segunda-feira, 12 de setembro de 2016

HERÓIS DA HISTÓRIA DO ALANDROAL – DIOGO LOPES DE SEQUEIRA - 1ª Parte

Quando do almoço/convívio dos antigos alunos do Externato Diogo Lopes de Sequeira, o ex-aluno, Mestre António José Neves Berbém , em colaboração com a Professora Luísa Mira, proferiu uma palestra versando a história do Herói Nacional que deu o nome aquela Instituição e que na actualidade se mantem na estrutura publica de ensino do Alandroal.

Em rigoroso exclusivo o Al Tejo, hoje e amanhã, vai aqui transcrever a referida comunicação, agradecendo ao Autor a cedência da mesma.
Chico Manuel

DIOGO  LOPES  SEQUEIRA 
Plano:
(a) Notas prévias; (b) Dados pessoais/ Genealogia; (c) Relações com Afonso de Albuquerque; (d) O que fez Diogo Lopes Sequeira com a sua longa vida; (e) Em Elvas e Badajoz; (f) Conclusões
 (a) 
Começamos por agradecer à organização deste “Almoço dos Antigos Alunos do Externato Diogo Lopes Sequeira”, o Convite para estarmos aqui presentes e para entretecer umas breves considerações sobre a vida e obra de D.L. Sequeira.
Assim como agradecemos as palavras amáveis de apresentação da Luísa Mira, uma excelente colega e, tanto quanto sabemos, uma Professora e Formadora deveras dedicada e competente ao longo da sua carreira profissional.
  Dito isto, vamos lembrar que o Alandroal é uma terra com “o benefício e a sorte histórica” de ser mencionada, directa e indirectamente, duas vezes nos Lusíadas de Camões, essa obra fabulosa da literatura e poesia universal onde aparece lá tudo ( e as orações por dividir).
No Canto VIII, Estância 33, e no Canto X, Estância 52, estão as referências a Pero Rodrigues, amigo de grande confiança pessoal de D. João I, o Mestre de Avis; e a Diogo Lopes Sequeira que foi também Amigo pessoal de Afonso de Albuquerque, o grande visionário e construtor do Império português na Índia.      
  Uma segunda nota prévia, vai para o facto de termos de esclarecer que não somos especialistas da “História da Expansão e Descobrimentos” dado que a nossa especialização se integra principalmente na área  das Relações Internacionais da época contemporânea, séculos XIX e XX.
Ainda assim, dizemos que tivemos o privilégio  de ter como Professor  António Borges Coelho que é um grande conhecedor desta época áurea e moderna da história portuguesa.
 Como terceira nota, vamos também salientar que tudo aquilo que dissermos decorre da leitura e Bibliografia do Dicionário de História de Portugal, sob a direcção de Joel Serrão; da História de Portugal de Damião de Peres, de “Os Descobrimentos Portugueses” de Jaime Cortesão. E ainda, claro está, do conhecimento que temos da importância das obras de Vitorino Magalhães Godinho e de Luís de Albuquerque.
Mais recentemente, está em publicação uma nova História de Portugal, na “Esfera do Mundo”, da autoria de António Borges Coelho  que vem sendo escrita de uma forma  bastante sugestiva. Uma obra que recomendamos vivamente .
Importa, porém, salientar que o grande especialista da Historia dos Descobrimentos é, em nossa opinião, Jaime Cortesão que foi também Director da Biblioteca Nacional. Pesquisador incansável das Fontes primárias, o modo de fazer e construir historia a sério.
 Como uma última nota prévia, adiantamos que o Alentejo ainda “que quase não tenha mar”, deu grandes asas e personagens aos Descobrimentos.
Basta recordar que Vasco da Gama cujos avós paternos seriam de Elvas com parentes em Olivença, foi escolhido para a sua primeira viagem à Índia, em Janeiro de 1497, estando o Rei D. Manuel em Estremoz. Isto enquanto a empresa- viagem à Índia terá ficado decidida em Montemor.
Como sabem Vasco da Gama,  nasceu em Sines, onde o pai Estevão da Gama, casado com D. Isabel de Sodré, está atestado como Alcaide de Sines e Comendador do Cercal.
Acrescentemos, a Vaco da Gama, o nome de Pedro Nunes, o astrónomo português de Alcácer do Sal que foi autor de vários tratados de navegação, o inventor do Astrolábio e comentador da obra do polaco N. Copérnico enfrentando o poder espiritual e material enorme  da Igreja e dos Papas de Roma.
Resta pois, pôr em evidência, Diogo Lopes Sequeira, que partiu, daqui, do Alandroal, para ser Comandante de várias Armadas e Vice-Rei da Índia ao lado dessa outra grande personagem da História de Portugal, chamada Afonso de Albuquerque.          
     
(b) Diogo Lopes Sequeira
     - Vamos reparar que nasceu aqui em 1465/66 e faleceu em 1530. Filho de Lopo Vaz de Sequeira, Alcaide mor do Alandroal e de D. Cecília de Meneses.
Casou duas vezes. A primeira vez com Maria de Vilhena e depois com Maria Freire de Andrade.
Teve 5 filhos: Lopo Vaz de Sequeira, António Lopes de Sequeira, Isabel de Sequeira, Branca de Vilhena e ainda Diogo Lopes de Sequeira que foi também Alcaide mor.
Irmãos contam-se três e chamavam-se: Maria de Meneses, João Lopes de Sequeira e António de Sequeira.
Em termos físicos, a crer nas descrição dos Vice Reis ( de Manuel Faria de Sousa) era um homem da época, um tanto entroncado e porventura mais alto do que baixo ( tipo Joaquim Martins que também foi, por cá, Alcaide. Usava, claro está, vestes e longas barbas como sinal de respeito e autoridade. Muito usadas nas teocracias árabes.
Importa deixar assinalado que, só após a sua morte, foi elevado à  categoria de Vice Rei como era usual e aconteceu com Afonso de Albuquerque.

 (c) As relações de Diogo Lopes  Sequeira com Afonso de Albuquerque
     - Como é conhecido, Afonso de Albuquerque, foi descrito pelos cronistas da época como um notável e destemido navegador e um príncipe do Renascimento. O grande construtor do Imperio na Índia. Senhor de Vila Verde dos Francos, discípulo de Pedro Nunes, Camões dedica-lhe inteira, a Estância 40 do Canto X.
Católico fervoroso, devoto da Ordem de Santiago de cuja ordem era Cavaleiro, tinha escolhido como seu modelo e prestígio de conquistador e guerreiro, Alexandre, o Grande,  sabendo-se que chegou mesmo a planear em segredo (com D. Manuel) a reconquista da Terra Santa.
Lobo e cabo de batalhas navais e de guerras marítimas temível, politico de vistas largas, diplomata capaz de todas as astúcias e finuras, era também  (e para que se saiba) um pouco comediante e grande orador. Os seus relatórios e cartas ao Rei, são consideradas obras primas de Estadista de tão bem escritas que eram.
Desinteressado de riquezas imediatas, austero, justiceiro, a sua vida de Conquistador /Almirante dos mares orientais, foi também marcada por crimes de guerra hediondos. Embora depois na paz se mostrasse afável e cortês.
INIMIGO feroz do ISLÃO chegou a projectar  – Imaginem – a ideia e o acto de destruir Meca e roubar o corpo do Profeta Maomé.
Afonso de Albuquerque, contemporâneo de Diogo Lopes Sequeira, morreu aos 53 anos (em 16/ 12/1515) deixando fortalezas e feitorias nos portos e enclaves estratégicos fundamentais da Índia, como Ormuz, Goa, Malaca, Calicut, Cananor (onde chegou a estar preso por ordem de D. Francisco de Almeida) e Cochim, praças fortes onde se negociavam  as especiarias do Oriente. Desde a pimenta à canela ao gengibre e à lucrativa escravatura.
À sua morte, o seu prestígio era tal que todos os reinos e potentados muçulmanos e indianos da época procuravam estar em paz com ele. Desde os reinos de Cambaia, de Java  até  à China.
Doente, desiludido, amargurado, deixou como testamento espiritual a célebre frase: “ Morro,  mal com El-rei por amor dos homens, e mal com os homens por amor de El-rei” depois de pedir protecção para o seu filho, D. Braz de Albuquerque .
Perdida ficava também a hipótese de criar uma nova raça luso-indiana através dos casamentos entre as bailarinas indianas e os deslavados portugueses.    
Descontada a cena escabrosa de «já morto» ser levado num palanque pelas ruas de Goa com os olhos abertos perante os choros e lamentações da população, o que se impõe dizer é que foi  ao grande  Afonso de Albuquerque (depois do curto governo sem brilho da Índia  exercido por Lopo Soares de Albergaria até 1518)  que  Diogo Lopes Sequeira sucedeu.

(Final amanhã)

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Dr. Berbém, não se sabe a data de nascimento do Diogo Lopes Sequeira? Será que se pode encontrar em algum lado? Tipo torre do tombo?

Obrigado

Anónimo disse...


OBS.

Caro Comentador(a)


Tem razão na questão colocada.O acertado seria apontar para uma data

unica.Todavia, do conjunto de fontes consultadas,não se pode retirar uma

data indiscutida.Assim sendo,à cautela,indicaram-se as duas

alternativas.


A título de exemplo,repare,que das três datas prováveis para o nascimento

de Vasco da Gama nenhuma está ainda definitivamente fixada entre os

historiadores.O mesmo se poderia dizer de Camões quanto ao seu local de

nascimento.

Melhores cumprimentos


António Neves Berbem