Quem da minha geração não se
recorda do imponente edifício que se deparava logo à entrada em Vila Viçosa
quando vindos do Alandroal?
Quem não se recorda da
Sofal? O que talvez muitos não saibam é
a origem e serventia de tal edifício ao longo dos anos.
Tiago Salgueiro, conta-nos a história/serventia do
imóvel, e deixa uma sugestão para um futuro aproveitamento do mesmo.
Leitura obrigatória com algumas revelações que o vão surpreender!
Assistant Curator na Fundação da Casa de Bragança.
O antigo
Convento de São Paulo de Vila Viçosa (edifício da SOFAL)
Este edifício pertencia à congregação dos monges da Serra
d’Ossa, cujos eremitas adotaram, com modificações, a regra de Santo Agostinho.
A comunidade religiosa constituída recebeu a designação de Nossa Senhora do
Amparo.
Foi edificado por volta de 1590 sobre os muros a sul
da Cerca Nova, recinto fortificado do século XVI, que incluía o novo traçado
renascentista. O grande mecenas do Convento foi D. Teodósio II, 7º Duque de
Bragança, que financiou as obras de melhoramento, que duraram até 1613. A
sacristia era considerada a mais sumptuosa de Vila Viçosa.
Tinha um magnífico altar de mármore branco e uma mesa
hexagonal que se encontra atualmente no Santuário de Nossa Senhora da
Conceição. A imagem de São Paulo foi deslocada para a igreja de S. Bartolomeu.
As imagens de São José e de Nossa Senhora do Amparo
foram enriquecer o templo de Santo António. Tinha também um claustro ajardinado
com um poço no meio, assim como uma adega. Depois da extinção das Ordens
religiosas em 1834, o edifício foi adaptado a Teatro popular.
Em 1836, funciona como quartel do Regimento de
Infantaria 4.
Em 1867, é o Convento cedido pelo Estado à Câmara
Municipal, para nos seus terrenos se fazer cemitério público (Cemitério de São
José, onde se encontra atualmente a Mata Municipal).
Em 1885, os terrenos e o edificado paulista são
vendidos a um particular, sendo o montante resultante aplicado pela Câmara
Municipal na construção do novo cemitério junto à igreja de Nossa Senhora da
Conceição.
Em 1892, encontrava-se já em avançado estado de ruína.
A maior parte dos materiais arquitetónicos do Convento foi aproveitada e
encontra-se distribuída por diferentes locais de Vila Viçosa. O claustro foi
demolido na sua quase totalidade e dos seus arcos se fez a ponte do Ratinho, a
caminho de São Romão.
Em 1921, as ruínas do Convento e os terrenos a
ele pertencentes foram vendidas à SOFAL (Sociedade Fabril Alentejana), que
adaptou o edifício para refinação de azeites e para moagem de farinha. Ainda
tenho uma vaga ideia de ver a SOFAL a funcionar, pelos anos de 1981-82.
Recordo-me de ver as sacas de cereais a sair de um pequeno orifício que se
encontra na fachada do edifício, junto da estrada para o largo D. João IV.
O edifício foi adquirido posteriormente pelo
empresário Joe Berardo e passou posteriormente para a posse do BES. Encontra-se
atualmente para venda, em avançado estado de degradação.
Penso que constitui um excelente espaço para a criação
de um centro cultural, com um auditório, juntamente com um Museu de Arqueologia
Industrial, que permitisse perceber como funcionava a SOFAL na primeira metade
do século XX.
FONTE
ESPANCA, Túlio Inventário Artístico
de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas
Artes, Lisboa, 1978.
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