Quando do almoço/convívio dos antigos alunos do Externato
Diogo Lopes de Sequeira, o ex-aluno, Mestre António José Neves Berbém , em
colaboração com a Professora Luísa Mira, proferiu uma palestra versando a
história do Herói Nacional que deu o nome aquela Instituição e que na
actualidade se mantem na estrutura publica de ensino do Alandroal.
Em rigoroso exclusivo o Al Tejo, hoje e amanhã, vai aqui transcrever
a referida comunicação, agradecendo ao Autor a cedência da mesma.
Chico Manuel
DIOGO
LOPES SEQUEIRA
Plano:
(a) Notas prévias; (b) Dados pessoais/ Genealogia; (c)
Relações com Afonso de Albuquerque; (d) O que fez Diogo Lopes Sequeira com a
sua longa vida; (e) Em Elvas e Badajoz; (f) Conclusões
(a)
Começamos por agradecer à organização deste “Almoço
dos Antigos Alunos do Externato Diogo Lopes Sequeira”, o Convite para estarmos
aqui presentes e para entretecer umas breves considerações sobre a vida e obra
de D.L. Sequeira.
Assim como agradecemos as palavras amáveis de
apresentação da Luísa Mira, uma excelente colega e, tanto quanto sabemos, uma Professora
e Formadora deveras dedicada e competente ao longo da sua carreira
profissional.
Dito isto, vamos
lembrar que o Alandroal é uma terra com “o benefício e a sorte histórica” de
ser mencionada, directa e indirectamente, duas vezes nos Lusíadas de Camões,
essa obra fabulosa da literatura e poesia universal onde aparece lá tudo ( e as
orações por dividir).
No Canto VIII, Estância 33, e no Canto X, Estância 52,
estão as referências a Pero Rodrigues, amigo de grande confiança pessoal de D. João
I, o Mestre de Avis; e a Diogo Lopes Sequeira que foi também Amigo pessoal de
Afonso de Albuquerque, o grande visionário e construtor do Império português na
Índia.
Uma segunda
nota prévia, vai para o facto de termos de esclarecer que não somos
especialistas da “História da Expansão e Descobrimentos” dado que a nossa especialização
se integra principalmente na área das
Relações Internacionais da época contemporânea, séculos XIX e XX.
Ainda assim, dizemos que tivemos o privilégio de ter como Professor António Borges Coelho que é um grande conhecedor
desta época áurea e moderna da história portuguesa.
Como terceira
nota, vamos também salientar que tudo aquilo que dissermos decorre da leitura e
Bibliografia do Dicionário de História de Portugal, sob a direcção de Joel
Serrão; da História de Portugal de Damião de Peres, de “Os Descobrimentos
Portugueses” de Jaime Cortesão. E ainda, claro está, do conhecimento que temos da
importância das obras de Vitorino Magalhães Godinho e de Luís de Albuquerque.
Mais recentemente, está em publicação uma nova
História de Portugal, na “Esfera do Mundo”, da autoria de António Borges
Coelho que vem sendo escrita de uma
forma bastante sugestiva. Uma obra que recomendamos
vivamente .
Importa, porém, salientar que o grande especialista da
Historia dos Descobrimentos é, em nossa opinião, Jaime Cortesão que foi também
Director da Biblioteca Nacional. Pesquisador incansável das Fontes primárias, o
modo de fazer e construir historia a sério.
Como uma última
nota prévia, adiantamos que o Alentejo ainda “que quase não tenha mar”, deu
grandes asas e personagens aos Descobrimentos.
Basta recordar que Vasco da Gama cujos avós paternos
seriam de Elvas com parentes em Olivença, foi escolhido para a sua primeira
viagem à Índia, em Janeiro de 1497, estando o Rei D. Manuel em Estremoz. Isto
enquanto a empresa- viagem à Índia terá ficado decidida em Montemor.
Como sabem Vasco da Gama, nasceu em Sines, onde o pai Estevão da Gama,
casado com D. Isabel de Sodré, está atestado como Alcaide de Sines e Comendador
do Cercal.
Acrescentemos, a Vaco da Gama, o nome de Pedro Nunes,
o astrónomo português de Alcácer do Sal que foi autor de vários tratados de
navegação, o inventor do Astrolábio e comentador da obra do polaco N. Copérnico
enfrentando o poder espiritual e material enorme da Igreja e dos Papas de Roma.
Resta pois, pôr em evidência, Diogo Lopes Sequeira,
que partiu, daqui, do Alandroal, para ser Comandante de várias Armadas e
Vice-Rei da Índia ao lado dessa outra grande personagem da História de
Portugal, chamada Afonso de Albuquerque.
(b) Diogo Lopes Sequeira
- Vamos
reparar que nasceu aqui em 1465/66 e faleceu em 1530. Filho de Lopo Vaz de
Sequeira, Alcaide mor do Alandroal e de D. Cecília de Meneses.
Casou duas vezes. A primeira vez com Maria de Vilhena
e depois com Maria Freire de Andrade.
Teve 5 filhos: Lopo Vaz de Sequeira, António Lopes de
Sequeira, Isabel de Sequeira, Branca de Vilhena e ainda Diogo Lopes de Sequeira
que foi também Alcaide mor.
Irmãos contam-se três e chamavam-se: Maria de Meneses,
João Lopes de Sequeira e António de Sequeira.
Em termos físicos, a crer nas descrição dos Vice Reis
( de Manuel Faria de Sousa) era um homem da época, um tanto entroncado e
porventura mais alto do que baixo ( tipo Joaquim Martins que também foi, por cá,
Alcaide. Usava, claro está, vestes e longas barbas como sinal de respeito e
autoridade. Muito usadas nas teocracias árabes.
Importa deixar assinalado que, só após a sua morte,
foi elevado à categoria de Vice Rei como
era usual e aconteceu com Afonso de Albuquerque.
(c) As relações
de Diogo Lopes Sequeira com Afonso de
Albuquerque
- Como é
conhecido, Afonso de Albuquerque, foi descrito pelos cronistas da época como um
notável e destemido navegador e um príncipe do Renascimento. O grande
construtor do Imperio na Índia. Senhor de Vila Verde dos Francos, discípulo de
Pedro Nunes, Camões dedica-lhe inteira, a Estância 40 do Canto X.
Católico fervoroso, devoto da Ordem de Santiago de cuja
ordem era Cavaleiro, tinha escolhido como seu modelo e prestígio de
conquistador e guerreiro, Alexandre, o Grande,
sabendo-se que chegou mesmo a planear em segredo (com D. Manuel) a
reconquista da Terra Santa.
Lobo e cabo de batalhas navais e de guerras marítimas temível,
politico de vistas largas, diplomata capaz de todas as astúcias e finuras, era
também (e para que se saiba) um pouco
comediante e grande orador. Os seus relatórios e cartas ao Rei, são
consideradas obras primas de Estadista de tão bem escritas que eram.
Desinteressado de riquezas imediatas, austero,
justiceiro, a sua vida de Conquistador /Almirante dos mares orientais, foi
também marcada por crimes de guerra hediondos. Embora depois na paz se
mostrasse afável e cortês.
INIMIGO feroz do ISLÃO chegou a projectar – Imaginem – a ideia e o acto de destruir
Meca e roubar o corpo do Profeta Maomé.
Afonso de Albuquerque, contemporâneo de Diogo Lopes
Sequeira, morreu aos 53 anos (em 16/ 12/1515) deixando fortalezas e feitorias nos
portos e enclaves estratégicos fundamentais da Índia, como Ormuz, Goa, Malaca,
Calicut, Cananor (onde chegou a estar preso por ordem de D. Francisco de
Almeida) e Cochim, praças fortes onde se negociavam as especiarias do Oriente. Desde a pimenta à
canela ao gengibre e à lucrativa escravatura.
À sua morte, o seu prestígio era tal que todos os
reinos e potentados muçulmanos e indianos da época procuravam estar em paz com
ele. Desde os reinos de Cambaia, de Java até à
China.
Doente, desiludido, amargurado, deixou como testamento
espiritual a célebre frase: “ Morro, mal
com El-rei por amor dos homens, e mal com os homens por amor de El-rei” depois
de pedir protecção para o seu filho, D. Braz de Albuquerque .
Perdida ficava também a hipótese de criar uma nova
raça luso-indiana através dos casamentos entre as bailarinas indianas e os
deslavados portugueses.
Descontada a cena escabrosa de «já morto» ser levado
num palanque pelas ruas de Goa com os olhos abertos perante os choros e
lamentações da população, o que se impõe dizer é que foi ao grande Afonso de Albuquerque (depois do curto governo
sem brilho da Índia exercido por Lopo
Soares de Albergaria até 1518) que Diogo Lopes Sequeira sucedeu.
(Final amanhã)
2 comentários:
Caro Dr. Berbém, não se sabe a data de nascimento do Diogo Lopes Sequeira? Será que se pode encontrar em algum lado? Tipo torre do tombo?
Obrigado
OBS.
Caro Comentador(a)
Tem razão na questão colocada.O acertado seria apontar para uma data
unica.Todavia, do conjunto de fontes consultadas,não se pode retirar uma
data indiscutida.Assim sendo,à cautela,indicaram-se as duas
alternativas.
A título de exemplo,repare,que das três datas prováveis para o nascimento
de Vasco da Gama nenhuma está ainda definitivamente fixada entre os
historiadores.O mesmo se poderia dizer de Camões quanto ao seu local de
nascimento.
Melhores cumprimentos
António Neves Berbem
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