ESPELHOS
de PORTUGAL
Uma grande parte das interpretações que
vão ser brevemente aqui expostas, resultam de ensinamentos que temos por
bastante incompletos, de conhecidos autores, sobre um país com nove séculos de
independência. Euro-africano, Ibérico e do Sul europeu.
Seja talvez, por isso, que temos
enquanto «pátria» neste presente bastantes dificuldades em nos olharmos num largo
e nítido espelho. Sobretudo, se for à luz e ao espelho das realidades actuais.
Ou seja, somos um pequeno país, insuficientemente
habitado, somos pobres em várias coisas (embora acreditemos que também somos
ricos noutras); tivemos as revoluções que os outros tiveram; andámos pelo mundo,
fazendo de cristãos, descobridores, mercadores e aventureiros e assim nos fomos
construindo e reconstruindo historicamente até aos nossos tempos.
A)
Podemos
ser também, por vezes, ser vistos como choldra, como brutus (Rodrigo da
Fonseca) como saudosistas e fadistas, novos e falsos ricos, ou até, como um
povo de sonhadores sempre à espera de novos salvadores. Como foram, aliás,
aparecendo certos nomes com um carisma marcante.
Uma coisa é certa: parece-nos como
alguém já disse que «as Elites portuguesas» não estão a merecer o Povo que têm,
o que faz com que sejamos não mais do que “ uma Comunidade pacifica de
(eternos) revoltados”.
Eis, por agora, a posição de M. Torga
com a qual nos identificamos. E pretendemos sublinhar no Al tejo.
B)
Com
as meias vitórias e acidentes que a História foi registando chegámos ao “25 de
Abril de 1974”. A Revolução de Abril foi um caso único no Mundo porque libertou
a sociedade e libertou uma parte do mundo. Repetiu-nos os cravos vermelhos de 1383/85.
Deveu-se a um vasto conjunto de factores
mas o certo é que Portugal inteiro aderiu, o mundo percebeu, e o futuro português
de há quarenta anos para cá viria a ser outro.
De início, com uma roupagem socialista e
depois, ou até hoje, de forma um tanto representativa, democrática, europeísta
e liberal. Isto pese embora termos experimentado projectos políticos vencidos e
vencedores como também é próprio das aspirações e da vida dos povos.
E foi assim, com momentos históricos aos
altos e baixos, que nos fomos aproximando deste século XXI. Cá estamos para
continuar a ser uma Nação mais valente do que imortal…
Isto na medida, em que não há, nem nunca
houve Impérios ou Nações imortais. Com excepção talvez dos Impérios da Língua
visto que, por exemplo, o Latim e o Grego ainda continuam a ser culturalmente usados.
Pessoa tinha essa visão!
C)
Postas
as coisas nestes termos e apresentada esta curta síntese sobre o modo como nos vemos
ao espelho, quarenta e cinco anos depois de Abril, começa a ver-se e a
sentir-se muita coisa que pode estar a destruir e a indesejar esta III
Republica.
Enumeremos, sucintamente,
a falta de um projecto nacional/ internacional que afirme, sem medo, Portugal
no Mundo, o espectro das crises económicas, o nosso baixo nível de vida e de
esperança, para as gerações que aí vêm que não vão ter uma existência melhor
(nem reformas) do que aquela(s) que já tivemos.
As mentiras sociais do
sistema de poderes e a ideologia neoliberal dominante são presentemente estas.
Deram nisto. Exercem-se e embarcaram-nos nisto. Por cá e no Mundo, o caldo
político está assim (re)feito.
Com este cenário externo/ interno existe,
porém, um dado que devia estar a afligir-nos de uma forma marcante: reparemos
que as ditas “Elites portuguesas” parecem não estar à altura do passado recente
e republicano. Deixaram-se corromper!
Eventualmente, ainda com alguns sinais de
uma certa vivência e benefícios socialistas; ou aproximadamente social-democráticos.
Com efeito, actualmente, assistimos por
parte das principais forças e correntes partidárias à apropriação e ao
aproveitamento quase sem travões dos aparelhos e instrumentos do Estado para seu
proveito egoísta. Sem o necessário equilíbrio e sentido de justiça e coesão
social.
D)
Nos
ministérios ou nas autarquias, como dentro ou fora das empresas públicas,
parece estar a perder-se o sentido do bem comum e de coexistirmos num mesmo
País. Quantas PT foram ao ar?...
É assim a modos que “um
salve-se quem puder”, de uns poucos contra todos, de novos-ricos contra os novos
pobres, de descamisados contra colarinhos engomados, de jovens contra os mais
velhos. Ou, se assim o entenderem, do Estado e do litoral enriquecidos contra
Interiores desertificados. E aqui cabe ainda mais um grande ETC…
Mas cabe-nos, essencialmente, uma grande
interrogação com um lugar próprio num futuro mais próximo do que julgamos. Será
que continuamos a ser “a tal comunidade pacífica de revoltados” cheia de conformados?
Ou estamos a criar e a alimentar “uma
inesperada Comunidade de revoltosos inconformados”. As revoluções acontecem com
uma data anunciada e com hora marcada?
E)
As
datas de 1789, 1820, 1910, quiçá 1926, ou de 1974 aconteceram ou não por causas
explicáveis e também de formas (im)previstas, socialmente justas e apoiadas? Plenamente
justificadas!
Este caso dos “Coletes
Amarelos” em França, não devia servir de aviso e, particularmente, de sério
ensinamento aos poderes políticos e, por exemplo, ao Partido Socialista, para prever,
mais um interlúdio histórico incontornável em qualquer País gaulês?
Como é, como será, se
formos pensando e agindo politicamente apenas usando e enganando-nos uns aos
outros… sem valores, sem princípios, sem ideais, sem bons contratos sociais,
sem o exemplo de boas práticas? Resistiremos à violência social destas
“desigualdades estruturais” somente com ajustes de + Festas e + Circos? E por
quanto mais tempo?...
(anb)
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Uma
obs. final : Passados 45 anos, este escrito, é um tributo devido ao nosso Herói
militar do 25 de Abril (Salgueiro Maia, vimo-lo no L. do Carmo);ao nosso herói
Resistente Antifascista (Álvaro Cunhal); e ao nosso herói político (Mário
Soares). E até um certo ponto, à generosidade pessoal e ao portuguesismo envolvente
de Vasco Gonçalves. Sem o lastro de mais estas 4 Invenções, Portugal, seria
hoje o quê?
Um rio de coelhos grilados… sem Costa a
limitá-los e a enfrentá-los?
Destaquemos finalmente o Al tejo, alandroalense,
destes últimos anos.
Saudações Democráticas
António Neve Berbém
(Em Abri, 2 de 2019)
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