quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

MEMÓRIAS CINÉFILAS - Rufino Casa Branca

       Homenagem do Al Tejo a Domingos Maria Peças
                                           20th CENTURY FOX
A Guerra Fria ainda não acabou. Inicialmente pensou-se que tinha acabado em Novembro 1989, quando alguns alemães, dos dois lados, e de alguns estrangeiros de outros pontos do mundo, deitaram abaixo, à picareta, o muro de Berlim.  E durante dez anos todos pensámos que sim. A Guerra Fria tinha terminado com a vitória do capitalismo sobre o comunismo. E pronto, assunto arrumado: O capitalismo tinha ganho aquela guerra. Daí em diante tudo seriam maravilhas. O centro do mal tinha sido erradicado e a humanidade podia respirar de alívio. O monstro tinha sido vencido. Ou morrera pela ordem natural das coisas. Paz à sua alma, se porventura a tinha. Mas… e nestas coisas há sempre um mas… de súbito, dez anos depois, o mundo começa a ser comprado por um país que era governado por um partido comunista: a China. E logo depois começa uma outra guerra, desta vez comercial – mas sempre a aquecer – entre os nossos Estados Unidos da América, guardião dos também nossos muito queridos valores ocidentais e aqueles “olhos em bico” lá dos confins da Ásia. Quem é que aquela arraia-miúda pensa que é? === Quem um dia, porventura, ler estas linhas pode, com justiça, pensar: mas o que tem este paleio a ver com uma crónica sobre cinema? Muito, dizemos nós. É que na origem da 20th Century Fox, quase sempre – sobretudo a partir dos anos cinquenta, depois da morte de Franklin D. Roosevelt – estiveram presentes interesses outros que não eram somente cinéfilos. Hoje, para quem amiúde acompanha estas coisas do cinema, é perfeitamente visível que os estúdios de cinema, as estações de televisão, rádios e jornais da Fox, são um dos principais meios de propaganda dos sectores mais retrógrados e conservadores dos EUA. Reacionários, mesmo E esta tendência vai aumentar.   
Mas nem sempre foi assim, valha-nos Nuestra Madre de Los Angeles, protectora do cinema.
=======As crónicas que temos vindo a publicar, respeitantes a vários filmes, dizem respeito apenas a fitas rodadas nos estúdios da 20th Century Fox. Esta companhia, sedeada em Hollywood, foi proprietária dos estúdios de cinema mais importantes do mundo durante as décadas de trinta, quarenta e cinquenta. Resultante da fusão de duas empresas produtoras de mediana dimensão, a 20th Century Fox, rapidamente se elevou aos píncaros da produção cinematográfica, sobretudo enquanto foi dirigida Darryl F. Zanuck.
John Ford foi um dos realizadores que trabalharam para esta companhia produtora, e é precisamente com este realizador que nos estreamos nestes escritos falando sobre o filme “As Vinhas da Ira”.

                                             “AS VINHAS da IRA”
 --- filme baseado no romance homónimo de John Steinbeck.
A Califórnia sempre exerceu uma grande atracção não só sobre os emigrantes que iam chegando aos Estados Unidos – ainda hoje assim é – mas também sobre todos aqueles que, vivendo noutros Estados e já sendo cidadãos norte-americanos se sentiam atraídos por aquelas terras supostamente de permanente sol e fartura. São mitos antigos e já muitas vezes desmentidos pelos factos, mas a voz popular era essa e contra isso nada havia a fazer. Se a Califórnia era uma atracção permanente em tempos de vida normal, calcula-se a atracção que seria em tempos de míngua. E tempos de míngua eram os que se viviam nos Estados Unidos da América, sobretudo nos estados do leste e do centro do país, depois da Grande Depressão do início dos anos trinta. É sobre esses tempos que fala o romance de John Steinbeck e que John Ford soube filmar desta extraordinária maneira
Título Original: “The Grapes of Wrath”
Título Português: “As Vinhas da Ira”
Idioma: Inglês
Realizador: John Ford
Argumento: Nunnally Johnson – a partir do romance acima mencionado
Produção: Darryl Zanuck – 20th Century Fox
Ano de Produção: 1940
Interpretação; Henry Fonda, Jane Darwell, John Carradine, Russell Simpson, Charley Grapewin…
Importa desde já destacar que o argumento não segue o romance. Apesar do dramatismo visível, bastante visível no filme, a verdade é que o argumentista suavizou as condições das grandes migrações que por essa época se deram de Leste para Oeste. O Oeste dos Estados Unidos aparecia como o Eldorado para as famílias que, tendo sido desapossadas das suas terras devido à impossibilidade de pagar as hipotecas, se dirigiam para a Califórnia aonde iam engrossar os números dos exércitos de assalariados que trabalhavam nas vinhas e pomares dessa região. O filme conta o drama de uma dessas famílias: a família Joad. Uma das cenas dignas de registo é aquela em que a matriarca da família queima os “trastes” que não consegue transportar quando é expulsa da sua casa. Cena essa que, aliás, lhe valeu o Óscar para melhor actriz secundária nesse ano de 1940.
John Ford também ganhou, com este filme, o Óscar para melhor realizador.
Rufino Casablanca –Terena – Monte do Meio – 12 de Maio de 1999

3 comentários:

Rip Khirppi disse...

O que esta crónica não diz é que a Twentieth Century Fox foi vendida a uma empresa de Singapura que tem capitais maioritariamente chineses. Foi em 1990.

Anónimo disse...



OBS.


Em jeito de intromissão, vamos dizer que todas as guerras tem um periodo

de pré-aquecimento, depois a subida aos extremos, seguindo-se um periodo

de arrefecimento ao qual na(s) decada(s) de 50 e seguintes, se

convencionou chamar de "Guerra Fria" que foi, bem vistas as coisas, apenas

mais uma fase de guerra (mundial) improvavel mas também de paz impossivel.

Até mais ver as guerras directas ou indirectas ainda, nem nunca pararam.

Dito assim, quer-nos parecer que "o grande Cinema americano" destes tempos

nunca se sentiu muito confortável com um cinema exclusivamente politico.

Preferindo parece-me, a narrativa das grandes historias inscritas em

grandes livros e grandes escritores onde "O Vento... a tudo Levava".

Continua a parecer-nos, até hoje, que o Cinema americano era um cinema sem

grande retórica, sem montagens alucinantes (como hoje acontece) em que os

Heróis agiam e diziam ao que vinham. Falavam pouco e eram suficientemente

duros. O naipe de actores bastante conhecidos esses (cow-boys) foi

fabuloso.

As regras do bom cinema estiveram lá. Mas o que sempre nos impressionou

era e continua a ser a grande qualidade (da escola) americana de actores

de cinema. Ainda hoje viva e demonstrável em Clint E. ou em R.Redfort.

Por isso,julgo que haverá ( em mim, há de certeza) uma certa Nostalgia

deste grande cinema ao qual os Chineses não vão chegar ou alcançar.


Ao fim e ao cabo, o que os Chineses fazem é comprar feito à procura de

um dia saberem fazer "à ocidental" apenas à conta do seu enormíssimo

mercado interno.

É este o seu drama. Não foi este o caminho que o grande cinema

americano e também o europeu seguiu.

Lembrem-se,por exemplo, do Cinema feito e das Farras dos grandes

Mestres, actrizes e actores italianos. Tudo gente boa e muito fina!


Os meus Cumprimentos


ANB

artemiso peças disse...

Como sempre, mais uma excelente crônica deste belo filme.
PARABÉNS.