I.
Conforme vem sendo indicado
através dos “Decálogos interpretativos” sobre figuras da cena política
nacional, hoje, será a vez de abordar o nome que começa pelas “letras J.S.”
Podem assim pensar, livremente,
em Jerónimo de Sousa ou em José Sócrates embora não seja de nenhum deles que
vamos tratar. Preferimos centrar-nos em Jorge Sampaio, ex- Presidente da
Republica.
Isto porque J. Sousa parece um político
algo cansado de “tantas lutas” e J. Sócrates anda a experimentar (por exemplo,
no Expresso) descobrir novas vias de afirmação politica que o impeçam de
naufragar na Ericeira antes de um dia virar prof. Universitário.
Por Lisboa, os ratos são grandes
e fogem dos gatos pardos e estes da água fria. Como se vê bem à luz da noite.
II.
Abordemos pois Jorge Sampaio
1) Na nossa visão, foi um Presidente
ímpar até pelos “discursos redondos” que, por vezes, fazia e usava. Isto
independentemente de viver os problemas do país com uma certa emoção, diremos,
pós- cartesiana ao António Damásio (seu conhecido autor).
Uma coisa é certa: J. Sampaio tomava tacticas
ao pequeno almoço, almoçava estratégias, e à noite jantava calmamente “a cultura
do povo”; ou seja, era um presidente com um nível claramente superior;
2) Claro que o forte envolvimento com que vivia o
país, dispensava-o de se meter em questões menores recusando opiniões
adjectivas. Tomava posições e foi decidindo o que era realmente importante.
Quase sempre bem como foi evidente no caso do
engodo/demissão de Santana Lopes (que, aliás, nunca se perdoou ter sido
primeiro ministro sem ter provocado ou ganhado eleições…por decisão
interesseira e vezeira de Durão Barroso);
3) Vamos também dizer que Jorge Sampaio
manteve-se um defensor dos valores “da polis ” e que andou inicialmente pelo
MES, desaguando no Partido Socialista na altura própria. Era assim a modos que
um estratego competente.
Algo
mordaz e contundente quando se tratava de matérias cruciais como eram as
escolhas dos ministros (sem “as transfusões familiares” que parecem andar
presentemente a acumular-se, faltará uma Sogra e netos);
4) Por isso mesmo, não era um político
de facilitismos, como não era asséptico, nem inodoro. Causava mossas e era
cortante para quem se servia em vez de servir o país ou a autarquia. Avisava/
agia;
5) Pensando um pouco nas suas
principais causas e intervenções presidenciais, salientemos que andou pelo país
e muito pelo Interior.
Foi assim que um dia esteve no Alandroal e acabou a
deixar-se tomar por uma forte comoção e lagrima no canto do olho; volta e meia
era isto que lhe sucedia, o coração não era lá muito forte e abanava-o;
(6) Como devem estar lembrados, deu um
banho em Marcelo Rebelo de Sousa quando eram ambos candidatos à Câmara de
Lisboa que acabou por ganhar com uma perna às costas.
Parecia estar a adivinhar que MRSousa faz política
como quem depena frangos já assados…
J. Sampaio, depenou-o mandando-o assoar-se ao
guardanapo estendido à beira do Tejo; foi quando o MRS andava de táxi a
tomar-se de natações para a TV o mostrar e ia ficando sem os calções;
7) Na área das relações internacionais, Jorge
Sampaio, foi ganhando uma enorme experiência desde quando esteve, em Paris, no
Maio de 68 como líder estudantil. Lá como lhe aconteceu por cá.
Na actualidade, é o representante de um
movimento criado na ONU em torno da defesa da “Aliança de Civilizações” por oposição
à tese de que o Mundo está em rota aberta de um “Choque de Civilizações” (e de
Religiões) entre Inquisições e Califados; sem se conseguir prever como sairemos
deste embate histórico;
8) Neste sentido, é notável o seu empenho e apoio
aos “Jovens estudantes sírios” e de outros países em guerra que vem trazendo
para estudarem em Portugal. É um daqueles sinais de interajuda que define a sua
visão universalista e humanista dos seres humanos;
9) Vamos ainda realçar que sabemos
ter um humor muito especial, e subtil, à maneira alourada dos ingleses, com uma
solida ligação às correntes de pensamento anglo-saxónicas na forma de construir,
advogar e estar na política;
10) Finalmente, lembramos que embora
esteja retirado da política activa quando (ainda) faz “uso da palavra”, revela
uma compreensão superior da política nacional/ internacional, sobre a qual vai
avisando que devemos estar atentos aos imprevistos e às aspirações das pessoas.
Em resumo,
Jorge
Sampaio é um daqueles exemplos de políticos que fazia bem ao país ter mais como
ele. Fez os percursos políticos que devem ser feitos (partidários, autárquicos,
nacionais e internacionais) sem sombra de pecado, de traições às convicções, de
mudanças convenientes, ou de pontas de corrupção.
Foi (e continua a ser) uma figura orientadora
que sabe usar o seu “poder de influência” para antecipar e manter certos
“equilíbrios de forças” que fizeram dos seus mandatos “conjunturas
democráticas” favoráveis aos governos com maiorias socialistas.
Fiquemos por aqui.
Porventura à espera de menos espectáculos
políticos diários. Ou quem sabe de um novo Sampaio. Existem, aliás, algumas
palpitações neste sentido.
A soberania vai estar, no entanto, no voto
dos portugueses. Reparemos, por fim, que na transição do século XX para o XXI
(1996-2006) foi um dos socialistas mais consequentes e abrangente Presidente da
Republica, até à data.
Parece-nos que para J. Sampaio, a visão da
trilogia dos tempos históricos em curso pode ser vista assim: o passado
move-se, o presente come/consome e o futuro não (nos) absolve “de alibis
bastante perigosos” para o Mundo.
Como disse Ruy Belo «ninguém, no futuro nos
perdoará não termos sabido ver».
Saudações Democráticas
Antonio Neves Berbém
( 26 de Março de 2019)
( 26 de Março de 2019)
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