PORTUGUESAS COM HISTÓRIA – Dr. Alexandre Laboreiro
Berengária
Sanches
«o ouro é como as mulheres: todos
dizem mal delas e todos as desejam»
Chegou à
Dinamarca, na segunda década do séc. XIII, para casar com o rei Valdemar II.
Este enviuvara: Dagmar, filha do rei da Boémia, dera-lhe um herdeiro e, pouco
depois, morrera de parto – para grande desgosto dos subtidos, que a acarinhavam
apelidando-a de “Plácida” e “Donzela”. O povo adorava a discreta rainha, a
mulher ideal para os parâmetros da época. A morte deu-se em 1212, e a nossa
Berengária tomaria o lugar, dois anos depois.
Contudo, a
nossa Princesa iria encontrar um ambiente hostil: Os Dinamarqueses não gostaram
– a portuguesa é bela mas estrangeira, vinda de um país longínquo,
desconhecido, colocando a nossa Berengária nos antípodes da antecessora
(achando-a de personalidade firme, longe de um caracter submisso, e de um
“pãozinho sem sal” face ao que viam na sua antecessora). Todavia Berengária
agradaria plenamente ao monarca, que era quem mandava.
Porém a
nossa Princesa não se livraria das acusações populares de culpabilidade no
aumento de impostos, apelidando-a de “Ameixa Amarga”, como incutiriam nas
crianças dinamarquesas, um espírito de medo face a Berengária como se fosse um
“papão”.
Culpá-la-iam
ainda de ter dado à luz três filhos “incapazes” – que contudo (contrariando
boatos falsos), se revelariam estarem ao nível dos seus antepassados, e no
contexto da Idade Média.
Sete seculos
após o seu falecimento, o seu túmulo seria aberto e o seu crânio estudado e
exposto por um Professor de Anatomia – seduzido pela sua perfeição.
A má fama da
nossa Princesa dever-se-ia – sobretudo a umas trovas publicadas no final do
séc. XVI. Estas trovas populares “fizeram” de Berengária uma rainha ambiciosa, sem
escrúpulos, cruel para o povo, “Vade retro, Berengária” – diria uma inscrição
deixada junto ao esqueleto (mensagem descoberta em 1855, quando o rei
dinamarquês Frederico VII decidiu fazer inspecionar os túmulos da família real
dinamarquesa).
Antropólogos,
e Professores de Anatomia, fariam estudos m redor dos sarcófagos de Berengária
e de Leonor, (a sua sobrinha que seria a segunda portuguesa rainha da
Dinamarca). Todos eles admirariam a eventual beleza, a sua estrutura exemplar,
ao ponto do poeta Valdemar Rordam lhes dedicar um conjunto de carinhosos
poemas.
Acerca do
matrimónio da nossa Berengária com o monarca dinamarquês, levantou-se um
mistério: o porquê, dado tratar-se de um reino longe da rota dos matrimónios
peninsulares e das relações diplomáticas do recém- nascido Portugal. Para mais
a entrega de uma jovem de dezoito anos a um quarentão (com outros usos e
costumes), e um monarca de uma nação onde o clima é o inverno contínuo. Ora a
razão desta incidência, talvez a busquemos no facto do nosso rei D, Sancho I e
o rei dinamarquês Valdemar se terem conhecido em 1189, e terem lutado lado a
lado – ainda Berengária não era nascida. O dinamarquês à frente de uma armada
dinamarquesa (destinada a fundear na Terra Santa) entraria no nosso Tejo e –
ajudando os portugueses a “empurrar” os Mouros para fora da Península –
acabaria por conhecer o rei português Sancho I, que como veríamos –iria ser
sogro do rei Dinamarquês.
Berengária
nasceria em 1198 irmã gémea de sua irmã Branca: sendo o seu nome oriundo do
nome de sua tia (ou melhor da tia de sua mãe) – a bela e culta aragonesa,
mulher de Afonso VII (rei de Leão e Castela). Assim uma vez órfão de mãe –que
morrera de parto, Berengária vivenciaria
a sua juventude em Coimbra (com o pai Sancho I e a sua amante Maria Pais
Ribeira a bela “Ribeirinha” que tantos e
tantos poetas medievais portugueses inspirara – enriquecendo o lirismo da nossa
poesia Medieval).
Vivenciaria,
contudo, uns anos com as irmãs – no Mosteiro do Lorvão (onde cultivaria a
leitura escrita, o culto religioso, a educação diplomática, a linguagem, o
porte). Porem a beleza encantatória de Berengária seduziria o rei dinamarquês Valdemar,
que (ao aceitar casar com a portuguesa) fugiria ao casamento consanguíneo de
reinos vizinhos (de tão maus resultados): celebrando-se o matrimónio em Maio de
1214.
Berengária
seria rainha durante meia década; morre nova – com pouco mais de vinte anos.
Teria morrido durante o parto de sua filha Sofia. Sofia, a filha mais nova,
casar-se-ia com João I de Brandeburgo; Erico. Abel e Cristóvão, seriam todos
eles reis da Dinamarca.
Talvez,
ironia do destino: porem, ocorreria o caso de Berengária, mesmo após a sua
morte, vir a ajudar o marido num grave problema diplomático: o mardo de
Berengária, Valdemar II, é aprisionado numa luta com alemães. E aprisionado já
há mais de dois anos, só consegue ser “resgatado”, mediante o pagamento de uma
grande e avantajada quantia de resgate: e, ironia do destino- seriam as jóias
do “nossa” Berengária que iriam cobrir os valores de resgate do rei dinamarquês
(salvando-lhe a vida e a liberdade).
José Alexandre
Laboreiro
In Montemorense –
Novembro 2018
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