistas, prisões e cargas policiais sobre as
manifestações, numa evidente deriva autoritária, que levou o Grupo de Trabalho
da ONU sobre Detenções Arbitrárias a concluir, em Maio deste ano, que a Espanha
estava a violar o direito internacional e devia libertar e compensar os líderes
catalães presos.
Há dias a condenação pelo Supremo Tribunal dos 9 ex-governantes e
activistas catalães a pesadas penas de prisão até 13 anos, veio reacender a
indignação e trazer para as ruas mais de meio milhão de catalães exigindo a
libertação dos presos políticos e a autodeterminação.
Às manifestações pacíficas que desde então se sucedem, têm-se seguido
noites de confrontos entre grupos de jovens e a polícia, que fizeram já
centenas de feridos e muitas detenções. A contestação, com feridos e detenções,
chegou já também a Madrid.
O Governo Espanhol persiste numa via de repressão e judicialização,
aprofundando assim o conflito, em vez de abrir canais para o diálogo, para uma
negociação política, reconhecendo o direito dos catalães a decidir como querem
que seja o seu futuro, única via que pode garantir uma saída democrática para a
situação actual.
Uma coisa é certa, a continuar a rejeitar o diálogo,\ esta não é uma luta
que no final o Estado Espanhol ganhe. A repressão pode aumentar, a
autodeterminação pode levar anos a ser conquistada, mas uma coisa é certa e a
história tem-no-lo demonstrado, ninguém trava um povo determinado a tomar as rédeas
do seu destino colectivo.
Até para a semana!
1 comentário:
Transcrição mail enviado pela Rádio Diana:
«Exmo Senhor
Francisco Tata
Vimos por este meio autorizar a transcrição das Crónicas de Opinião, a divulgação de notícias e resultados desportivos sem o objecto de qualquer comentário.
Gratos pela sua atenção e compreensão.
Cumprimentos»
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