Uma educação para a liberdade
J.
Krishnamurti
(in “Será que a Humanidade pode mudar?” )
Paulo Freire (pedagogo brasileiro
bastante conhecido, face à análise que fez incidir sobre a Educação e a
Sociedade latino-americana) regista, ao acentuar o papel da Educação na
conscientização das sociedades, o seguinte: «na minha opinião a educação para a
liberdade implica, constantemente, permanentemente, o exercício da consciência,
voltando-se para si mesma com vista a descobrir-se a si própria nas suas
relações com o mundo, tentando explicar as razões que possa esclarecer a
situação concreta do homem no mundo. Mas isto não é suficiente. É importante
salientar que a reflexão por si só não é suficiente para o processo da
libertação. Nós precisamos da actuação, ou, por outras palavras, precisamos de transformar a realidade
em que estamos inseridos. Mas, para transformar a realidade, para desenvolver a
minha acção sobre a realidade, transformá-la, é necessário conhecer essa mesma
realidade. Em função disto a minha “praxis” é, necessária e constantemente, a
unidade entre a minha acção e a minha reflexão.»
E Paulo Freire, no âmbito do seu
propósito de criar um cidadão livre (porque consciente), propõe - com
vista a uma democratização autêntica
- que a mudança não será uma
realidade senão quando forem implantados um conteúdo, uma concepção e
estruturas educativas radicalmente novas
- que implicariam uma concepção
nova de educação (que não seria uma mera transmissão de conhecimentos), que
pressuporia um desenvolvimento da capacidade criadora ao aluno; na mesma
propondo um conteúdo novo na medida em que não for estático -
antes respondendo às exigências
da realidade dinâmica do aqui e agora; defendendo ainda a criação de
estruturas novas que representem instituições marcadas por dimensões abertas,
comunitárias e dialogais (em vez de sistemas de domínio e dirigismo
pedagógico) – numa concepção pedagógica que não apenas
liberte e se liberte dos esquemas de domínio, mas que liberte as energias
criadoras e critico-reflexivas do Homem, de forma a que chegue a ser uma pessoa
comprometida com os outros na mudança das estruturas; na mesma preconizando que
a escola se deve abrir a uma pluralidade de opções, na perspectiva de formação
integral do Homem. Por outro lado, referenciando a importância do livro e da
leitura na formação integral do Homem (e assim, logicamente, participando na
construção da sua Liberdade), refere Dietrich Schwanitz (in “Cultura - o Poder da Linguagem e da Escrita”) que numa
época em que a comunicação oral ganha terreno ignoram o carácter modelar da
linguagem escrita, aquelas crianças afastadas do prazer da leitura: constatando
ainda o ensaísta que apenas adquirem o hábito de leitura e de escrita as
crianças de famílias que consideram estas actividades naturais e
imprescindíveis: as crianças das camadas cultas da burguesia. Nos ambientes familiares
em que os pais vigiam o consumo televisivo dos filhos, limitando-o e
contribuindo para que os filhos comecem a satisfazer as necessidades da
imaginação com os livros - preconizando, nomeadamente, que as crianças
só deveriam ver televisão quando a leitura deixasse de ser para elas uma
actividade penosa; caso contrário, a leitura será uma actividade fastidiosa
durante toda a vida. Quem assim cresceu
- diz-nos Schwanitz - mais tarde, não lê mais do que o estritamente
necessário e a contragosto. E, acrescenta o comentarista, deste modo a política
educacional está a produzir duas classes: de um lado, encontram-se os que têm
hábitos de leitura, absorvem novas informações e estão acostumados a estruturar
ideias tendo como modelo a escrita, o que lhes permite entender a construção da
oração, a lógica do pensamento que nela se manifesta e os elementos que a
compõem. Ao mesmo tempo, adquirem capacidades para formar diferentes tipos de
textos (relatórios, exposições, análises, contos, ensaios, etc.); tudo isto
lhes proporcionando maior facilidade na escrita e lhe permite estruturar a
expressão oral segundo o modelo dos textos escritos. Os outros, segundo o autor
do comentário, só lêem quando são obrigados e, se o não forem, vêem televisão -
encarando o livro como impertinência e não compreendem quem os lê,
desconfiam deles. Diz-nos o comentário que vimos referindo que «não temos de
ler todos os livros que nos caem nas mãos do princípio ao fim”. Mas,
logicamente, na opção de escolha de uma leitura, pesa bastante o nosso gosto
literário, a que acrescerá o hábito de leitura, a oportunidade de a fazer - a
que se junta - logicamente
- a “mais valia” cultural do
livro (atendendo ao princípio de Pascal de que «mais vale uma cabeça bem
formada, do que uma bem recheada!»)
E, no âmbito das ideias que vimos
referindo, achámos pertinente transcrever, de uma recente publicação do jornal
“Público”, a opinião de um leitor do jornal
- a focar a importância da
Educação, do Conhecimento enquanto alicerces do crescimento das Sociedades;
mas, diz-nos ele: «A importância do Conhecimento supera a da Educação. Li algo
parecido com isto num texto, espero não estar errado, de Hemimgway. Agora que
já vivi alguns anos mais, cada vez mais me
parece encontrar uma possibilidade positiva dessa importância a do
Conhecimento. Vem a propósito da apologia que, por vezes, se faz dos povos de
Leste. Um povo frio com alguma antipatia à mistura. Numa breve incursão nas
terras e costumes deste povo, verifico a sua sagacidade no Conhecimento (...)
Estamos muito preocupados, quase sempre, com a ideia de Educação (...) Esquecemo-nos de que sem
Conhecimento a Educação não serve para nada.»
Educação, Conhecimento, Arte,
Literatura, Ciência - tudo realidades que enformam o Humanismo,
enquanto suportes do crescimento do Ser Humano: realidades distribuídas ainda,
infelizmente, de forma tão díspar ao longo da Terra (apesar de nascerem do
Homem e para o Homem) - constatação assente em grande parte no
egocentrismo economicista do ser humano: lembrando-me, a propósito, do reparo
oportuno de Virgínia Woolf: «Não podemos pensar bem, amar bem, dormir bem, se
não tivermos jantado bem».
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