terça-feira, 11 de dezembro de 2018

DA HISTÓRIA DE PORTUGAL QUE MUITOS DESCONHECEM.


PORTUGUESAS COM HISTÓRIA – Dr. Alexandre Laboreiro
                      Berengária Sanches
                «o ouro é como as mulheres: todos dizem mal delas e todos as desejam»
Chegou à Dinamarca, na segunda década do séc. XIII, para casar com o rei Valdemar II. Este enviuvara: Dagmar, filha do rei da Boémia, dera-lhe um herdeiro e, pouco depois, morrera de parto – para grande desgosto dos subtidos, que a acarinhavam apelidando-a de “Plácida” e “Donzela”. O povo adorava a discreta rainha, a mulher ideal para os parâmetros da época. A morte deu-se em 1212, e a nossa Berengária tomaria o lugar, dois anos depois.
Contudo, a nossa Princesa iria encontrar um ambiente hostil: Os Dinamarqueses não gostaram – a portuguesa é bela mas estrangeira, vinda de um país longínquo, desconhecido, colocando a nossa Berengária nos antípodes da antecessora (achando-a de personalidade firme, longe de um caracter submisso, e de um “pãozinho sem sal” face ao que viam na sua antecessora). Todavia Berengária agradaria plenamente ao monarca, que era quem mandava.
Porém a nossa Princesa não se livraria das acusações populares de culpabilidade no aumento de impostos, apelidando-a de “Ameixa Amarga”, como incutiriam nas crianças dinamarquesas, um espírito de medo face a Berengária como se fosse um “papão”.
Culpá-la-iam ainda de ter dado à luz três filhos “incapazes” – que contudo (contrariando boatos falsos), se revelariam estarem ao nível dos seus antepassados, e no contexto da Idade Média.
Sete seculos após o seu falecimento, o seu túmulo seria aberto e o seu crânio estudado e exposto por um Professor de Anatomia – seduzido pela sua perfeição.
A má fama da nossa Princesa dever-se-ia – sobretudo a umas trovas publicadas no final do séc. XVI. Estas trovas populares “fizeram” de Berengária uma rainha ambiciosa, sem escrúpulos, cruel para o povo, “Vade retro, Berengária” – diria uma inscrição deixada junto ao esqueleto (mensagem descoberta em 1855, quando o rei dinamarquês Frederico VII decidiu fazer inspecionar os túmulos da família real dinamarquesa).
Antropólogos, e Professores de Anatomia, fariam estudos m redor dos sarcófagos de Berengária e de Leonor, (a sua sobrinha que seria a segunda portuguesa rainha da Dinamarca). Todos eles admirariam a eventual beleza, a sua estrutura exemplar, ao ponto do poeta Valdemar Rordam lhes dedicar um conjunto de carinhosos poemas.
Acerca do matrimónio da nossa Berengária com o monarca dinamarquês, levantou-se um mistério: o porquê, dado tratar-se de um reino longe da rota dos matrimónios peninsulares e das relações diplomáticas do recém- nascido Portugal. Para mais a entrega de uma jovem de dezoito anos a um quarentão (com outros usos e costumes), e um monarca de uma nação onde o clima é o inverno contínuo. Ora a razão desta incidência, talvez a busquemos no facto do nosso rei D, Sancho I e o rei dinamarquês Valdemar se terem conhecido em 1189, e terem lutado lado a lado – ainda Berengária não era nascida. O dinamarquês à frente de uma armada dinamarquesa (destinada a fundear na Terra Santa) entraria no nosso Tejo e – ajudando os portugueses a “empurrar” os Mouros para fora da Península – acabaria por conhecer o rei português Sancho I, que como veríamos –iria ser sogro do rei Dinamarquês.
Berengária nasceria em 1198 irmã gémea de sua irmã Branca: sendo o seu nome oriundo do nome de sua tia (ou melhor da tia de sua mãe) – a bela e culta aragonesa, mulher de Afonso VII (rei de Leão e Castela). Assim uma vez órfão de mãe –que morrera de parto, Berengária vivenciaria  a sua juventude em Coimbra (com o pai Sancho I e a sua amante Maria Pais Ribeira  a bela “Ribeirinha” que tantos e tantos poetas medievais portugueses inspirara – enriquecendo o lirismo da nossa poesia Medieval).
Vivenciaria, contudo, uns anos com as irmãs – no Mosteiro do Lorvão (onde cultivaria a leitura escrita, o culto religioso, a educação diplomática, a linguagem, o porte). Porem a beleza encantatória de Berengária seduziria o rei dinamarquês Valdemar, que (ao aceitar casar com a portuguesa) fugiria ao casamento consanguíneo de reinos vizinhos (de tão maus resultados): celebrando-se o matrimónio em Maio de 1214.
Berengária seria rainha durante meia década; morre nova – com pouco mais de vinte anos. Teria morrido durante o parto de sua filha Sofia. Sofia, a filha mais nova, casar-se-ia com João I de Brandeburgo; Erico. Abel e Cristóvão, seriam todos eles reis da Dinamarca.
Talvez, ironia do destino: porem, ocorreria o caso de Berengária, mesmo após a sua morte, vir a ajudar o marido num grave problema diplomático: o mardo de Berengária, Valdemar II, é aprisionado numa luta com alemães. E aprisionado já há mais de dois anos, só consegue ser “resgatado”, mediante o pagamento de uma grande e avantajada quantia de resgate: e, ironia do destino- seriam as jóias do “nossa” Berengária que iriam cobrir os valores de resgate do rei dinamarquês (salvando-lhe a vida e a liberdade).
José Alexandre Laboreiro
In Montemorense – Novembro 2018


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