quinta-feira, 5 de julho de 2018

CINEMA - Rubrica de Rufino Casablanca

HOJE RUFINO CASABLANCA DEBRUÇA-SE SOBRE AS ORIGENS DOS FILMES DE         TERROR
                         “Les Vampires” (1915)
Este filme de Louis Feuillade está na génese dos filmes de terror.
É aqui que se situa o ADN deste tipo de cinema que, posteriormente, viria a tornar-se num género muito apreciado por um certo público especial.
Aqui, neste filme, é que está a semente de todos os filmes de terror.
É certo que nessa altura, quando o cinema dava os primeiros passos em estórias que pretendiam conter um enredo havia ainda muito caminho a desbravar, e não bastava horrorizar os espectadores. Era preciso ainda dar ao que se contava um ar de verdade, era preciso ainda dar um aspecto de realidade àquilo que as imagens mostravam.
Estávamos ainda longe do tempo em que o horror, só por si, não bastava.
Os americanos é que viriam a tornar-se mestres neste género de cinema. Se para tanto houver pachorra e ocasião ainda falaremos desses filmes americanos que marcaram a época de ouro do cinema de terror.
Por enquanto, e neste escrito, vamos apenas dar atenção a este filme de Louis Feuillade.

É um filme composto de 10 partes. (logo aqui se vê que era um horror)
Pode ser considerado um filme de episódios que foram aparecendo, aparentemente, e num espaço temporal de dois anos, desligados uns dos outros. E nem todos têm, entre si, uma ligação directa.
Mais tarde, bastante mais tarde, apareceu uma 11ª primeira parte que pretendia fazer a ligação entre todas as outras.
Baldado esforço, pois essa 11ª parte ainda veio criar maior confusão.
Salvador Dali, que por essa altura dava os primeiros passos no movimento surrealista, disse que aquilo mais era um filme surreal do que de terror. E eu, que dificilmente concordaria com Salvador Dali, fosse no que fosse, acho que dessa vez o homem tinha razão.
Ah…ainda outra coisa… O filme completo, incluindo todas as partes, tinha sete horas e meia de duração.
Que grande estopada!
Daí que me atreva a falar/escrever sobre este filme.
É que eu gramei aquilo do princípio ao fim.

País de Origem: França
Ano de Produção: 1915
Realização: Louis Feuillade
(O filme é mudo, mas a versão que me foi dado ver, tem música de fundo de Robert Israel)
Elenco: Musidora, Edourd Mathé, Marcel Lévesque, Jean Aymé, Fernand Herrann….

O enredo é uma coisa complicada de seguir e explicar: os primeiros episódios centram-se nas actividadres de um grupo de malandrins e criminosos que actuam no submundo de Paris. Matam e esfolam nesse ambiente. À primeira vista, apresenta-se ao espectador como um filme de gatunagem. As questões vampirescas só começam a aparecer lá para o terceiro episódio. E aparecem sempre como se fossem um truque dos bandidos, mas, prestando atenção, verificamos que  não são apenas truques dos criminosos. São, de facto, vampiros que por ali andam. O que os malandrins ainda não sabem é que há vampiros entre eles. E como todos sabemos, vampiro que suga, faz do sugado outro vampiro. Às tantas já são todos vampiros.
Enfim, uma chatice de primeira apanha que eu não recomendo a ninguém. Eu só aceitei ver o filme porque o director do Cine-Clube de Faro me pediu para escrever sobre o filme que por aqui passou numa mostra de cinema de terror.
Espero que o jornal do Cine-Clube aceite publicar este texto, mas se o censurar também não levarei a mal.

Na próxima quinzena começaremos a visionar então os tais filmes americanos de terror e, tenho a certeza, tanto as sessões de cinema como os artigos sobre elas serão muito mais agradáveis.

Rufino Casablanca
12 de Maio de 1986

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