Quinta, 01 Dezembro 2016
A polémica em torno da
administração da Caixa Geral de Depósitos e as posições que foram sendo
assumidas e publicitadas sobre o assunto, deverá tornar-se num caso de estudo
sobre como o populismo bem manipulado pode levar a consequências negativas,
parecendo que se está a perseguir um objectivo de justiça.
Como nos livros policiais, aqui também é necessário
descobrir a quem aproveita o crime, para se perceber quem são os suspeitos mais
prováveis.
É óbvio e evidente que
o liberalismo reinante nunca engoliu a existência de um banco público. Só
alguém muito distraído poderá não perceber que o principal objectivo de PSD e
CDS com a questão da declaração de rendimentos é a fragilização do banco
público para abrir caminho à sua privatização.
Imaginam o PSD
preocupado com a promiscuidade entre gestão pública e negócio privado? Imaginam
o CDS preocupado com o valor do salário de um banqueiro? Claro que não. Seria
necessária demasiada imaginação.
O governo cometeu
erros de palmatória, o banqueiro esteve-se nas tintas para o interesse público
e entendeu que a defesa da sua posição pessoal era mais importante e os
justiceiros anónimos foram atrás de frases incompletas, meias verdades e
sentimentos de injustiça.
Li e ouvi, gente que
não admite que se metam na sua vida (e bem) a querer conhecer os rendimentos e
os interesses dos administradores da Caixa. A questão deixava de ser a entrega
da declaração para passar a ser a publicidade da mesma.
A onda foi crescendo,
alimentada convenientemente pela comunicação social do costume, até se tornar
tão grande que a tentação de a cavalgar se tornou, para alguns, impossível de
resistir.
Que fique claro,
entendo que os administradores deveriam ter enviado as declarações de
interesses e rendimentos ao Tribunal Constitucional e acho indecoroso o salário
negociado com o banqueiro que preside ao conselho de administração.
Mas alinhar numa
campanha de desestabilização do banco público com o objectivo de cavalgar uma
onda de popularidade imediata, parece-me não fazer qualquer sentido.
O resultado está à
vista, com a Caixa passar por maiores dificuldades e alguns a salivarem perante
a possibilidade de abocanharem os restos do banco público.
Muito se fala de
populismos crescentes por esse mundo fora, que a eleição de Trump parece ter
ajudado a multiplicar.
Lamentam-se e não
aprendem nada com o que vão observando, continuando a guiar a sua acção pelo
que parece um ganho político imediato alicerçado na exploração de um sentimento
generalizado de injustiça.
Esquecem-se que quem
forma as ondas onde gostam de surfar, são os donos deste mundo, que vão
manipulando os surfistas da “popularidade” enquanto deles precisarem.
Até para a semana
Eduardo Luciano
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