GIROFLÉS, GIROFLÁS
Tal
como deixámos aqui previsto, vamos hoje empenhar-nos na construção de mais um
“Decálogo interpretativo” centrado em António Costa.
Isto
num ano em que vêm aí as europeias e as legislativas. E quando o Mundo, em
volta e à esquerda, aparece confrontado com novas realidades sociais e
politicas entre as quais avultam os Populismos nacionalistas em acelerada (re)apresentação
à escala global. Por cá, já nem o P.R. lhe consegue escapar.
Reparemos, pois, em A. Costa
1)
É conhecido e
sabe-se que logo por volta dos seus 14 anos, iniciou de forma sagaz, a sua
aventura e formação politica. Depois foi sempre a subir no ranking socialista
tornando-se num dos mais jovens políticos profissionais vindos do Rato para S.
Bento. Até hoje.
2)
Por conseguinte,
é com certeza um ser politico habilidoso, experiente e pragmático e desde que
se conhece algo seduzido pelas vantagens (e mordomias) do exercício contínuo do
poder.
Reconheceu que o poder
desgasta assim como sabe que desgasta, sobretudo, quem tem de o conquistar ou
teve pouco tempo para o exercer. Por isso, nunca gostou de grandes acrobacias
políticas ou de trabalhar no trapézio sem a rede e o seguro exercício do
Partido Socialista. Assim será.
3)
Entretanto
recorda-se o seguinte: a alternativa da “Geringonça” atordoou a Direita
enquanto partitura nova criada com o apoio favorável do PC e do B.E.
projectando A. Costa, por sua obra e graça, para o cargo de
primeiro ministro. O decisivo, é que foi arrumado o conceito de “Arco da
Governação” (entre o PSD e o PS) que parecia inamovível e afinal se esvaziou
rapidamente. Ficámos a admirá-lo.
3.a) A. Costa tem menos de Tony Blair e mais de Felipe
Gonzalez (que acomodou superiormente o PSOE e o socialismo possível à Monarquia
e, por isso, se vive melhor em Espanha) pelo pouco que assumiu ou vem assumindo
do projecto político mais profundo “de Mário Soares”. Por aqui vai ficar e
estacionar a miragem soarista.
Terá “a virtude dos defeitos” de arriscar nas escolhas
dos amigos certos que faz para os cargos de natureza politica. Umas vezes sai
bem. Outras nem por isso. Praticando-o, o sentido de risco político é isto
mesmo. Há que corrê-lo. Daí os casos de P. Siza Vieira ou de Graça da Fonseca
que já deu também em ver-se cultivando empresas de Ajustes directos na ordem do
milhão.
4)
Desafectado, tudo
o que A. Costa experimentou lhe traz Utilidade política. É um utilitarista (e
socialista liberal) que faz com que esteja bem em qualquer governo do PS.
Esteve com A. Guterres, com José Sócrates e agora está no poleiro consigo
mesmo. Mostra abertura suficiente para ser um socialista deste século XXI, a
nível externo e interno percebendo acertadamente que “Oposições fortes” estão
no cerne e alternativas existenciais das Democracias liberais.
5)
Em matérias
internacionais, A. Costa é “um europeísta moderado” dos que aceita a criação e
o aprofundamento da União Europeia sem grande pressa e sem as angústias
(inviáveis) de uma qualquer saída. Ou sequer de deixar este projecto de paz
europeia (ou outros) a meio.
Em termos
internacionais, mais vastos e mundiais, apresenta-se “de uma forma realista”
sabendo que os interesses dos grandes são dominantes e que só sobra a Portugal
estar ou ir escolhendo o lado das votações certas e responsáveis.
É por isso que os
Antónios, o Guterres e o Vitorino, estão na ONU em lugares cimeiros apoiados
por uma visão diplomática competente.
6)
Para os padrões
internacionais, é um político jovem embora já suficientemente adestrado para
vir a integrar altos cargos da União Europeia ou de qualquer outra organização
mundial. A Alemanha terá um olho nele. E foi assim que já garantiu o futuro (com
ou sem reforma da Segurança Social) distribuindo- se por vários cenários.
7)
Não é um bom
orador (não terá treinado para isso nem deve ter tido grandes notas em Língua
Portuguesa). Não terá uma grande cultura e erudição politica. Não abusa das
grandes tiradas. Conhece com a necessária frieza, os actores maiores e menores
da cena e do sistema partidário português.
Por vezes, salta-lhe a
mola e desatina em grande como se viu na Assembleia da Republica quando
confundiu a cor negra com a sua própria cor castanha… dando sensação que
“picado é um tanto irascível”. Aquilo seria cansaço?...
8)
Parece-nos também
que não é um regionalista deveras interessado. Disfarça bem as coisas. Lisboeta
e cauteloso terá a pecha e o travão do centralismo democrático em
funcionamento. Seja no país ou no interior do próprio Partido Socialista onde
se aplica igual receita.
9)
Não tem vocação
para alcançar «Maiorias Absolutas». Nem para mediador imobiliário. Por isso usa
bastante mais a pele de negociador político (com algum lastro indiano) do que a
pele cigana de um negociante de ocasião.
10) Será doravante o que quiser em Portugal visto que já
foi tudo. Tem essa experiência podendo vir a ser Presidente da Republica pelo
P.S. Salvo uma melhor opinião, será um dos caminhos que poderá vir a
acontecer-lhe. Ficamos na expectativa.
Em suma,
António Costa é “um
Fado navegador que foi longe e veio de Goa e há-de continuar a ser assim”.
Reparem como são insondáveis os caminhos da política nacional. Em grandes (e
pequenos) centros de decisão quem podia prever um sucesso assim há quatro anos?
Saudações Democráticas
António Neves Berbem
( 30 de
Janeiro de 2019)
1 comentário:
OBS.
1. Dou a minha palavra que não estava à espera de intervir (hesitei e talvez nem sequer o deva fazer) sobre o sério problema em curso na Venezuela. Desta vez é assim, porque é também o governo de A. Costa que se porá em causa na guerra civil que já lá está a acontecer.
2.E antes que seja tarde, ou antes que embarquemos no erro bastante grave de ventilar, abordar ou menos ainda de vir a intervir com militares portugueses no perigoso problema interno da Venezuela. E, ainda por cima ou por acréscimo invocando Razões Geopolíticas que não têm rigorosamente nada a ver com o Atlântico onde estamos geograficamente distantes e situados... nem com as 2 línguas (e Interesses dominantes) que por lá são + faladas.Por tudo isto, aproveito este espaço (sobre/AC) para pedir «a todos os santos» que não embarquemos neste serviço. Se os americanos invadirem o problema é deles,não nos deixemos arrastar para aquele abismo.
Penitenciando-me,repito, pelo espaço que não estava mesmo à espera de
ocupar apresento Saudações Democraticas
ANBerbem
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