segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

TALVEZ NÃO SAIBA…

Quem da minha geração não se recorda do imponente edifício que se deparava logo à entrada em Vila Viçosa quando vindos do Alandroal?
Quem não se recorda da Sofal?  O que talvez muitos não saibam é a origem e serventia de tal edifício ao longo dos anos.

Tiago Salgueiro, conta-nos a história/serventia  do imóvel, e deixa uma sugestão para um futuro aproveitamento do mesmo.

Leitura obrigatória com algumas revelações que o vão surpreender!

Assistant Curator na Fundação da Casa de Bragança.

 O antigo Convento de São Paulo de Vila Viçosa                                             (edifício da SOFAL)

Este edifício pertencia à congregação dos monges da Serra d’Ossa, cujos eremitas adotaram, com modificações, a regra de Santo Agostinho. A comunidade religiosa constituída recebeu a designação de Nossa Senhora do Amparo.
Foi edificado por volta de 1590 sobre os muros a sul da Cerca Nova, recinto fortificado do século XVI, que incluía o novo traçado renascentista. O grande mecenas do Convento foi D. Teodósio II, 7º Duque de Bragança, que financiou as obras de melhoramento, que duraram até 1613. A sacristia era considerada a mais sumptuosa de Vila Viçosa.
Tinha um magnífico altar de mármore branco e uma mesa hexagonal que se encontra atualmente no Santuário de Nossa Senhora da Conceição. A imagem de São Paulo foi deslocada para a igreja de S. Bartolomeu.
As imagens de São José e de Nossa Senhora do Amparo foram enriquecer o templo de Santo António. Tinha também um claustro ajardinado com um poço no meio, assim como uma adega. Depois da extinção das Ordens religiosas em 1834, o edifício foi adaptado a Teatro popular.
Em 1836, funciona como quartel do Regimento de Infantaria 4.
Em 1867, é o Convento cedido pelo Estado à Câmara Municipal, para nos seus terrenos se fazer cemitério público (Cemitério de São José, onde se encontra atualmente a Mata Municipal).
Em 1885, os terrenos e o edificado paulista são vendidos a um particular, sendo o montante resultante aplicado pela Câmara Municipal na construção do novo cemitério junto à igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Em 1892, encontrava-se já em avançado estado de ruína. A maior parte dos materiais arquitetónicos do Convento foi aproveitada e encontra-se distribuída por diferentes locais de Vila Viçosa. O claustro foi demolido na sua quase totalidade e dos seus arcos se fez a ponte do Ratinho, a caminho de São Romão.
 Em 1921, as ruínas do Convento e os terrenos a ele pertencentes foram vendidas à SOFAL (Sociedade Fabril Alentejana), que adaptou o edifício para refinação de azeites e para moagem de farinha. Ainda tenho uma vaga ideia de ver a SOFAL a funcionar, pelos anos de 1981-82. Recordo-me de ver as sacas de cereais a sair de um pequeno orifício que se encontra na fachada do edifício, junto da estrada para o largo D. João IV.
O edifício foi adquirido posteriormente pelo empresário Joe Berardo e passou posteriormente para a posse do BES. Encontra-se atualmente para venda, em avançado estado de degradação.
Penso que constitui um excelente espaço para a criação de um centro cultural, com um auditório, juntamente com um Museu de Arqueologia Industrial, que permitisse perceber como funcionava a SOFAL na primeira metade do século XX.

FONTE
ESPANCA, Túlio Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Évora, Zona Sul, vol. I, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978.

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