EDUARDO LUCIANO
A DEPILAÇÃO DO PIRILAMPO, AS DERIVAS
SECURITÁRIAS E A ASCENSÃO DOS FASCISMOS
Estamos
cercados de normas e regras que pretendem proteger-nos de tudo e de mais alguma
coisa.
A palavra
segurança assume uma centralidade crescente nos discursos do dia-a-dia e
torna-se cada vez mais da pedra de toque das narrativas construídas em torno de
todos os medos, dos ancestrais aos de última geração.
Aproveitando esta
cavalgada, que submete a liberdade ao férreo controlo da segurança, forças e
movimentos fascistas de diversas matizes vão alcandorando-se a lugares de
poder, legitimadas pelo voto popular com a promessa de excluir tudo que se
desconhece, o que é diferente ou pode constituir uma ameaça real ou imaginária.
Dir-me-ão que o
fanatismo em torno da alimentação que nos promete viver para sempre, da
utilização de protecções para simples brincadeiras ou do tratamento dos
fumadores como párias da sociedade, não tem nada a ver com a política defendida
pelo ministro do interior do governo italiano, quando quer obter registo de
cidadãos classificando-os por etnia (está a falar dos ciganos, mas a seguir
serão todos os outros em função do medo que estiver na moda).
Na minha opinião,
a base é a mesma. O medo. De tudo, ou de quase tudo.
Ouvir o discurso
de Trump a justificar a separação das crianças dos adultos em quem confiam e
escutar as palmas da audiência é algo que enoja qualquer um, pelo que tem de
apelo a regresso a comportamentos colectivos que associamos a regimes como o da
Alemanha nazi ou da Itália fascista.
Na base está
sempre o medo. O medo que imigrantes roubem os empregos, o medo que a “pureza
étnica” seja corrompida, o medo que a criminalidade aumente, o medo que os
netos venham a ter apelidos como Lopez ou Suarez.
Alimentar o medo é
o seguro de vida mais eficaz para um exercício do poder assente no controlo, no
princípio de que só é permitido o que não é proibido, no justicialismo, no
julgamento moral e, no final da estrada, com a supressão da liberdade em nome
do valor elevado a supremo. O valor da segurança.
O mais dramático é
que tudo isto parece ser feito para nosso bem. Para garantir que tudo o que nos
faz mal é erradicado das nossas vidas, que as supostas ameaças exteriores
ficarão longe e que morreremos cheios de saúde se comermos os iogurtes antes do
fim do prazo.
Curiosamente,
quando comecei esta crónica era suposto falar da nova imagem do pirilampo
mágico, obrigado a depilar-se e a perder os olhos salientes para proteger as
nossas crianças de engolirem peças soltas ou de ficarem alérgicas ao pó
acumulado na simpática criatura.
O que é que isto
tem a ver com a deriva securitária e a ascensão dos fascismos por esse mundo
fora? Tirando a base, quase nada.
Já agora, comprem
muitos Pirilampos porque o trabalho das CERCI deste país merece e necessita.
Como acto de revolta cubram-nos de pelos, colem dois olhinhos e coloquem-nos
nos sítios do costume.
Até para a semana
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