CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
Embirrações e Birras
Vou voltar à “manif” do #FazPeloClima
no dia da greve às aulas dos miúdos das escolas. Não que pretenda fazer deste
assunto uma série, género tão do gosto leitor juvenil, mas normalmente de
desgaste nas qualidades literárias entre o primeiro sucesso e as sequelas. Vou
antes espreitar rapidamente algumas reacções, e acções, dos crescidos. É que as
houve desde quem achou – e sim o “achismo” é uma deformação do direito à
opinião tão popular como deseducativa – que o Ministério da Educação devia ter
dado “tolerância de ponto” para que os alunos não tivessem que faltar a testes,
o que é ou revelador de inconsciência sobre o papel das instituições e das
funções de cada um num sistema, ou de um paternalismo socialmente lamentável;
desde este “eu acho” até às declarações em artigos e crónicas de opinião em
órgãos de Comunicação Social de impacto nacional, como o fizeram Vasco Pulido
Valente e Manuela Ferreira Leite.
Respeito
estes dois seniores do mundo público e político português, com quem
pontualmente cruzo opiniões semelhantes, sobretudo quando expressam uma certa
mundividência do comportamento humano (embora isso não garanta que se comportem
efectivamente de acordo com o que dizem. o que é até pouco comprovável). Um
ridicularizou a possível manipulação destes miúdos pelos adultos, a outra achou
a iniciativa deseducativa, ambos alegando que os comportamentos desta jovem
geração contradizem as palavras de ordem e, aqui até concordarei com Ferreira
Leite, acusam terceiros antes de exercitarem e tirarem as devidas consequências
do “mea culpa” obrigatório quando usamos o pronome pessoal “nós”. Esquecem-se,
os sábios seniores, que não é da posição instalada de quem tem um megafone
sempre à disposição, mesmo tendo vivido em épocas e eras onde o uso da palavra
em público lhes era vedado, que podem ditar as formas de muitos outros
expressarem o seu descontentamento e reclamarem os seus direitos. Bem sei que a
alguns, e não só seniores asseguro-vos, chocará a uso de um certo palavreado
que, dizem e eu percebo, descredibilizam as razões sérias da luta, mas
habituem-se os que julgam que é fácil “educar as massas” sem que, em troca dos
princípios tidos como bons, se conceda nalguma patine mal espalhada de efeito
menos requintado. Destas opiniões críticas e bem argumentadas ficou certamente
uma pista para o futuro e com que a geração que se manifestou no passado dia 15
vai ter que lidar: estão “entalados” quanto aos vossos comportamentos, com que
se comprometeram ao afirmarem que estão disponíveis para “fazer pelo clima”. A
palavra simpática seria “convocados”, a que resulta das opiniões dos sábios
seniores foi mesmo “entalados”.
Destas
embirrações com a turba ululante dos miúdos, gostava ainda de mencionar três
espécies do “género birra” de indivíduos graúdos com direito a holofotes
directos, e a que assistimos na última semana. E todas elas pouco educativas e
edificantes para a jovem geração que esteja a aprender o que é o comportamento
em política, que foi o que fizeram quando saíram à rua organizados. Uma de
transmissão mundial, outra nacional e a terceira, uma hipótese de birra talvez
só leitura dos mais atentos ao mundo dos Partidos. A primeira vem do Parlamento
britânico, na figura da senhora May, e que com o grave imbróglio do Brexit põe
de rastos o que é o dever de honrar compromissos, quanto mais não seja o do
respeito pelos prazos de “entrega de trabalhos” e que deixou de ser, afinal, um
“deadline” que deixa incumpridores impunes. A segunda vem, da que foi mesmo
chamada “birra”, do Primeiro Ministro português no último debate quinzenal na
Assembleia da República, quando tentava explicar o óbvio a quem, obviamente,
não soube lidar enquanto oposição, a não ser comportando-se como insurrectos
que não querem saber do que se passa na aula, e provocando só porque sim. Como
os alunos engraçadinhos, que põem o dedo no ar para fazer uma pergunta que nem
é retórica, serve apenas o seu público, e que não pede resposta do professor
mas gargalhadas e malabarices dos colegas. A terceira possível birra desconfio
que aconteceu no CDS, com o jovem e promissor político Adolfo Mesquita Nunes,
que se calhar zangado por não ter sido escolhido para lugar elegível na lista
dos Eurodeputados às próximas eleições, saiu com o estrondo elegante – ele é
elegante! – de quem diz “se não me escolheram vou ali e já volto, fazer a minha
tropa para quando a guerra recomeçar”.
Enfim,
três birras que aconteceram, ao contrário daqueles com quem alguns embirraram
por causa da manif do ambiente, em meios onde circula gente que tem a voz
sempre projectada por um megafone que anda ali por perto, e que bem devia
pensar que todos estão a assistir e que “alguém” os está mesmo a ver. Para os
primeiros tão deseducativas, para os outros, infelizmente mais raros, tão
elucidativas.
Até
para a semana.
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