CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
CRÓNICA DE
OPINIÃO
TERÇA-FEIRA, 14 NOVEMBRO 2017
· COMPLEXO DA GERINGONÇA
Por todo o País parece-me que já estarão
terminadas as negociações e consequente instalação dos órgãos eleitos para
assumirem as funções no poder local. Fui acompanhando, divertida, as
justificações multilaterais e multicolores que se desfizeram em discursos de
“fazer oitos com pernas de noves” para provarem as soluções encontradas.
O meu divertimento, diga-se, é irónico já
que, lá no fundo, é uma certa tristeza que acaba por prevalecer quando se dá
atenção aos assuntos e se se depara com a verborreia saída das cabeças que
alguma vez julgaram ser capazes de tomar nas suas mãos os destinos e as
responsabilidades que o poder local exige e merece. Também senti, nalguns
casos, que foi a surpresa dos resultados que deixou confusos os eleitos,
provavelmente precisando de mais do que um par de meses para se acomodarem a
uma nova situação, legitimada pelo funcionamento sério da democracia a que
chegámos há pouco mais de 40 anos.
Se a minha tristeza vem sobretudo de ouvir
o discurso por parte de quem conheço minimamente, de quem conheço o trabalho, o
empenho e as capacidades, e julgava capaz de reacções menos primárias, o meu
divertimento vem da queda da máscara de outros. Os que apregoando em campanha
eleitoral serem capazes de governar com, para e por todos juntos, dando a
entender que estariam ultrapassadas as questões do foro partidário em nome do
que se pretenderia fazer em prol do crédulo e humilde munícipe, se comportam
exactamente dentro dessa lógica partidária na altura de constituir o órgão
executivo que depende, aí sim, de todos os que para ele foram eleitos, para se
poder implementar uma qualquer opção política que afecte a vida dos eleitores,
tenham ou não estes usufruído e cumprido da responsabilidade de lá ter ido, em
dia de eleições, votar em quem queriam, ou quem não queriam, ver nesses
lugares.
Atenção que não me parece de espantar,
é-me até muito compreensível, que quem milita a sério e empenhadamente num
determinado Partido político, possa pôr, nestas guerras de cargos de poder,
primeiro o interesse do Partido e só depois os outros, com argumentos
verdadeiramente ideológicos e com impacto nas acções. Parece-me compreensível,
entenda-se, se esse primeiro interesse não tiver já tido, num nível anterior,
uma espécie de pecado original, que é o único e exclusivo interesse pessoal. E
também não estou à espera que, nos que assim resistem a esse pecado, se
encontrem uma espécie de mártires que não retirem das opções de militar num
determinado Partido benefícios vários, no que gosto de chamar uma “win-win
situation”. Até aqui a reciprocidade é um valor que muito respeito. E que
não me engana quando não o é efectivamente e se disfarça, lá está, no aviar com
uma homenagenzita, com palmadinhas nas costas ou apertados “abraços de urso”,
aqueles que são, na realidade, tácticas de luta e não demonstrações de afecto.
De facto, este XXI Governo Constitucional
português teria tanto para ensinar… Sobretudo a quem se tem deixado enganar por
quem enche a boca com a palavra “consenso” e de quem diz que só “procura
soluções”. É que até quem dizia que gostava muito da série dinamarquesa Borgen
parece que já se esqueceu do que lá se podia aprender, e distinguir, sobre o
mundo da Política e da politiquice. Nunca me vou esquecer, e espero que as boas
razões para isso se mantenham, deste governo que “casou” o seu “número” com o
século em que os meus filhos, esses também “futuro de mim”, deverão viver mais
do que eu, mas onde me sinto muito bem. Até para a semana.
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