Terça, 31 Maio 2016
Passado meio ano de
governação do Partido Socialista suportada no Parlamento pelos chamados
Partidos da esquerda radical farei, em três partes e a começar hoje, algumas
considerações sobre o que considero ser mais um aspecto da Democracia que
merece algum investimento do cidadão contribuinte e votante, quanto mais não
seja em atenção e atitude crítica.
Note-se que uma atitude crítica não significa aqui forçosamente discordar,
mas sim formar uma opinião com o maior número de dados e a melhor informação
possível, o que pode ser logo um princípio de “conversa” difícil. Mas antes de
começar importa que eu faça uma declaração de interesses: o tema é a oposição e
eu pertenço agora a esse lado do sistema político, no caso local, eleita como
independente numa lista do Partido Socialista, sendo oposição do Partido
Comunista e não, seguramente, numa mesma oposição do Vereador eleito pela
coligação PSD/CDS. Situação que se prefigura estranha quando apenas fazemos
comparações, pouco ponderadas, entre Partidos como se de Clubes se tratassem
mas que, como associações de ideologia e acção políticas com princípios
escritos em declarações com que os que neles militam se reveem e com
responsabilidades na gestão da vida de todos nós, serão certamente muito mais
do que lugares comuns de paixões atávicas.
Importa mesmo, e
ainda, que se saiba que estou consciente de duas coisas: a primeira é a de que
um eleito deve aos que o elegeram fazer cumprir os princípios com que concorreu
às eleições, sendo que na oposição muito dessa acção não conseguirá ir mais
além do que tentar que quem está na governação não tenha uma acção que se
considere nefasta, sempre em relação aos princípios que se assumiram e que
foram a votos, para os interesses dos cidadãos em geral; a segunda certeza que
também tenho é a de que, na posição que ocupava na lista concorrente à
governação do Município de Évora, os votos obtidos não chegaram para que eu
tivesse sido directamente eleita, só tendo assumido as funções de Vereadora da
oposição por renúncia ao cargo de quem estava antes. Estas questões que parecem
pormenores não devem, no entanto e na minha opinião, ser esquecidas por quem no
sistema eleitoral em vigor na nossa Democracia se desloque às urnas quando é
chamado a fazê-lo. Somos tentados, de forma quase natural (não o sendo já que
tudo é normalmente muito bem encenado para tal), a pensar que apenas votamos
nos primeiros de uma lista. De facto, só ao cargo de Presidente da República
cabe esse peso e responsabilidade solitária. Tudo o resto é trabalho de equipa,
em que as lideranças, para o bem e para o mal, são no entanto fundamentais.
Para desenvolver este
tema da oposição, e para cumprir o que no início desta série de crónicas que se
vai aproximando dos tempos de vilegiatura, que é como quem diz em férias e
ausente deste espaço da palavra em público, vou desde já, nesta crónica
introdutória sobre o tema, citar não uma mas duas constatações de Vergílio
Ferreira que me serviram de mote ao tríptico. Na primeira o filósofo e escritor
diz que «A pátria, como tudo, és tu. Se for também a do teu adversário
político, é já problemático haver pátria que chegue para os dois.». Na outra
afirmação, não forçosamente aplicada à área da Política, Vergílio constata que
«Não se tem simpatia se não houver seja o que for de admiração: tem-se apenas
tolerância ou piedade.». Uma e outra serão, pois, o mote para as duas crónicas
que se seguem.
Poderemos começar a adivinhar que isto da Política no século XXI afinal
rima com toda a conversa dos afectos, das inteligências emocionais, uma espécie
de descoberta e fúria de teorização e empirismo do que, há muito, as figuras
que ficaram como proeminentes na História Universal do Homem, sabiam exactamente
como ir gerindo consoante aqueles a quem se propunham servir. E como todos
sabemos, na galeria dessas figuras há de tudo, do criminoso ao cidadão-modelo,
e em matizes diferentes, e que se chegaram a sê-lo foi muito graças a acções e
atitudes de quando, antes de governar, tiveram na oposição. Mas se não tivessem
saído dela, provavelmente, não teriam tido a oportunidade de marcar a História.
Para o bem e para o mal.
Até para a semana.
Cláudia Sousa Pereira
Sem comentários:
Enviar um comentário