quinta-feira, 5 de abril de 2018

CINEMA - Por

Numa das muitas “pen”- onde íamos acondicionando alguns dos escritos que nos chegaram com a assinatura de Rufino Casablanca, encontramos recentemente uma colectânea de filmes, a maioria com a realização de Gustavo Menendez, tendo como argumento a vida e obra de alguns Presidentes dos Estados Unidos da América. Filmes de cariz político, comentados na altura por Rufino Casablanca.
Desconhecidos pela maior parte de todos aqueles que felizmente se interessam pela Sétima Arte, dado que a maioria não passou pelos circuitos comerciais, iniciamos com Abraham Lincoln (Já publicado), uma série que se irá prolongar ao longo de várias semanas, em que o leitor interessado poderá entre outros descobrir algo de novo nos mandatos de: Bill Cliton, Truman, Tomas Hendrik – Roosevelt – Kennedy, entre outros.
                           A Eleição Presidencial de 7 de Novembro de 1876
Mais uma vez Gustavo Menendéz aborda, no cinema, a política norte-americana, dando-nos a sua visão sobre umas eleições muito polémicas, realizadas há mais de um século.
Foi assim que Gustavo Menendéz viu estas eleições:
Terça-Feira, 07 de Novembro de 1876. Dia de eleições presidenciais na República dos Estados Unidos da América.
O governador do estado de Nova Iorque, Samuel J. Tilden, foi o candidato do partido democrata; o candidato a vice-presidente foi Thomas A. Hendrick.
O governador do estado do Ohio, Rutherford B. Hayes, foi o candidato republicano e levava como candidato a vice-presidente Willyan A. Wheeler.
Explicação dada por escrito e voz em off no início do filme: “Segundo a Constituição dos Estados Unidos da América, no seu artigo 2º, secção l, o presidente dos Estados Unidos é escolhido por uma maioria de votos do colégio eleitoral, tendo cada estado direito ao mesmo número de membros no colégio eleitoral como de delegados no Senado e na Câmara dos Representantes”.
De referir que nessa época (1876), apenas existiam 39 estados, a maioria dos quais se situava na costa leste. Na costa oeste apenas estavam organizados como estados, já dotados com leis e órgãos de governação próprios, a Califórnia o Oregon e o Nevada. Todo o grande centro do país, que ia do golfo do México ao Canadá, constava, na legislação americana de então, como “territórios sem direito a voto”. O Alasca ainda era russo, enquanto o Havai eram umas ilhas perdidas lá no meio do Oceano Pacífico e habitado por um povo de características malaias.
A Constituição dos Estados Unidos, conscientemente redigida para esse efeito, sobretudo as sucessivas emendas a que tinha sido sujeita, segundo a visão do Gustavo Menendéz, era nessa altura, e ainda é hoje, suficientemente ambígua para suportar todas as interpretações que sobre ela se pretendam fazer. E não têm sido poucas. Assim, pode ser presidente dos Estados Unidos da América, o candidato que tem menos votos. Isso, na Europa dava, pelo menos, direito a uma guerra civil
Pois foi exactamente isso que aconteceu na eleição presidencial de 1876. Foi empossado o candidato republicano, Rutherford B. Hayes, quando quem tinha mais votos populares era o candidato democrata. Mas não deve ter sido apenas esse aspecto que chamou a atenção de Gustavo Menendéz, ao ponto de ter realizado um filme sobre esta temática. É que, pelo meio, também houve manigâncias na contagem dos votos e na indução da opinião pública, feita através da imprensa. Parece que um tal John Reid, editor-chefe do jornal “New York Times”, publicou notícias falsas sobre os resultados que iam chegando a conta-gotas, pois como facilmente se adivinha que nessa época chegariam. Criou-se um clima de tal maneira suspeito que obrigou à intervenção do Senado e da Câmara dos Representantes, e como estes dois órgãos não se entenderam, ou antes, tinham opiniões diferentes sobre a situação, consoante as maiorias que os dominavam, houve um impasse. Como consequência, teve que intervir o Supremo Tribunal Federal.  Mas mesmo aqui, no Supremo Tribunal, também houve alteração de juízes em última hora, pois o presidente cessante, que era republicano e herói da Guerra da Secessão, nem mais nem menos que o general Ulisses S. Grant, decidiu que era boa altura de substituir juízes por si nomeados e que, naturalmente, eram favoráveis ao lado republicano.
E pronto, lá entronaram o candidato republicano como 19º presidente americano.
O que chama a atenção deste cronista é a grande ânsia do realizador em desacreditar a democracia norte-americana sempre que se oferece ocasião para isso. Numa pesquisa que fizemos sobre a vida deste cineasta, verificámos que, apesar de lhe ter sido concedida a cidadania norte-americana, posteriormente foi muito maltratado pela justiça deste país, chegando mesmo a estar preso por motivos políticos, e estamos em crer que a realização destes filmes mais não são que uma tentativa de tirar desforra em todas as situações que se lhe oferecem.

Rufino Casablanca – Monte do Meio – Novembro de 1997


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