quinta-feira, 21 de junho de 2018

COLABORAÇÃO DO PROF VITOR ROSA

Aos meus amigos Sportinguistas...
Sobre o homem cuja atitude me soa ao cravo naquele particular ruído de corda metálica a desfazer-se!
O cravo tende a ser simpático. Instrumento de largo uso em baixo contínuo tem imensas vantagens e ligeiríssimas desvantagens mesmo quando tocado a solo. O piano sem dúvida suplanta-o. Contudo o eterno feminino sempre procurou no cravo um som renovado ou a renovar e reescrevem-se hoje imensas peças para tal instrumento. Evidente que cravos existem em diferentes tipos, do virginal muselar ao espineta, são os instrumentos das cordas beliscadas, que geram o tal som, porque se tange ou belisca uma das suas cordas ao invés de, como no caso do piano, de a percutir. Reside então no beliscar ao invés do percutir toda a diferença! Tem-se presente que tal instrumento o cravo, teve a sua origem numa anexação extemporânea. Na realidade ao anexar-se um teclado a um saltério, surgiu a tal possibilidade de se tanger uma  corda. Por acaso ou não, tal instrumento em português é também conhecido - quiçá mesmo mais conhecido -  por clavicórdio. Soa-me melhor o cravo se se dito de clavicórdio. Os espanhóis evitam usar tal termo, inclinam-se para a correspondente italiana cembalo (no Porto tornou-se tanto quanto sei num cimbalino…)  ou então a mesmíssima coisa mas dita em francês clavecin…e eu vou por aí desbragadamente. Sim clavencito, na sua reduçãozinha mais ternurenta, adocicada,  é o que deveremos  chamar ao tal cravo de som particularmente  ruídoso de corda metálica a desfazer-se…embirrante. Aliás, não é por mero acaso que no Barroco tanto cravo se tocou. Algo no e do Barroco se deve a um cravo, e mesmo se lhe chamarmos de clavencito o Barroco e o cravo surgem de mãozinhas dadas. Apertados na sua desapertadura! Agora entendi também porque algumas das formas diminutivas por aí utilizadas nunca me soaram bem.
Um pouco mais a sério.
Não se veicula concomitantemente à leitura de um som, que se vai desenrolando ( a saber…obriga-nos tanta alucinação paranóica de tal protagonista, a um exercício de discernimento  aturado e apurado) a mera  atenção de um novo logos: se, o que se passa e passou, se revela indecidível, é tão somente porque no plano da demonstração – da música em si não tanto, mas do protagonista em si – abdica de qualquer legitimidade, impondo, como única realidade a inconsistência ontológica daquilo a que chamamos ‘a realidade’. E essa realidade é, não uma impossibilidade do real (nunca me atreveria a dizê-lo, sabe-se lá o dia de amanhã, não é?) mas qualquer coisa pertíssimo do grito pós-kafkiano da impossibilidade ontológica absoluta. Até porque ao tornar-se inquilino de uma existência bem real constata que não é dela senhor (no sentido de proprietário) absoluto. A rota implacável dessa anulação de personalidade é redonda, e isso preocupa-nos. Porque o grande logro não é que ‘um de nós seja mentira’ mas antes essa ‘forma de farsa’ que a tragédia toma quando sucede, até porque: um cravista é um músico que toca o cravo e qualquer atitude conducente ao soar do cravo é-me um despropósito.
 O último som do grito dele é o da nossa gargalhada, mas jamais  serão um mesmo som, ou melhor um bom som!
Vitor Rosa


1 comentário:

Anónimo disse...



OBS.


Não sou sportinguista e, neste caso, ainda bem. Embora pelo Benfica também

haja os seus tocadores de cravo. Que encravam mais do que desencravam o

futuro de instituições como o Benfica e o Sporting.

No caso de Bruno Carvalho, só podemos adiantar a nossa impressão: tornou-

se numa ficção que excede, em muito, o que já, em si mesmas, são as difi

culdades das realidades presentes do Sporting.Ou de qualquer outro

Clube.

Por outras palavras, o barroquismo dos cravos é insustentavel numa

epoca que anda muito carenciada da profundidade de novos pianistas.


Haja pois quem vença, no Sporting, que gosto de ver derrotado no

relvado embora deteste vê-lo vencido em batalhas de secretaria por

actores que até "uma simples gaita de beiços" precisam de (re)aprender

a tocar e a sentir para responder ao rugido do rei leão...

Veremos o que vai suceder-se. Assim "a nação sportinguista" não

mantenha repetidos tocadores a ensaiar e a tocar velhas musicas.


Saudações Democráticas


ANBerbem


Ps: Portugal levou um tal baile de Marrocos que parecíamos todos,

finalmente, ex-marroquinos.Se a dose se repetir, vamos ao AR.