EDUARDO LUCIANO
O dia dos namorados
Há
uma primeira vez para tudo e esta é a primeira crónica sobre o dia dos
namorados. Quem haveria de dizer que neste espaço de suposta crónica política
haveria lugar a falar de namorados e de um dia especial para se comemorar esse
encantamento entre duas pessoas.
Tal como outros dias
comemorativos também se resume a uma certa oportunidade de negócios, da
hotelaria à restauração, da perfumaria à florista, da ourivesaria à bilheteira
electrónica de um qualquer festival que há-de acontecer lá mais para a frente.
É assim um dia de ménage a trois
com a participação do comerciante mais a jeito ou, usando um linguajar mais
próximo de uma certa modernidade parola, uma comemoração com outros players e
stackholders.
Talvez contagiados por este
espírito de amor uma vez por ano, uma certa camada política acha por bem
namorar, nem que seja por via do linguajar, com formas de estar e perspectivas
de análise que se aproximam da rudeza do mais básico, acreditando que
cavalgando tal onda que se avista da praia poderão sobreviver ao seu
rebentamento.
Apagam a memória, dão cambalhotas
que lhes permitem afastar-se hoje do que promoverem ontem, conseguindo mesmo o
milagre de se venderem como paladinos do combate contra o que criaram com todo
o amor e carinho.
Este namoro permanente com a
hipocrisia, o moralismo de pacotilha, e a crença na sua própria virgindade
eterna, até lhes pode dar uma certa sensação de bem-estar nas comemorações do
dia dos namorados mas, mais cedo que tarde, acabará num terrível divórcio com a
realidade com consequências terríveis para a sua saúde mental.
Mas hoje é dia de paz e amor,
ainda que por encomenda, não é dia de lembrar outros namoros por interesse
imediato, na mira de um poder que almejam e que nunca terão.
Na política, mesmo que local, não
se deve confundir a realidade com o espelho distorcido das ambições medíocres
de quem confunde um barco a remos com um transatlântico.
Vão lá comprar a flor, o perfume,
marcar o restaurante e enviar a mensagem da praxe e não pensem no que acabei de
dizer.
Como diz a minha prima Zulmira relativamente
ao namoro: mais vale à tarde que nunca.
Até para a semana
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