António Lopes Ribeiro
Realizador de cinema – Produtor de cinema – Actor de cinema –
Crítico de cinema – Jornalista de temas relacionados com o cinema – Fundador de
várias revistas relacionadas com o cinema.
No cinema foi ainda argumentista.
Trabalhou em cinema em Portugal, Espanha, França, Itália,
Alemanha, e até em Moscovo, sempre com alegria profissional e vontade de saber
mais. E ensinar.
Foi, em nossa opinião, um dos grandes cineastas do cinema
português na primeira metade do século XX.
Também era fascista. Referimos essa qualidade – defeito, achamos
nós – porque só assim se explica a longa carreira – abundantemente patrocinada
– durante a vigência do chamado Estado Novo.
Para além de toda uma obra ao serviço do regime.
Para ilustrar melhor a carreira deste homem é bom que fique
escrito que era o presidente do Sindicato dos Profissionais de Cinema quando
chegou a Revolução do 25 de Abril. Era um sindicato corporativo, vertical.
Típico do fascismo.
Alguém – não nos lembramos quem – disse dele um dia:
«Amou muito o cinema português e dele mamou alegremente».
Nasceu em 1908 e morreu em 1995.
Conhecemo-lo através da televisão, num programa intitulado
“Museu do Cinema”, quando na Sociedade Artística do Alandroal se pagavam dez
tostões por uma noitada de TV. Outros tempos, está bem de ver. Nesse programa
falava, sobretudo, de cinema antigo, tema que dominava como ninguém. No
programa, era acompanhado ao piano por um parceiro que todos pensávamos ser
mudo, quando, afinal, o homenzinho, pelo menos, sabia dizer “boa noite”.
Por ironia, António Lopes Ribeiro, acabou a sua carreira na
Sétima Arte, se assim se pode dizer, como actor, na novela “Chuva na Areia”, lá
por meados da década de oitenta. Desempenhava o papel de um padre antifascista
que protegia aqueles que combatiam o regime que ele sempre acarinhara. Sempre
pensámos que foi uma partida que os colegas de ofício lhe pregaram e que ele,
filosoficamente e conscientemente, aceitou.
Todas estas lérias vêm a propósito de um filme realizado por
António Lopes Ribeiro sobre o qual gostaríamos de escrever algumas coisas,
sobretudo porque gostaríamos de compará-lo com um outro filme, baseado na mesma
obra literária, mas realizada por outro grande nome do cinema português.
“Amor de Perdição” de António Lopes Ribeiro, produzido em
1943------ e-------
“Amor de Perdição” de Manoel de Oliveira, produzido em 1979
Ambos baseados – pois claro – no romance de Camilo Castelo
Branco
Assim:
O filme de António Lopes Ribeiro puxa ao fácil e à lagriminha
esquecendo o sentido do romance
O filme de Manoel de Oliveira retrata uma época com rigor sem
abandonar o texto do Camilo
O filme de António Lopes Ribeiro é feito para que se olvidem os
momentos maus que o país vive
O filme de Manoel de Oliveira é feito a pensar na obra de arte
esquecendo tudo o resto
O filme de António Lopes Ribeiro coloca o folclore acima do
drama
O filme de Manoel de Oliveira esquece o folclore e foca a época
dramática que o país vive
O filme de António Lopes Ribeiro quase transforma o romance de
Camilo numa mostra etnográfica
O filme de Manoel de Oliveira tem a força do sangue, suor e
lágrimas que Camilo lhe deu originalmente
E foi assim que os dramas e desventuras de Simão Botelho, Teresa
Albuquerque e Mariana da Cruz, as inesquecíveis personagens de Camilo, foram
vistas por dois dos maiores realizadores de cinema portugueses de todos os
tempos.
E não se pense que há aqui visões de gerações diferentes, pois
António Lopes Ribeiro e Manoel de Oliveira eram da mesma idade.
O que cada um deles perseguia é que era diferente.
O Camilo, esse, mantém-se tal como sempre.
Curiosidade:” ANIKI-BOBÓ”, a primeira longa-metragem de Manoel
de Oliveira, realizada em 1942, teve produção de António Lopes Ribeiro.
Rufino Casablanca
Monte do Meio, 12 de
Maio de 1995
1 comentário:
Não podia deixar de tecer um comentário a esta cronica ou melhor deixar expressa a ilação que tirei do romance e do filme "Amor de Perdição".
João da Cruz, o ferrador, confesso defensor do jovem e apaixonado Simão Botelho, homem duro, envolve-se numa rija com dois homens afetos ao pai de Teresa. Um dos homens morre na luta e o outro fica moribundo. João da Cruz é aconselhado por Simão Botelho a deixar o local e não terminar a vida do outro comparsa. Por momentos cede e segue com Simão Botelho, mas a pretexto de ir urinar, afasta-se de Simão, que houve uma detonação. O jovem apaixonado, surpreso, vê chegar o ferrador sorridente. A consciência dste ficou aliviada com mais uma morte, assim tinha a certeza da não denuncia, e, esta certeza tranquilizáva-o.
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