CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
PLAZA PÚBLICA
Os Eborenses andam num sino com o primeiro centro comercial digno
desta classificação que abriu na Cidade. Andam num sino os que gostam destes
lugares, que lá vão e lhes dão vida. Andam num sino os que gostam e encontram
nesta obra, feita por outros, mais um motivo para poderem pôr a bombar a sua
sempre saliente veia do escárnio e maldizer. Ainda bem que os Eborenses, e
talvez outros Alentejanos dos arredores, estão contentes. Claro que aqueles
para quem é fácil deslocarem-se aos hiper centros comerciais instalados nas
grandes cidades, e para quem Évora devia continuar a ser a “aldeia gaulesa” de
Portugal, esta é uma alegria alheia e farão tudo para fazer de conta que não
existe ou gritar a sua indiferença ao lugar, ao lado de outros para quem este
equipamento pode beliscar os negócios perpetuados numa tradição que apregoam
estática, contra toda a ciência produzida em torno do que são e como funcionam
as tradições.
Por falar de “aldeia gaulesa”, reparei que a Cidade está desde há
cerca de um mês, em período pós-eleitoral portanto, com forte investimento em
estruturas básicas, mas também ornamentais, adjudicadas a orçamentos de
dinheiros públicos e locais. Falo dos pavimentos das estradas, mas também do
crescimento dos enfeites da época, coisas que não são propriamente praticáveis
com meia-dúzia de trocos. Tal como seria caro fazer obras de fundo em escolas,
por exemplo, e não se faz, ora porque umas vezes se tem projecto mas não se tem
financiamento, ora outras vezes porque até se tem um financiamento simpático
mas o projecto é coisa para talvez não caber nos planos de um serviço
municipal, quiçá escasso em arquitectos e engenheiros. (É nesta parte que quem
conhece a situação de que falo pode sorrir e quem não conhece pode perceber que
é uma piada.)
Os mais imediatistas, e os que contribuíram para que a equipa que
gere esses orçamentos se mantivesse, pensarão sobre estes investimentos
pós-eleitorais: “Ora aqui está, a seriedade de quem não fez obras antes das
eleições para angariar votos!”. Respondem por isso ao isco lançado por quem
procurava exactamente esse conforto. Eu cá tenho outra leitura, claro, já que
andei oito anos a perceber como funcionam certas formas de pôr as tácticas ao
serviço das estratégias de poder, e digo cá para mim: “Pois, como é que se podia
andar a dizer que lhes tinham deixado tudo nas lonas, a zeros, impossível de
aplicar um cêntimo em alguma coisa, e agora desatar a fazer coisas que custam
dinheiro?!”. Quanto mais afastados estivermos das razões que se evocaram para a
mudança, mais fácil lhes será retomar o ritmo da despesa, obviamente, esperando
que não tenha que haver uma que tenha de ser uma despesa gigantesca mas
enterrada e longe da vista e do coração dos que dela usufruem, como é a da água
que corre nos canos. Não chego ao ponto de dizer que nos devamos marimbar para
essas contas, não senhor, até porque fazer contas, ou não, foi o que permitiu à
formiga passar o próximo inverno a tocar marimbas e poderá fazer com que a
cigarra não passe deste inverno. Mas há investimentos que não têm como não ser
regateados só até ao ponto de não se tornarem insustentáveis.
Era só. E
agora vamos ali ao Plaza passear, consumir, usar, dar a opinião onde nos pedem
e pode ser acolhida, que é para não fazermos a vontade aos arautos da desgraça,
os que anunciam sempre vários acidentes apocalípticos transitórios, caso o
lugar descambe para o que nós, os outros que ficam contentes e partilham a
alegria, não queremos.
Até para a semana.
Sem comentários:
Enviar um comentário