CLÁUDIA SOUSA PEREIRA
CORRECÇÕES E INSURREIÇÕES POLÍTICAS
É
bom estar de volta às crónicas da DianaFm e continuar a pensar convosco as
andanças desta terra, seja ela cidade, região, país, continente ou habitat da
espécie humana.
O Verão foi longo, quente e fatal, tudo ingredientes para que não
tivesse senão um pinguinho de aroma a silly season, e, e… Parece que já nem num
mundo mergulhado em redes sociais a tradição das convenções supérfluas de agir
à jetset é o que era. E conseguir impor tréguas carnavalescas à seriedade do
que realmente importa torna-se difícil. Talvez até pior ainda: o que foi silly
foi o que, por força de outros calendários, e falo do eleitoral em particular,
se deveria ter mantido a sério e não conseguiu. Mas adiante, que esse assunto
está encerrado, com o povo que pôde escolher quem lhe resolva, ou tente
resolver, o problema de ao pé da porta, tão importante como o problema que
afecta a Humanidade lá mais ao longe. Daqui para a frente se construirá o
julgamento em 2021.
Nesta série de crónicas decidi alinhar não por alguma constante
que tenha estado fora das anteriores, que se fizeram à volta de
estrangeirismos, expressões populares, verbos, citações ou metáforas, mas onde
os acontecimentos suscitaram, e continuarão a suscitar, a opinião. Com a
certeza, porém, de que manterei o que sinto desde o princípio: que por ser
opinião que expresso publicamente tenho o dever de explicar os seus porquês com
argumentos que não diminuam quem os oiça com atenção; que pessoas inteligentes
perante a mesma informação podem ter opiniões diferentes e, que uma vez
explicadas nesta mesma base, não são opiniões nem intelectualmente limitadas,
nem desonestas. O que me leva também a distinguir, como é evidente, entre
opinião e carácter. Nem todos os opinativos têm bom carácter e nem todos os que
têm bom carácter têm de ser opinativos. O carácter é também o que permite, para
além da opinião, atitudes correctas ou não. E não estou a pensar fazer nenhuma
espécie de tratado de ética ou moral em fascículos, mas apenas e só a pensar
convosco o que vamos ouvindo dizer sobre o que acontece.
E para começar esta etapa em que as palavras continuam, afinal, a
estar omnipresentes (como nos estrangeirismos, nas expressões populares, nas
metáforas ou nas citações) importará perceber que, como tudo, as palavras
crescem e modificam-se sem nunca precisarem de ser desvalorizadas, nem mesmo
até, por serem de uso perigoso, ser deixadas à solta. E é por isso que importa
percebermos, e vos deixo a pensar, sobre o tanto que agora se diz sobre o
“politicamente correcto”. Lembro que na origem é uma classificação de algo ou
alguém que segue as normas estabelecidas por uma instituição oficial. E,
normalmente, quando se fala em “politicamente correcto”, qualifica-se o uso de
palavras ou o discurso que evita estereótipos ou referências a diversas formas
de discriminação existentes ainda numa sociedade em progresso, como o racismo,
o sexismo ou a homofobia. Deste conceito cria-se, através de uma lógica
discutível, a ideia do “politicamente incorrecto” em que todo o cuidado em
evitar o uso de expressões ofensivas para determinadas pessoas ou comunidades,
é desconsiderado. O discurso “politicamente incorrecto” é o comum do discurso
humorístico, legitimamente silly, portanto. E quando se opina em público é
fácil sentirmo-nos atraídos por ele. Resta saber onde acaba o humor e começa a
intolerância.
Até para a semana.
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