MARIA HELENA
FIGUEIREDO
PACOTE LABORAL: NÃO É DEFEITO DA
ESQUERDA, É FEITIO DO PS
A recuperação de rendimentos do trabalho e das pensões foi a pedra
de toque para que o Bloco de Esquerda fizesse o acordo com o Partido Socialista
que permitiu a solução governativa actual.
E
tem sido possível reverter muitos dos cortes de rendimentos feitos pelo
anterior governo do CDS e do PSD, mas a reposição dos direitos dos
trabalhadores que foram cortados está ainda por concretizar.
Garantir
o tratamento mais favorável do trabalhador – que tinha sido, aliás, afastado na
alteração ao Código do Trabalho feita por um Governo do PS – e impedir a
caducidade unilateral das convenções colectivas são essenciais para o
reconhecimento e a dignificação do Trabalho.
Mas
estão por reverter os cortes nos dias de férias, os cortes para metade nas
horas extraordinárias e os cortes para 60% das indemnizações por despedimento.
Em particular as medidas que visam acabar com a precarização do trabalho e com
os abusos nos contratos a prazo estão ainda por concretizar.
Sendo
a precarização do trabalho um dos grandes ataques feito aos trabalhadores e
instrumento para fazer baixar os rendimentos, nos últimos dois anos o Bloco de
Esquerda debateu com o Governo e o Partido Socialista um conjunto de medidas
para combater a precariedade.
Negociou
com o Governo, designadamente, o fim da admissão de contratos a prazo em postos
de trabalho permanentes para jovens à procura do 1º emprego e desempregados de
longa duração, os limites à duração do contratos a prazo e o recurso a trabalho
temporário e o Governo comprometeu-se também a acabar com o banco de horas
individual.
Mas
apesar de ter firmado estes compromissos à Esquerda, o Governo apressou-se em
Concertação Social, sem sequer informar os parceiros de acordo, a apresentar às
confederações patronais, como compensação, um conjunto de medidas que, no
fundo, os neutralizam.
Propôs
o aumento para 6 meses do período experimental para jovens à procura do
primeiro emprego e desempregados de longa duração, o que se traduz na
possibilidade de despedimento sem qualquer justificação e sem que o trabalhador
tenha direito a indemnização. Tudo sem que haja qualquer limitação à
possibilidade de ir contratando sucessivamente trabalhadores em período
experimental para o mesmo posto de trabalho.
Negociou
com os patrões o alargamento em 60% do prazo dos contratos de muito curta
duração, que podem passar a ser feitos em qualquer sector da actividade e não
apenas para actividades agrícolas sazonais ou eventos turísticos. Estes são os
contratos mais precários, já que são feitos oralmente e sem justificar o motivo
para terem tão curta duração.
E,
anulando o fim do banco de horas individual, propôs a criação de uma nova
figura de banco de horas fora da contratação colectiva, decidido em plebiscito
organizado pelos patrões e sem a intervenção sindical, mas que se impõe aos
trabalhadores que votem contra.
Também
no que toca ao aumento da TSU para empresas com grande rotatividade de
trabalhadores, que constava do programa do governo, foram apresentadas tantas
excepções que dificilmente terá efeito.
Acontece
que é na Assembleia da República que estas medidas terão que ser decididas e
não no Conselho da Concertação Social. Ora, o Bloco de Esquerda já disse que
não votará nenhuma medida que crie precariedade nem abdica das alterações já
acordadas ao código laboral.
Por
isso o Ministro Santos Silva apressou-se este domingo a fazer um ultimato ao
Bloco de Esquerda para que não fizesse ultimatos ao PS, mas a verdade é que
cabe ao Partido Socialista e aos seus deputados decidir se mantêm ou não os
compromissos assumidos à Esquerda.
Esperemos
que sim.
Boas
férias!
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