terça-feira, 26 de março de 2019

COLABORAÇÃO DO A.N.B.


                     APONTAMENTOS dos TELHEIROS (4)
I.
Conforme vem sendo indicado através dos “Decálogos interpretativos” sobre figuras da cena política nacional, hoje, será a vez de abordar o nome que começa pelas “letras J.S.”
Podem assim pensar, livremente, em Jerónimo de Sousa ou em José Sócrates embora não seja de nenhum deles que vamos tratar. Preferimos centrar-nos em Jorge Sampaio, ex- Presidente da Republica.
Isto porque J. Sousa parece um político algo cansado de “tantas lutas” e J. Sócrates anda a experimentar (por exemplo, no Expresso) descobrir novas vias de afirmação politica que o impeçam de naufragar na Ericeira antes de um dia virar prof. Universitário.
Por Lisboa, os ratos são grandes e fogem dos gatos pardos e estes da água fria. Como se vê bem à luz da noite.
II.
 Abordemos pois Jorge Sampaio
1)      Na nossa visão, foi um Presidente ímpar até pelos “discursos redondos” que, por vezes, fazia e usava. Isto independentemente de viver os problemas do país com uma certa emoção, diremos, pós- cartesiana ao António Damásio (seu conhecido autor).
Uma coisa é certa: J. Sampaio tomava tacticas ao pequeno almoço, almoçava estratégias, e à noite jantava calmamente “a cultura do povo”; ou seja, era um presidente com um nível claramente superior;
2)       Claro que o forte envolvimento com que vivia o país, dispensava-o de se meter em questões menores recusando opiniões adjectivas. Tomava posições e foi decidindo o que era realmente importante.
Quase sempre bem como foi evidente no caso do engodo/demissão de Santana Lopes (que, aliás, nunca se perdoou ter sido primeiro ministro sem ter provocado ou ganhado eleições…por decisão interesseira e vezeira de Durão Barroso);
3)       Vamos também dizer que Jorge Sampaio manteve-se um defensor dos valores “da polis ” e que andou inicialmente pelo MES, desaguando no Partido Socialista na altura própria. Era assim a modos que um estratego competente.
 Algo mordaz e contundente quando se tratava de matérias cruciais como eram as escolhas dos ministros (sem “as transfusões familiares” que parecem andar presentemente a acumular-se, faltará uma Sogra e netos);
4)      Por isso mesmo, não era um político de facilitismos, como não era asséptico, nem inodoro. Causava mossas e era cortante para quem se servia em vez de servir o país ou a autarquia. Avisava/ agia;
5)      Pensando um pouco nas suas principais causas e intervenções presidenciais, salientemos que andou pelo país e muito pelo Interior. 
Foi assim que um dia esteve no Alandroal e acabou a deixar-se tomar por uma forte comoção e lagrima no canto do olho; volta e meia era isto que lhe sucedia, o coração não era lá muito forte e abanava-o;

  (6)   Como devem estar lembrados, deu um banho em Marcelo Rebelo de Sousa quando eram ambos candidatos à Câmara de Lisboa que acabou por ganhar com uma perna às costas.
Parecia estar a adivinhar que MRSousa faz política como quem depena frangos já assados…
J. Sampaio, depenou-o mandando-o assoar-se ao guardanapo estendido à beira do Tejo; foi quando o MRS andava de táxi a tomar-se de natações para a TV o mostrar e ia ficando sem os calções;
7)       Na área das relações internacionais, Jorge Sampaio, foi ganhando uma enorme experiência desde quando esteve, em Paris, no Maio de 68 como líder estudantil. Lá como lhe aconteceu por cá.
Na actualidade, é o representante de um movimento criado na ONU em torno da defesa da “Aliança de Civilizações” por oposição à tese de que o Mundo está em rota aberta de um “Choque de Civilizações” (e de Religiões) entre Inquisições e Califados; sem se conseguir prever como sairemos deste embate histórico;
8)       Neste sentido, é notável o seu empenho e apoio aos “Jovens estudantes sírios” e de outros países em guerra que vem trazendo para estudarem em Portugal. É um daqueles sinais de interajuda que define a sua visão universalista e humanista dos seres humanos;
9)      Vamos ainda realçar que sabemos ter um humor muito especial, e subtil, à maneira alourada dos ingleses, com uma solida ligação às correntes de pensamento anglo-saxónicas na forma de construir, advogar e estar na política;
10)  Finalmente, lembramos que embora esteja retirado da política activa quando (ainda) faz “uso da palavra”, revela uma compreensão superior da política nacional/ internacional, sobre a qual vai avisando que devemos estar atentos aos imprevistos e às aspirações das pessoas.
Em resumo,
 Jorge Sampaio é um daqueles exemplos de políticos que fazia bem ao país ter mais como ele. Fez os percursos políticos que devem ser feitos (partidários, autárquicos, nacionais e internacionais) sem sombra de pecado, de traições às convicções, de mudanças convenientes, ou de pontas de corrupção.
Foi (e continua a ser) uma figura orientadora que sabe usar o seu “poder de influência” para antecipar e manter certos “equilíbrios de forças” que fizeram dos seus mandatos “conjunturas democráticas” favoráveis aos governos com maiorias socialistas.
Fiquemos por aqui.
Porventura à espera de menos espectáculos políticos diários. Ou quem sabe de um novo Sampaio. Existem, aliás, algumas palpitações neste sentido.
A soberania vai estar, no entanto, no voto dos portugueses. Reparemos, por fim, que na transição do século XX para o XXI (1996-2006) foi um dos socialistas mais consequentes e abrangente Presidente da Republica, até à data.
Parece-nos que para J. Sampaio, a visão da trilogia dos tempos históricos em curso pode ser vista assim: o passado move-se, o presente come/consome e o futuro não (nos) absolve “de alibis bastante perigosos” para o Mundo.
Como disse Ruy Belo «ninguém, no futuro nos perdoará não termos sabido ver».    
            Saudações Democráticas
               Antonio Neves Berbém 
 (  26  de Março de 2019)









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