terça-feira, 24 de janeiro de 2017

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA DIANA/FM

                       PÓS
E Trump lá tomou posse. Com notícias de curiosidades várias, entre as quais aquelas sobre níveis de popularidade ainda, imagine-se, avaliados por sondagens. Enfim, as manifestações algo violentas num dia de festa mostraram a democracia a funcionar, o que com 200 anos, até seria sempre normal e esperemos que assim continue. Mas sem tentações de recorrer a alucinogénios que me aliviem do que promete este novo mundo (ouviu-se falar numa III Guerra Mundial), debrucei-me sobre os significados metafóricos à volta da palavra “pó”… às tantas por me parecer o diminutivo de pólvora. Sendo assim, “cheirei” ao de leve o conceito de “pós-verdade”, inspirei as estranhas convicções demonstradas, e partilhadas com uma imensa quantidade de cidadãos em todo o Mundo que, tal como Trump, cresceram em Democracia mas só lhes parecem reconhecer uns “pós” dos princípios que este regime político desenvolve; e, por último mas não menos importante, o “pó” que meio-mundo sente por outro meio-mundo, sejam ou não pertencentes a movimentos opostos.
Começo já por este “pó” que tantas vezes usamos para exprimir os nossos sentimentos relativamente a alguém e dizer, por exemplo, “Tenho-lhe um pó, que nem sei!”. São desabafos que variam de intensidade nos discursos apaixonados das redes sociais e das conversas entre amigos reais, normalmente reveladores de uma alergia ou intolerância relativamente a determinada pessoa. Tal como não costumo exprimir adorações e loas híper adjectivadas a figuras de quem só conheço e reconheço, isso sim, as qualidades públicas, não consigo ter “um pó” ao Trump. Isto ainda que o ache apalhaçado, como tantos outros que exercem cargos de poder em vários níveis, o que não lhe retira o reconhecimento de ter conseguido reunir entre os seus compatriotas o necessário para ser eleito Presidente dos EE.U. Isto diz-me é muito mais sobre a maioria deste povo que, estou convicta, está cheínho de imensas e honrosas excepções. Resumindo, o “pó” que tenho é a quem conheço bem, me destratou a mim ou a alguém dos meus, e de quem prefiro manter uma distância anti-histamínica.
Uma das razões que poderá levar a ter-se um “pó” a alguém é quando se é alvo de difamação por parte desse alguém. A difamação, afinal, pode ser o grau mais alto da consequência da “pós-verdade”, o segundo “pó” deste texto de opinião, já que a expressão, que o dicionário Oxford incluiu de novo em 2016, faz referência a circunstâncias em que os factos objectivos têm menos influência na formação de opinião, também pública e em público, do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais.
Finalmente, e por esta nova era da Democracia, a mais antiga do outro lado do Atlântico mas também a nossa jovem, parecer estar a assumir possibilidades teóricas inéditas, para o bem ou para o mal só poderemos avaliar ao fim de quatro anos de mandatos democraticamente constituídos, resta-me desejar que não se desfaçam em pó os princípios que regulam o sistema democrático. E termino com as palavras da última carta de Obama aos Americanos, o presidente que se me mostrou, juntamente com a sua Michelle, como a imagem do melhor que os EE.U configuram para mim. O que me deixará não só uma lusa pontinha de saudade, mas sobretudo uma alegria por ter conhecido durante a minha vida o mundo e aquele lugar presidido por este homem: «Quando a margem do progresso parece lenta, lembrem-se: a América não é o projecto de uma única pessoa. A palavra mais poderosa da nossa democracia é a palavra “nós”. Nós, o povo. Nós vamos vencer. Sim, nós podemos.» O que até é válido para organizações, também soi-disant democráticas, mais modestas que os EE.U ou mesmo Portugal. Até para a semana.

Cláudia Sousa Pereira 
CRONICA NÃO SUJEITA A COMENTÁRIOS.




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