ERA OUTONO NA RENDEIRA
Mote
Era Outono na Rendeira
E noutra altura as bolotas
Comiam-se de ginjeira
Numa cesta às cambalhotas
I
Eram assadas ao lume
E em modos de conversa
Nunca ninguém tinha pressa
E nem havia queixume
Nem inveja nem ciúme
Lá de roda da lareira
Em modos de brincadeira
Dava-nos tanta alegria
Trincar esta iguaria
Era Outono na Rendeira
E em modos de conversa
Nunca ninguém tinha pressa
E nem havia queixume
Nem inveja nem ciúme
Lá de roda da lareira
Em modos de brincadeira
Dava-nos tanta alegria
Trincar esta iguaria
Era Outono na Rendeira
II
Levava um livro e caderno
Estando ao lado uma mesa
Na lareira sempre acesa
No meio um abraço terno
Nas primícias do Inverno
Nas conversas entre portas
Até para atar as botas
Havia tempo e vagar
Para castanhas a assar
E noutra altura as bolotas.
Levava um livro e caderno
Estando ao lado uma mesa
Na lareira sempre acesa
No meio um abraço terno
Nas primícias do Inverno
Nas conversas entre portas
Até para atar as botas
Havia tempo e vagar
Para castanhas a assar
E noutra altura as bolotas.
III
E já com laivos de fome
Comíamos as castanhas
Umas normais outras estranhas
As bolotas de seu nome
E de landes sobrenome
Que até na algibeira
As guardavam com maneira
Quer ou cruas ou cozidas
As tais castanhas compridas
Comiam-se de ginjeira.
E já com laivos de fome
Comíamos as castanhas
Umas normais outras estranhas
As bolotas de seu nome
E de landes sobrenome
Que até na algibeira
As guardavam com maneira
Quer ou cruas ou cozidas
As tais castanhas compridas
Comiam-se de ginjeira.
IV
As tais filhas do carvalho
Fálicas acastanhadas
Do sobreiro aparentadas
Deram-me grande trabalho
Com dois sacos e um malho
Saltei o muro das hortas
Uma tranca e duas portas
Pendurei-me na azinheira
Com os pés na amendoeira
Numa cesta às cambalhotas.
As tais filhas do carvalho
Fálicas acastanhadas
Do sobreiro aparentadas
Deram-me grande trabalho
Com dois sacos e um malho
Saltei o muro das hortas
Uma tranca e duas portas
Pendurei-me na azinheira
Com os pés na amendoeira
Numa cesta às cambalhotas.
Vítor Pisco
09/11/2016 (imagem retirada do Google)
09/11/2016 (imagem retirada do Google)
1 comentário:
OBS.
Fiz aqui um brevíssimo exercício de acompanhamento sobre uma coisa coisa
que afinal conhecemos como a palma das mãos: A Rendeira.
Fi-lo, creio que se perdeu mas foi na Rendeira que passei uma parte da
adolescência dado que o meu padrinho (J.N.Carvalho) era lá o Feitor.
Sim, os lumes acesos e luminosos que descreve,as castanhas e bolotas
que se assavam, entre todos e para todos, são marcas humanas que não se
esquecem.
Permito-me assim partilhar, consigo, a beleza certeira desta sua
descrição que, ainda por cima, tem um certo e encantatório sabor
narrativo e poético.Bonito!
Cumprimentos
Antonio Neves Berbem
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